Capítulo 4 - Sóbrio

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Naquela época achei inexplicável a morte da minha esposa e, de uma forma mais inexplicável ainda, a pessoa por quem eu troquei Katerine, também morreu! Os próximos três meses decidi me isolar numa casa de campo. Longe da cidade, longe das lembranças, longe das dores... Achei que seria assim, que idiota eu fui, foi pior ainda... Todas as noites Katerine invadia meus sonhos, os transformando em pesadelos. E parecia que a Dayse vivia dentro de minha mente, teve um dia que cheguei a achar que sabia onde ela guardava fotos nossas e presentes que dei a ela... Algo que realmente me deixou curioso. Dayse tinha vinte e seis anos, na flor da idade e do dia pra noite eu simplesmente nunca mais iria vê-la, será que se eu soubesse teria terminado com Katerine?

Ao voltar pra cidade e para minha vida particular, passei a visitar por mais vezes minha mãe e meu pai, já que via eles apenas duas vezes ao ano... Moravam numa cidadezinha próxima e não demorava nem uma hora de estrada para abraça-los. Depois de cinco meses vendo eles quatro vezes por semana, acabou que as visitas se tornavam cada vez mais agradáveis e de certa forma obrigatórias, no bom sentido claro... Fazia tempo que eu não me sentia tão amado por eles!

Meu pai amante de carros antigos tinha um Opala Comodoro SLE 4.1 6 cilindros ano 1979, vivia lustrando o carro como se fosse seu segundo filho, às vezes ficava da manhã até à noite mexendo nele... Já minha mãe, uma senhora que ama cozinhar, até hoje nunca comi nada melhor do que as receitas dela e o que se destacava era uma macarronada onde ela mesma fazia a massa. O tempo passou e acabei por conhecer uma mulher que morava perto dos meus pais, na verdade ela sempre me cumprimentava quando eu ia na padaria comprar os pãozinhos matinais. Ela era dona de um Pet Shop ao lado da padaria, loira, vinte e quatro anos e extremamente gentil. O nome dela era Christina, mas sempre dizia que eu poderia chama-lá de Chris.

A maior força que tive para voltar a ter uma vida normal, veio dos meus pais. Por várias e várias vezes eles me pediam para chama-lá pra sair. Até que um dia eu decidi chama-lá...

Quatro meses depois e Christina já convivia com meus pais como se o conhecessem a vários anos, combinaram de fazer uma festa surpresa para o meu aniversário... E decidiram ir até minha casa sem que eu soubesse. Era uma viagem curta, cerca de 80km, tudo seria perfeito se não fosse um motorista bêbado e um caminhão com quinze toneladas de madeira. O motorista disse para os policiais que viu uma mulher no lado da pista dele, semi nua com muito sangue cobrindo o corpo dela e ele desviou instantâneamente, disse que estava sóbrio e que não viu o carro dos meus pais vindo na outra mão da estrada, quando percebeu que o caminhão havia batido em algo ele tentou segurar o volante, mas foi em vão... O caminhão tombou destroçando completamente o Opala, meus pais, Christina e consecutivamente, minha vida! Os policiais ainda me disseram uma última coisa que o motorista relatou à eles... Ele disse que quando conseguiu sair da cabine do caminhão com sangue descendo pelo seu rosto a mulher ainda estava de pé na estrada, chegou bem próximo a ele e sussurrou:

- "Foi sem Querer"

Ao ouvir isso meu estomago embrulhou, me senti tonto, como se o sangue tivesse momentaneamente deixado todo meu corpo, exausto me retirei daquele lugar...

...

Estava no mesmo cemitério onde Katerine foi enterrada, desta vez seria meu Pai e minha Mãe... Os Pais de Christina decidiram enterra-lá na cidade onde havia nascido. Não ouvi uma palavra do que falavam durante o enterro, parecia que parte de mim não mais existia, só realmente acordei desse transe sentimental quando, após meus pais serem enterrados vi ao lado da lápide deles a da Katerine... Aquele dia fazia exatamente um ano que ela havia morrido!

Uma semana havia se passado, vodka, whisky, rum, tequila, conhaque... Tudo quanto tipo de bebida alcoólica que eu encontrava eu comprava, me afundando cada vez mais na angústia que me devorava por dentro. Uma angústia que só passava após alguns goles de qualquer bebida forte...

Nos fins de semana era pior ainda, bebia tanto que nem lembrava no outro dia o que aconteceu... Teve um sábado que após quatro doses de Black Label e três shot de Tequila eu acordei na cama de um motel de beira de estrada com duas mulheres nuas dormindo juntas. Que ponto eu estava chegando? Será que poderia ir mais fundo? Talvez eu deveria beber bastante, roubar um caminhão e dirigir estrada à fora até encontrar uma família feliz e acerta-los de frente como fizeram comigo... Seria injusto? Mas e a minha? Foi injusto também não foi?

Dois dias depois o laudo policial com exame de sangue do motorista, comprovou o que ele tinha falado aquele dia... Não havia álcool em seu sangue... Nem uma única gota sequer...

... Ele estava sóbrio!!!

...

Fim do capítulo 4

Dark Time Crônicas: vol. 01 - "Amor Verdadeiro"Onde histórias criam vida. Descubra agora