1. Como um pássaro quando voa

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Dias atuais

Londres, Setembro de 2015

POV - Olívia

Vida nova.

Tenho quase 18 anos e tenho certeza que escolhi o caminho certo. Desde criança sonhei com este momento e, agora, está se tornando realidade. Cursar Fotografia em uma das melhores faculdades do mundo é algo indescritível. Eu amo fotografar. Antes, eu encarava como um hobby, um passatempo, mas não demorei a perceber que era aquilo que eu queria realmente fazer a vida toda. É o que me faz feliz.

Minha mãe não gostou nada da minha escolha. Ela sempre quis que eu fizesse Direito ou Medicina. Meu pai só dizia "Pensa bem e se for isso mesmo, vai em frente". Meus pais acabaram discutindo quando contei que fui aceita na University of the Arts London, porém, minha decisão já estava tomada. Uma hora teria que começar a viver minha própria vida sem o controle da minha mãe. Houve um tempo em que eu pensei que nada nesse mundo seria capaz de me trazer alegria outra vez, então, lembrei do porquê de eu ter escolhido esse caminho.

"Teu futuro depende apenas de ti", ele me disse certa vez. Tenho certeza que ele estaria orgulhoso se me visse agora.

Durante anos vivenciei este momento em minha mente. O momento em que eu o veria, lindo, de cabelo bagunçado, com o sorriso radiante e com os braços abertos à minha espera. O momento em que eu correria e o abraçaria pondo fim àquela velha saudade. O momento que ele me beijaria a testa e depois, provavelmente, tiraria sarro da minha roupa ou qualquer outra coisa só para implicar comigo. Sim, tudo voltaria a ser como antes, quando éramos nós dois rindo, conversando, xingando, cuidando um do outro.

Que saudade! Depois de mais de dois anos, ainda sinto um aperto no peito ao pensar nele. Logo sinto meus olhos marejarem e afasto esses pensamentos. "Seja forte, você consegue!", falei para mim mesma. Não quero que meu primeiro dia em Londres seja chorando como uma louca. Ele iria rir se me visse nesse momento falando sozinha.

Com um suspiro, pego minha mala e ando em direção à saída do aeroporto. Chamo um táxi e digo ao motorista para me levar à University of the Arts London, local que seria meu novo lar daqui em diante.

-x-

Como não tenho parentes em Londres e ninguém da minha família pode me acompanhar, terei que morar no campus mesmo. Confesso estar um pouco nervosa já que terei que dividir o quarto com uma desconhecida e usar um banheiro que outras mil garotas usam também. Prefiro nem pensar nisso agora, só espero que a minha colega de quarto não ronque.

Resolvi tudo que estava pendente há algumas semanas e fui orientada a procurar a secretaria quando chegasse, apenas para me apresentar, pegar alguns papéis e a chave do quarto.

Chegando na secretaria, fui atendida por uma mulher que abriu um sorriso simpático ao me ver. Ela aparentava ter uns 40 anos. No crachá, o nome "Martha" estava escrito com letras em maiúsculo e negrito.

- Olá, querida! Como posso ajudar? – Ela disse de forma maternal.

- Meu nome é Olívia Santoli. Vim de Bradford estudar Fotografia aqui. – Disse à mulher que abriu outro sorriso.

- Claro! Nos falamos há algumas semanas. Sua documentação está toda em ordem e seu horário está aqui. – Ela disse me entregando uma papelada. – Aqui está a chave do seu quarto.

Peguei a chave e ela me repassou mais algumas informações sobre a universidade. Quando ela terminou de falar, agradeci com um sorriso.

- Boa sorte, Olívia. Espero que goste daqui.

Eu também.

- Obrigada. – Falei simplesmente.

Saí da sala e comecei a andar em direção ao meu bloco. O local estava meio vazio e dei uma olhada rápida. Era simplesmente imenso e lindo. "Preciso fazer um tour completo, ainda nem acredito que eu estou aqui", pensei. Tenho tantos planos. Quero visitar tantos lugares. O que mamãe diria se visse? E papai? E ele? Imaginei como ele estaria empolgado e falando pelos cotovelos sobre o quão feliz estaria por finalmente passarmos um tempo juntos... Rapidamente afastei esses pensamentos. "Agora não é hora, Olívia" resmunguei.

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