Há tantos anos quanto se pode contar, havia uma antiga e honrada tribo indígena. Sua crença na natureza era tão forte que acreditavam serem filhos verdadeiros e legítimos da Grande Mãe, ou a Mãe Natureza como chamamos nos dias de hoje. Nessa tribo, as mulheres eram as caçadoras mais rápidas e ágeis, tanto que os homens, muitas vezes, desistiam de tentar se colocar acima delas, tão poderosas eram. Mas havia uma em especial, que ficou para sempre na história dessa tribo, cuja qual perdura até os tempos atuais.
Seu nome era Kiara, e é considerada a Cleópatra, a Nefertiti da tribo. Seus longos cabelos, sempre mantidos em uma trança, eram negros feito a noite, assim como seus olhos, mas sua pele era branca feito a lua cheia. Dona de beleza inquestionável, era a mais veloz e de melhor mira dentre os seus, tanto que nenhuma outra foi capaz de tirar seu título, mesmo após séculos terem se passado. O que mais era intrigante nessa mulher não era sua beleza ou seu talento na caça, mas sim sua quietude e seu jeito misterioso, algo que tinha desde seu nascimento. Mesmo com o passar dos anos, sua vida pessoal era algo que ninguém na tribo conseguia saber, e era isso que acabava tornando-a mais encantadora e atraente. Todos os homens da região a cobiçavam, desejavam, queriam saber mais daquela deusa que havia descido à Terra. Mas toda e qualquer proposta de namoro e casamento era recusada; Ninguém conseguia atrair sua atenção. Um dia um de seus pretendentes, o mais forte chamado Gael, jurou de morte ao pai da moça que iria fazer ela se apaixonar por ele a todo custo. Dada a bênção do pai, o homem saiu em busca de sua amada, que estava a caçar. Um fato que todos estranhavam no lugar é que a moça nunca caçava em grupo, sempre sozinha o que era muito impressionante, afinal, era a que mais trazia comida para casa. Para achar ela, Gael teve de percorrer uma grande distância de mata fechada e densa, um lago e o "Grande Rio", aquele que poucos atravessaram e voltaram com vida. Desse pequeno grupo, faziam parte Kiara e o pai dela, mas o jovem homem sabia que conseguiria passar da forte correnteza e assim o fez. Mas, ao chegar do outro lado, já era noite e justamente da lua de lobos, ou a Lua Cheia, então decidiu esperar até o amanhecer para continuar sua busca e iria dormir para recuperar suas forças.
Naquela noite, uivos assombraram o sono do indígena e fizeram-no acordar quando era quase 2 horas da madrugada e, ao levantar-se, Gael viu um vulto conhecido correndo e se pôs a correr atrás daquela que sabia ser Kiara, mas ficara para trás e acabou se perdendo dela. Seguindo seu coração, cego pelo escuro e por sua paixão ardente, ele encontrou-a numa clareira, ajoelhada no centro de uma grande quantidade de lobos, estes obedecendo ordens não ditas da mulher entre eles. Nesse momento, o céu se abriu e revelou a maior lua cheia que um homem poderia já ter visto, iluminando toda a campina e aos arredores, e Kiara começou a arfar de dor, com fortes tremores percorrendo seu pequeno corpo. Gael pensou em ir ajudar, mas estava estacado no chão, paralizado, e só conseguiu ver sua amada se transformar numa grande loba mesclada de branco e negro e os olhos de um verde azulado claro e límpido como as águas do Grande Rio. A fera era tão bela quanto a humana que era antes e era igualmente poderosa; os lobos em volta uivaram em respeito assim que a transformação estava completa. Mas esse momento durou pouco, alguns segundos apenas, pois assim que a loba avistou Gael, ela soltou um rosnado e correu em disparada até o humano, o derrubando e matando com uma torcida de pescoço rápida e sem dor. Então, uma coisa horrível se seguiu depois da morte; Aquela moça/loba foi condenada a se exilar de todos os lobos e humanos da Terra, deveria sofrer sozinha todas as luas cheias a sua transformação e teria de conviver com os sussurros do vento, da terra, da lua, das estrelas e do sol, literalmente falando. Nas luas sangrentas, ela enfrentava seu maior pesadelo, que até hoje ninguém sabe exatamente o que era, mas que lhe custava muito, de uma maneira torturosa até onde se sabia. Na tribo, boatos se espalharam como chamas em grama seca, desde os mais simples até os mais fantasiosos, mas uma coisa era verídica: Kiara e Gael, os dois melhores caçadores haviam desaparecido, o que encheu o cacique de tristeza e o fez padecer em depressão, levando à morte. Toda a tribo sofreu muito depois disso, não somente com a tristeza da perda de 3 irmãos, mas também com ataques de tribos vizinhas, antigas aliadas, que causaram a sua extinção súbita e sangrenta.
E então nossa tão bela e amaldiçoada mulher, viu de longe tudo acontecer sem poder ajudar, cheia de vários sentimentos mas incapaz de sequer colocá-los para fora. Estava só, como estivera sua vida inteira, pois assim o quisera. E assim terminou.
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Histórias Aleatórias de Escritoras Anônimas
RomanceAqui iremos postar pequenas histórias/sinopses de histórias que tivemos a ideia de criar (Histórias que se criam e que acabam não indo em frente) mas que preferimos dar um destino melhor do que o de mofar em nossos cadernos ou mentes. Nosso objetivo...