CAPÍTULO 1

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- Isso é ridículo - Renata cruzou os braços na frente do corpo. - Eu não vou sair desse carro. Eu não preciso de um padre, pai, eu preciso de umas férias bem longe de vocês!

- E é isso que nós vamos te dar - a sra. Vincenzo estendeu a mão. - Agora vamos, querida, saia desse carro antes que os seus novos colegas de colégio te conheçam como a menina que apanhou na porta da escola.

- Como se você fosse encostar um dedo em mim e correr o risco de quebrar as suas preciosas unhas - a garota soltou uma risadinha sem qualquer humor.

- Ela não vai bater em você, Renata, mas eu vou - o sr. Vincenzo agravou a voz, retirando delicadamente a mulher do caminho. O seu rosto estava tampando o sol, o que deixava os fios grisalhos mais brancos do que o normal. - Você teve todas as chances do mundo. Agora é hora de lidar com as consequências da sua imaturidade. Desça desse carro. Agora.

Algumas pessoas que estavam perto da suntuosa BMW X6 branca de Giuseppe Vincenzo agora cochichavam entre si, e foi o medo da vergonha que iria passar, não as ameaças do pai, que tiraram a herdeira Renata Vincenzo do carro. O sol daquela cidade parecia queimar como o fogo do inferno, e nem os seus imensos óculos escuros pareciam protegê-la do mormaço. Dentro do carro, as últimas notas da música clássica qualquer que os pais ouviram a caminho do internato pareciam fazer questão de lembrá-la que a vida como ela conhecia estava prestes a terminar.

E aquilo a desesperou para a realidade mais do que qualquer outra coisa.

Os pais já a haviam ameaçado tantas vezes que ela apenas continuava fazendo o que lhe dava na telha, pois sabia que nunca seria punida. Nos piores casos, ela só chorava e se dizia arrependida, e logo o seu império era restaurado.

Mas não daquela vez. Não... ela reconhecia que havia passado dos limites, e agora os pais estavam levando muito a sério o que haviam dito. Afinal, eles estavam parados na frente de um internato de padres e freiras no meio do nada, com todos os seus pertences no porta-malas; o seu pai havia tirado um dia de folga para levá-la até lá! Um dia inteiro! Quando foi que ela o viu fora do trabalho durante toda a vida?

- Isso aqui é o fim do mundo - ela murmurou, voltando-se para o seu pai e agarrando a manga do seu terno impecável, levando lágrimas aos olhos com tanta facilidade que não saberia dizer o porquê estava perdendo tempo na escola e desperdiçando todo o seu talento como atriz. - Por favor, papai, por favor, não me deixe aqui. Eu prometo que nunca mais faço nada de errado, eu prometo! Você não pode me deixar aqui, eu vou morrer nesse lugar!

- Deveria ter pensado nisso antes de se envolver com um traficante de drogas - o sr. Vincenzo silvou entre os dentes, soltando-se das garras da filha e sorrindo para todos os que passavam e o cumprimentavam, não porque aquelas pessoas o conheciam, mas sim porque o tinham visto na Tv.

- Eu já pedi desculpas por isso! - ela choramingou. - E ele não é um traficante de drogas, ele só tem 17 anos! Nós só estávamos querendo fazer um dinheiro extra... não é você mesmo que diz que o empreendedorismo corre nas veias da família Vincenzo? Por favor, pai, me desculpe!

- Desculpas não vão trazer de volta o processo que eu levei nas costas - o distinto empresário caminhou até o porta-malas do carro com a filha em seu encalço. - Desculpas não vão melhorar a reputação da sua mãe na Justiça Federal.

- E não é só porque o garoto é menor de idade que deixa de ser perigoso - Laura Vincenzo abanou as mãos recém-feitas, negando com a cabeça. - Você precisa aprender os seus limites, Renata. Entender o que é certo e o que é errado! Meu Deus, ouvindo você dizer essas coisas, achando que o que fez foi só mais uma brincadeira de adolescente... Eu não sei onde foi que erramos na sua criação!

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