O nevoeiro atrapalhava a visão do horizonte. A patrulha dessa noite estava por conta de Luiz, enquanto todos estavam em suas camas.
O jovem permanecia sentado sobre o teto do trailer, atento à qualquer barulho. A noite estava estranha, nem som de grilos e nem cigarras que era comum em pleno verão de janeiro. Isso o deixou preocupado.
Com um dos olhos ocupados pelo monóculo tentava ver o que a névoa tampava, mas conseguia ver nada. Trocou a mira óptica do rifle por uma noturna, pocissionou o rifle para controlar o coice caso precisasse disparar algum tiro, colocou a mira próximo ao seu olho direito, em seguida mirou no nevoeiro.
Do interior da cortina de névoa surge um dos "cadáveres ambulantes", é disparado um único tiro, barulhento e mortal, fez com que o cadáver caísse no asfalto molhado pelo sereno.
O som do tiro acorda Felipe, que levantasse da cama mesmo sem camiseta sobe pela precária escada de madeira até o teto do veículo, onde está Luiz.
- Que tiro foi esse? --- Pergunta Felipe, ainda se recuperando do susto. ---
- Atirei em um "cabeça oca". --- Luiz respondeu. ---
Felipe pegou um rifle que estava próximo ao seu pé e mirou para onde Luiz mirava, tentando ver algo.
Do nevoeiro branco surgiu um "bando" de "cadáveres ambulantes", no primeiro momento dava para contar apenas quinze, mas possivelmente era bem mais. Os primeiros cadáveres estavam a aproximadamente quatrocentos metros de distância.
- Pule do trailer e corra direto para o caminhão, ligue os faróis dianteiros e ligue o sinal sonoro... --- Luiz disse com autoridade. ---
Felipe não pensou duas vezes, largou o rifle e tentou pular, mas se arrependeu ao ver os três metros de distância do teto até o chão. Se agarrou na lateral do trailer e se soltou. Felipe correu na velocidade que conseguiu e chegou ao caminhão, ligou os faróis e disparou a sinal sonoro de alerta que ecoou pelas caixas de som, fazendo com que os membros do grupo levantassem de suas camas.
O rapaz saiu do caminhão, puxou as escadas de metal na lateral do terceiro vagão e correu de volta para o trailer, Luiz lhe deu a mão, o ajudando à subir. Felipe pegou o rifle, mirou e viu que os "cadáveres ambulantes" estavam pelo menos à cento e cinquenta metros de distância do caminhão.
- O que aconteceu? --- Perguntou Grego, enquanto subia as escadas de madeira.
- Veja você mesmo... --- Respondeu Felipe, assim entregando um dos rifles. ---
Grego observou pela mira e viu o quanto àquela madrugada seria conturbada.
- Não é melhor que os deixemos passar? --- Opinou Grego. ---
- Não dá mais tempo, foram atraídos pelas luzes dos faróis, a munição é pouca, mas dá para exterminar boa parte deles e partir para o corpo à corpo. --- Luiz respondeu calmamente. ---
Felipe puxou a escada de madeira para cima e colocou na lateral do trailer, assim descendo até o asfalto.
- Onde está indo? O que vai fazer? Os "cabeças ocas" já chegaram na cabine do caminhão... --- Grego perguntou e alertou seu amigo. ---
- Puxe a escada, vou pegar o carro com a lâmina frontal e avançar contra eles, aqueles que sobrarem vocês atiram, vai economizar munição... vou abastecer o carro enquanto os "cabeças ocas" estão distraídos com a luz... Onde está o combustível? --- Felipe respondeu e em seguida os questionou. ---
- O combustível está no primeiro vagão, atrás da caixa de ferramentas, coloque dez litros... --- Respondeu Grego. ---
Felipe correu até a traseira do caminhão, subiu no terceiro vagão, tirou a moto Davison do caminho para abastecer e retirar o automóvel blindado do vagão. Após isso, abriu a porta metálica que separava o terceiro e o segundo vagão. Olhou para todo o vagão.
- Como conseguem dormir com esse barulho...? --- Pergunta baixo para si mesmo. ---
Ao chegar próximo a porta de separação do segundo com o primeiro vagão, avista uma movimentação sob o edredom avermelhado, era onde Ana costumava dormir, prazerosos gemidos abafados foram ouvidos. Felipe riu silenciosamente e abriu a porta, entrando no primeiro vagão. Se aproximou do lugar falado e pegou o galão de combustível, assim saindo. Ao retornar para o segundo vagão vê Marcela sobre Ana, as duas estavam com a metade dos corpos nus para fora do edredom.
- O negócio deve estar bom para não se preocuparem com o que está acontecendo lá fora. --- Felipe deu seu sermão mau humorado e saiu esbravejando. ---
As expressões das garotas congelaram em seriedade ao serem pegas no flagra.
Felipe chegou ao local onde encontrava-se o veículo escolhido e começou o abastecer. Enquanto isso, os dois rapazes do lado externo exteminavam os "cadáveres ambulantes".
Marcela se levantou e tateou o solo até encontrar suas roupas íntimas e as colocou, encontrou as roupas de Ana e as duas se vistiram. Ana acendeu as lamparinas à óleo e em seguida vestiu suas roupas habituais.
- O que aconteceu aqui não é para ser comentado e não acontecerá mais... não é porque foi ruim... aliás, foi uma das melhores sensações que já tive, mas essa experimentação nova será a única. --- Explicou Ana. ---
Felipe abastecia o automóvel, quando ouve passos se aproximando lentamente e sente um sopro quente no pé da orelha, o rapaz se arrepia. Felipe parou o que fazia e ficou parado cabisbaixo.
- O que você viu lá muda em nada o que sinto por você... --- Ana tenta se explicar, enquanto acariciava com sua mão direita o curto cabelo de Felipe. ---
- Não tem tempo para perder contigo, não sou brinquedo que você joga quando não quer brincar e pega outro. --- Felipe disse com calma, apesar de estar esbravejando interiormente. --
- Eu só quero dizer que... e... eu... --- Ana ao se pronunciar começa a gaguejar e é interrompida por Felipe. ---
O rapaz entra no carro e em segundos o motor começa a roncar. Ana abre a porta de passageiro e senta ao lado de Felipe.
- O que pensa que está fazendo? --- Pergunta Felipe. ---
- Não sei o que está acontecendo, mas se não tem tempo agora, vamos conversar enquanto você dirige... --- Ana responde. ---
- Pra fora... --- Felipe ordenou. ---
- Felipe... não faz isso... errei... faz quase seis meses que estamos em um relacionamento, é quase um casamento por estarmos acordando na mesma hora, passamos o dia juntos... não faz isso por um erro meu... --- Suplicou Ana. ---
- Eu disse... fora... não sou corno conformado, não sou seu brinquedo e não ando com vadias traidoras... fora... talvez você tenha mais utilidade lá fora. --- Contra-atacou Felipe, tentava controlar o nervosismo. ---
Ana disse mais nada, apenas levantou a mão direita e desferiu um tapa contra o rosto de Felipe, em seguida abriu a porta do automóvel e voltou para o segundo vagão com os olhos lacrimejando.
Felipe tentava controlar suas lágrimas. Respirava fundo e tentava não deixar as emoções não o influenciar neste momento complicado.
As balas produziam sons ensurdecedorés, quando cortavam o ar e atingiam seus alvos, e as cápsulas metálicas caindo ao chão ajudava compor o unico som que era ouvido na noite.
O automóvel que demorava deixar seu abrigo, finalmente Felipe surgiu guiando o veículo. Avançou o carro contra os "cadáveres ambulantes", os corpos se amontoavam e as vísceras se misturavam e se espalhavam na pista. A munição perfurava o crânio dos poucos cadáveres que teimavam se levantar após o atropelamento.
O céu começava a clariar, era por volta das cinco e meia da manhã e os rapazes continuavam a exercer o árduo trabalho ao amontoar os corpos, banha-los em combustível e atear fogo nos cadáveres.
- Agora vamos... tanto "cabeças ocas" e sobreviventes serão atraídos pela claridade das calmas e a fumaça... --- Disse Grego. ---
- Vamos retornar pela Ponte Rio-Niterói e dar a volta pelas ruas ao redor da Rodovia... --- Aconselhou Felipe. ---
- Estamos perto do nosso destino... --- Luiz disse com o pouco entusiasmo que lhe sobrou. ---
Os minutos se passaram lentamente e o sol recém despertado acompanhava e iluminava o caminho para que o grupo sobrevivesse mais um dia.
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Vida pós morte
ActionA infecção se alastrou e devastou o mundo, pessoas que apesar de ter passados diferentes e pensamentos distintos, só pensam em uma coisa: sobrevivência. Mas, a grande questão é: Até onde estão dispostos a chegar? Qual é o preço para garantir a sobre...