Visita

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Acabou a aula e eu voltei pra casa à pé. Cheguei, almocei e fui me deitar um pouco, mas o interfone tocou e eu estava sozinha em casa.

Fui atender, mas não tinha ninguém na porta, pensei 'deve ser esses pirralhos de rua'. Mal votei pro meu quarto e o interfone soou de novo. Desci impaciente e abri a porta com raiva.

-Oi.

-Quê que cê tá fazendo aqui Frederico?

-Pra você pode ser Fred.

-Tanto faz. Como que cê descobriu onde eu moro e pra que você tá aqui?

-Na saída da escola, eu vim te seguindo.

Olhei pra ele boquiaberta e com a sombrancelha levantada.

-Tô com medo de você.

-Hahahaha, não é necessário. Eu não faria nada contra você.

-Sei...

Ele terminou a frase com uma cara de malícia:

-A não ser que você pedisse.

-Enfim, o que cê quer?

-Você.

-Ãn?

Ele riu e disse:

-Deixa pra lá. Posso entrar?

-Não. É sério, eu tô com medo do que você é capaz.

Ele deu um passo na minha direção e disse num sussurro:

-Você é tão ingênua.

Eu saí de perto dele e fui em direção ao sofá, ele fechou a porta e fez o mesmo que eu. Nos sentamos não tão perto, mas nem muito afastados.

-Não permiti que você entrasse na minha casa.

-Você mora sozinha?

-Isso não te interessa.

-Se não me interessasse, não teria lhe perguntado.

-Você é irritante.

-E você é lenta.

-Não entendi.

Ele riu de novo zuando com a minha cara.

-Posso conhecer a sua casa?

-Não.

-Você é muito marrenta, sabia?!

-Sim. A vida me fez ficar assim.

-Eu posso te ajudar a fechar essa ferida que tem nesse seu coração.

Ele colocou a mão no meu peito e eu esquivei imediatamente.

-Não há ninguém que possa curá-la.

Ele riu novamente e eu disse impaciente:

-Para de rir de mim, que droga.

-Desculpa, é que você provoca.

Revirei os olhos pra ele.

-Ok. Eu vou acabar com o seu tormento, estou indo embora.

Ele se levantou.

-Não, espera.

Ele me olhou surpreso e ficou aguardando o que eu tinha dizer. Resmungei de cabeça baixa:

-Por que você me defendeu lá na sala?

-Porque desde que você pisou naquele colégio, minha vida mudou.

-'Minha vida mudou', nossa que clichê. Me poupe.

-Quer que eu seja mais claro?

-É, né.

MudançasOnde histórias criam vida. Descubra agora