A Odalisca

CAPÍTULO IV - Perdido

Mesmo transtornado, Oliver precisava resolver alguns assuntos de sua empresa. Antes de ir se encontrar com Tyler e Alfred, passara em seu apartamento para tentar se acalmar. Pensou em tomar uma pequena dose de licor, mas, devido seu temperamento que no momento estava demasiadamente descontrolado, resolveu que tomaria apenas um café e tão logo seguiria para o escritório.

Chegara meia hora atrasado para a primeira reunião do dia.

-Sr. Ross. Os senhores Smith e Sarmento já deram inicio a reunião. – Disse-lhe Sara, a recepcionista.

- Algum outro recado?

- Não, senhor.

- Obrigado, Srtª Sara.- Oliver dirigiu-se para a sala de reunião.

Ao todo, Oliver participou de duas reuniões, sendo uma com acionistas da empresa e outra com clientes do ramo de exportações. Não conseguira prestar muita atenção nos assuntos tratados em nenhumas das reuniões, seu pensamento estava direcionado ao fascinante beijo que dera de manhã.

Alguns acionistas estavam indo almoçar, quando Alfred fora ao encontro de Oliver para tentar entender o que teria ocorrido na noite anterior.

- Sr. Roos, está indo almoçar?

- Sim, estou indo agora mesmo ao restaurante.

- Necessita de companhia?

- Não se preocupe, ficarei bem sozinho. Preciso pensar em alguns assuntos que devo resolver antes do retorno à Boston.

- Há, claro. Só pensei que talvez o Sr. gostaria de conversar sobre ontem.

- Alfred, eu agradeço a preocupação, mas não quero tocar neste assunto. – A voz de Oliver era áspera.

- Desculpe, Sr. – Alfred lhe dera um tapinha no ombro e deixara Oliver sozinho.

Impaciente, Oliver passou a mãos pelos cabelos, respirou fundo e dirigiu-se ao restaurante ao lado do edifício da empresa. E, enquanto almoçava, se perguntava o que Samira estaria fazendo. Pegou o celular, discou o número de Samira e deixou que chamasse até ser atendido pela secretária eletrônica.

Sua Odalisca, não atendeu.

Após o almoço, fora até a recepção da empresa e solicitou que Sara desmarcasse todos os compromissos que ele teria na parte da tarde. Estava disposto a reencontrar Samira.

- Srtª Sara, por favor, verifique quais são os horários e o local dos ensaios da Cia do Sr. Silver Colorado.

- Deseja que marque um horário com o Sr. Colorado?

- Não. Apenas verifique o local e os horários.

- Ok, Sr.

Sara, fez duas ou três ligações e em menos de 5 minutos já tinha em mãos o local e os horários dos ensaios.

Um dos ensaios seria em menos de 2 hora. Apressou-se, pois teria pouco tempo para tomar um banho, trocar de roupas e ainda precisava pensar em como convenceria Samira aceitar jantar com ele.

Pensou em se desculpar com ela, pela maneira como agiu naquela manhã, lhe convidaria para jantar e definitivamente, não a agarraria novamente.

De banho tomado, colocou uma calça jeans azul, uma camisa branca e um blazer preto que combinava perfeitamente com o tom negro de seus olhos. Penteou os cabelos de forma que os fios ficassem todos para trás. Estava pronto.

A caminho do ensaio, passou em uma floricultura e comprou um lindo buquê de rosas, era clichê, ele sabia, mas rosas sempre foram às favoritas de Samira. Far-lhe-ia uma surpresa, mesmo não sabendo se Samira reagiria bem ou não, ele estava disposto a tentar. Não ia desistir tão fácil assim.

Chegando ao local, havia uma pequena escada em espiral que levava ao pequeno salão de ensaio. O buquê em suas mãos chamava atenção de todas as dançarinas que estavam presentes, o que começava a constranger Oliver que se sentou em uma cadeira ao fundo do salão, daquele lugar poderia ver Samira ensaiando. Planejava ficar á espreita e aguardaria o término do ensaio para fazer-lhe uma surpresa.

Uma pequena dançarina de cabelos escuros e pele morena estava finalizando sua coreografia de músicas africanas. Em seguida, Samira se posicionou no meio do salão.

Ela não usava a roupa de odalisca, mas uma legging preta, com adornos de contas pendurados e um top que deixava seu ventre á mostram.

Em poucos segundos, a música iniciou-se e logo Oliver se perdeu no encanto do rebolado de Samira, que como se estivesse imitando os passos marcantes de um camelo e o movimento hipnótico de uma serpente fazia inveja em todas as demais dançarinas. O balançar das pequenas contas seguiam o quadril para cima e para baixo, em seguida para o lado descendo o calcanhar, subindo o outro lado e levando o quadril para fora desenhando um oito infinito.

O deleite de Oliver não durou muito tempo, logo notou que o mesmo loiro que acompanhava Samira na recepção do Restaurante estava observando-a ensaiar. A raiva e o ódio que sentia estavam deixando-o cego, não o permitindo prestar atenção em Samira, fazendo-o sentir vontade de surra-lo até que não houvesse mais nada daquele homem.

Samira ensaiou por apenas meia hora e logo deu lugar para outra dançarina. Oliver já estava pronto para levantar-se e ir até ela, quando ouviu o loiro chamando-a para irem jantar.

- Ei, Samira. Vamos jantar naquele bistrô que te falei semana passada?

- Sim, me contaram que a comida de lá é ótima. - Samira estava sorrindo. – Só um minuto, vou pegar minha bolsa.

Oliver não conseguiu mexer-se, ficou imóvel enquanto via Samira sair acompanhada. Ficou ali, parado por alguns minutos quando levantou-se e perguntou para uma das dançarinas que estava por ali.

- Com licença, Srtª, poderia me dizer quem é aquele cavalheiro loiro que acabou de sair?

-Aquele é Alef, nosso diretor.

- E por acaso aquela moça que o acompanhou, é namorada dele?

- Olha, se são namorados eu não sei, mas ele e Samira são muito próximos. Acredito que talvez tenham uma amizade colorida.

- Obrigado.

- Por nada, Sr.

Sem saber o que fazer, Oliver jogou o ramalhete de flores na primeira lixeira que encontrou. Respirou fundo, entrou em sua Mercedes, abriu o porta-luvas e tirou um pequeno recipiente brilhante, levando-o a boca e dando vários goles. Naquela noite, Oliver beberia para tentar esquecer Samira.

Dirigia loucamente, o álcool já estava deixando-o alterado e aos poucos foi sendo dominado por uma fúria que nunca sentira antes. E Percebendo que já havia 40 minutos que dirigia sem rumo e se sentindo sozinho, resolveu que caminharia um pouco já que sua visão estava ficando turva.

Desceu do carro e caminhou por uma rua cheia de restaurantes e bares, onde se via muitos jovens que aparentavam estar contentes, visto que todos falavam alto e gargalhavam escandalosamente.

Caminhava com as mãos no bolso, os cabelos já estavam desalinhados e a raiva ainda insistia em não deixa-lo em paz. Os efeitos da bebida fazia-o lembrar do dia em que comprou o anel que daria á Samira no dia em que ela fugiu, ia pedir-lhe em casamento. Era um anel de ouro com um diamante central de lapidação octogonal de 12 quilates com 8 pequenas esmeraldas verdes 2 quilates ao seu redor.

Enquanto caminhava, ouviu uma gargalhada familiar, era o riso dela. Seguiu na direção de onde vinha aquele riso contagiante e viu-a sentada ao lado de Alef enquanto ele lhe acariciava os cabelos.

Oliver fechou os punhos e seguiu em direção à Samira e Alef. Precisava fazer alguma coisa, não deixaria que ela fosse de outro homem a não ser ele.