CAPÍTULO 3

8.5K 850 100
                                    

Não durou mais do que cinco segundos. Em um instante, os olhos escuros do garoto estavam em cima dela, violando a sua alma, passeando pelo o seu corpo, e, no outro, ele voltava para o meio de campo com a bola embaixo do braço, conversando com um colega de time e rindo.

Renata sentiu-se zonza.

- Vamos, Renata, eu não tenho o dia inteiro – o sr. Vincenzo puxou a filha pelo braço e ela o seguiu como uma ovelha, olhando descaradamente para Guilherme.

O corpo da herdeira ainda parecia uma tocha humana, mas agora ela não sabia se era devido o calor ou o que havia acabado de acontecer. Ela seguiu os adultos até outro prédio de tijolos com arquitetura similar ao primeiro; eles seriam completamente iguais, não fosse o fato de que este era térreo e se parecia com um galpão.

- Esse é o nosso refeitório – o diretor abriu uma das portas para que a família pudesse espiar lá dentro. O local parecia agradável, melhor que o prédio com as salas de aula, com diversas janelas que também iam do teto ao chão, mesas redondas de 10 lugares cada e um balcão ao fundo, onde Renata supôs que eles servissem a comida. Atrás do balcão, uma porta vai e vem denunciava a cozinha. – O café da manhã vai das 6h às 8h, o almoço do meio-dia à 13h e o jantar das 18h às 20h. Nossa cozinha é própria e temos uma ótima equipe de merendeiras, guiadas por uma equipe de nutricionistas.

- E se eu tiver fome entre as refeições? – Renata tirou a cabeça de dentro do refeitório, voltando a observar o jogo de futebol e fazendo qualquer tipo de pergunta inútil para mantê-los ali por mais tempo.

Outra gritaria envolveu o campão, mas, daquela vez, o time rival havia feito gol. Guilherme não se deixou abalar, ainda sorrindo e conversando com os colegas de time. Ele não parecia mais notar a presença de Renata, que não estava acostumada a ser ignorada, principalmente enquanto encarava descaradamente um garoto.

- Nós possuímos máquinas com todos os tipos de lanche nos dormitórios, além de microondas e geladeiras para esquentar ou manter qualquer tipo de comida que seus pais queiram te enviar por correio – o sr. Gonçalves sorriu. – Por falar nisso, vamos conhecer os dormitórios?

O grupo voltou para o meio do "campão", atravessando-o para o outro lado. Renata tinha noção de que deveria estar ridícula com os seus shorts jeans, chinelos personalizados e regata branca, analisando por debaixo dos óculos escuros, sem qualquer pudor, o garoto chamado Guilherme, mas ela não podia evitar; alguma coisa naquele cara fazia com que ela não conseguisse pensar em mais nada.

De repente, a sua mãe parou bruscamente, e ela acabou acertando as suas costas, enterrando os óculos escuros na cara. Um grupo de garotas que estava por perto soltou risadinhas baixas, ao que Renata respondeu com um majestoso dedo do meio.

- Por favor, Renata, nós não permitimos esse tipo de gestos no colégio – o diretor abaixou o braço da garota lentamente, apontando com a cabeça para o motivo pelo qual a sua mãe havia parado bruscamente. – Além disso, você está perdendo a vista!

Renata revirou os olhos e ajeitou o óculos no rosto, enfim olhando para onde a sua mãe olhava e deixando o queixo cair levemente. Eles estavam no topo de uma comprida e larga escada de concreto, que os levava diretamente para um vale rodeado por árvores e pinheiros e, no centro dele, quatro prédios também de tijolos se erguiam imponentes, dois de um lado e dois do outro, as entradas olhando-se de frente. Um deles levava uma cruz vermelha na fachada, mas os outros três pareciam idênticos entre si.

Entre os prédios, uma grande fonte adornada por anjos e querubins era contornada por bancos de concreto posicionados em um círculo, cravados em um pátio também de concreto, pintado de vermelho e branco.

...Onde histórias criam vida. Descubra agora