Senhor Magnífico

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O despertador já estava no chão, o que me fez imaginar que ele já havia tocado outras vezes e a lerdinha aqui não tinha escutado, tentei alcançá-lo com a mão esquerda. Era sábado, eu deveria ter colocado ele para despertar por engano. Por sorte alcancei-o sem precisar tirar a venda dos olhos, mas o esforço foi em vão. Let Her Go tocou logo em seguida e eu atendi o celular.

-Cadê você? Você sabia que hoje era dia de chegar cedo! – Clarie parecia estar furiosa e abafando a voz, o que me fez lembrar que eu estava por um fio de ser despedida e deveria estar dando motivos.

-Que dia é hoje? – Tentei conter a rouquidão da voz.

-Hoje? Hoje é o dia em que vem um novo sócio fechar contrato com a Ketman, ou você também esqueceu que estamos indo direto para um buraco fundo?

-Que buraco fundo? – Era impossível não perceber que eu estava totalmente desorientada.

-Closed. Fechado. CABUM, acabou empresa. Goodbye. Vão à grandíssima merda. Adiós. Sayonara. Vão procurar o que fazer. Morram!

-Isso tudo para me lembrar de que estamos à beira da falência?

-É! – Seu tom espantava até os fiéis do inferno.

-Eu estou me trocando – Na verdade não estava, não. – Que horas são? – Perguntei-a passando a mão no rosto para tirar o amassado dos lençóis e só então me dei conta de que tudo o que havia acontecido na noite anterior foi um sonho, ou melhor, um pesadelo.

-São nove, e Vincent está te esperando, você tem noção de quantas voltas ele já deu ao redor daquela bendita mesa? Eu estou preocupada, estou com medo de que ele acabe fazendo um buraco no chão e acabe chegando ao andar de baixo – Tentei conter o riso, sabe-se lá o que ela poderia fazer comigo pelo outro lado do telefone.

-Me diz, por que eu deveria ir cedo? Eu enviei o relatório, todas as planilhas foram parar na mesa dele.

-Ele só se sente seguro com você aqui. Você não faz parte do setor administrativo, mas ele confia mais em você do que na empregada que lava as cuecas dele – Olhei para o celular com nojo e revidei.

-De que horas o Senhor Magnífico vai estar aí?

-Às dez! Você sabe tudo da empresa, ele... – Eu sabia que se eu não desligasse antes dela completar a frase não iríamos sair nunca do telefone e que eu não iria chegar lá ainda hoje e nem neste mês.

Tomei um banho rápido e resolvi vestir algo diferente. Uma calça de linho boca de sino preta com uma blusinha branca transparente com pequenos pássaros pretos da qual eu fiz uso de uma segunda pele branca, soltei o cabelo sem nem passar um pente ou algo do tipo e fui embora sem nem tomar café, peguei a bolsa que ainda estava levemente fria depois da chuva de ontem e tomei um táxi, era a forma mais rápida de chegar lá a não ser que eu tivesse um jatinho, mas como eu sou a rainha da sucata, eu deveria fazer uso de veículos mais comuns.

Cheguei lá perto das dez e meia. Pensei ao descer do táxi em voltar para a pista principal e me atirar na frente do primeiro carro que passasse, mas com o trânsito caótico, com sorte eu seria atropelada por alguma criança andando com seu velocípede.

Joguei a bolsa em cima da minha mesa e fui diretamente à sala de reuniões, onde Clarie me esperava na frente para dizer que eu não deveria entrar, pus a mão nos quadris, encarando-a, pensando deliberadamente no que deveria fazer. Opção um, matá-la e doar seus órgãos. Opção dois, matá-la, costurar seus órgãos um a um e vender numa feira de artesanato. Não era sábado, mas era meu dia de folga.

Uma novata morena e alta estava prestes a entrar na sala e levar o café, resolvi pegar a bandeja da sua mão e sem questionar, Clarie me deu passagem.

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⏰ Última atualização: Feb 05, 2016 ⏰

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