Samuel teve uma sensação estranha de tudo aquilo estar se repetindo, enquanto caminhava ao lado de Jota. Um déjà vu repentino, que fazia parecer tudo em câmera lenta. Foi tirado do transe pelo amigo.
– E aí Sam? Vamos ou não? Tô com fome de sanduíche.
– Sei lá, Jota, bateu um desânimo, acho que vou pra casa.
– Bem a tua cara. Sempre dando pra trás.
– E aí, vocês vão fazer o que agora? - Kate chegou furtiva e parou imóvel do lado de Sam, segurando cadernos com os braços enquanto olhava para os dois com um meio sorriso divertido.
– Se depender do Sam, ver a vida passar contemplativamente – disse Jota.
– Deixa de ser rabugento Jota – falou Kate. – E aí Sam, 'bora comer alguma coisa? Queria trocar umas ideias de Semiótica contigo antes de a gente começar o trabalho.
– Caraca, vocês acabaram de sair da aula. Mudem a chavezinha no cérebro.
– O Jota é assim mesmo Kate, interesse localizado, não dura mais do que o espaço da sala de aula.
– Nem, não dura nem no espaço da sala de aula. Pronto, fui, se quiserem me sigam.
– Ok pentelho. Mas antes vamos dar uma passada rápida lá em casa, quero pegar meu mac.
– Beleza, Apple boy - disse Jota, com uma risada.
– Ah cara, nem vou entrar de novo nesse debate. Macs são melhores. Ponto.
– Não, meu lápis e papel são melhores.
– Meninos, não briguem. Não tem problema ser um garotinho Apple, Sam. Só não comece a usar jeans e camisa preta todos os dias, e você vai ficar bem.
Sam emburrou enquanto os amigos riam, em meio a pedidos insinceros de desculpas. Ele morava do lado da Universidade. Uns 15 minutos a pé do centro de Ciências Sociais da UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina.
Comunicação Social era um curso recente, e o único que despertou o interesse de Sam e Jota, devido ao gosto por arte, desenho gráfico e afins: queriam trabalhar com criação e aquele parecia o caminho mais óbvio. Pra alegria de Sam, Kate - que estudou com ele o colegial inteiro, também optou como segunda opção pelo curso. Psicologia havia sido a primeira opção, mas ela estranhamente não passou.
– Vocês dois não acham que a única disciplina que valeu até agora foi essa?
– Essa qual?
– Semiótica, Jota. Ah, desculpe, você estava na Jotalândia durante as duas horas que a professora apresentou aquela fascinante visão de mundo.
– Nanã dona Kate, pela primeira vez uma aula me interessou de verdade. Mas, sei lá, eu tô meio perdido ainda com tudo isso de faculdade.
Kate suspirou e olhou com um misto de graça e indignação para Jota.
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Beyonders: indo além - livro 1, A Tríade
FantasiaA vida humana segue as leis desse universo material, um código de manifestação complexo, mas limitado. Porém alguns extrapolam o comum e representam todo o potencial humano, além do tecido ilusório da realidade que nos cerca e dos meros sentidos fís...