Capítulo XI - Descobertas

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Uma gota de suor escorreu pelo pescoço de kalifah, que soltou a lateral do turbante vermelho e a enxugou. Já estava sentado na varanda do apartamento há quase uma hora, examinando a papelada que seu advogado lhe trouxera. Entre os documentos dispostos na mesa, havia registros de nascimentos, certidões de óbitos, e uma lista de todos que entraram e saíram do Sahab durante os últimos 5 anos.

– Zayn, tem certeza de que só nasceram essas oito crianças no dia que o filho dela nasceu? – perguntou ao advogado franzino que se encolhia na cadeira.

– Sim. E, se olhar os documentos da pasta vermelha, notará que no total, foram vinte e duas crianças naquele mês. – Respondeu, pegando a pasta e abrindo-a na página com as informações.

– Ótimo. Agora deixe-me ver a lista dos que saíram de Sahab naquele mês.

O advogado afasta a xícara de café, dando lugar para a pasta preta que estava mais a direita da mesa. Ele a abre, apontando para algumas anotações feitas à lápis na lateral do papel.

– Note que duas semanas depois do nascimento, o avião particular da família Real foi para Londres e só a Rainha Amber embarcou. – Ele vira a página e mostra outra anotação. – A princesa embarcou para Londres três dias antes, mas em um avião comercial.

Kalifah analisa os documentos, passa a mão pelo queixo e toma um gole do seu café. Então, vira-se, observando o sol no horizonte. Pequenos pássaros sobrevoam o céu.

– Quantos dias a Rainha permaneceu em Londres? – Kalifah quis saber.

– Ela permaneceu por dois dias, Sr. – Respondeu.

– Ela levou a criança? – Perguntou, ainda olhando para o horizonte.

– Ninguém soube me informar. Todos sabem que a princesa teve um filho, mas ninguém nunca viu a criança.

– Alguma chance dessa criança estar aqui em Sahab? – Kalifah se virou para o advogado, que se empertigou e respondeu com a voz firme.

– Nenhuma. Essa criança saiu de Sahab. Se ela ainda estivesse aqui, alguém já teria descoberto seu paradeiro.

– Depois do retorno da Rainha, quantas vezes ela saiu do reino? – O Sheik perguntou ao advogado.

– Todo mês a Rainha foi para Inglaterra, visitando Londres, Liverpool, Oxford, passando entre três e quatro dias lá. – O advogado remexe em alguns documentos. – De acordo com essa declaração do Banco de Sahab, a rainha faz uma doação mensal para cento e vinte e seis orfanatos da Inglaterra.

– É isso então. A criança está em algum orfanato da Inglaterra.

– É muito provável, meu Sr. – Respondeu Zayn, tomando o último gole do seu café frio.

Kalifah juntou os documentos sobre a mesa e se levantou. – Pode se retirar, Zayn. – Disse, colocando os papeis dentro de sua maleta preta.

– Com sua licença. – Disse o advogado, fazendo uma reverência e se retirando do local.

Não demorou muito para que Samira chegasse ao hotel. O Sheik ligou pra ela assim que o advogado se retirou. Ela, por sua vez, pegou o Jeep e dirigiu o mais rápido que conseguiu, levantando poeira pelo caminho que passou.

Kalifah tentou não parecer um idiota quando a viu entrar no saguão do Hotel. A beleza de Samira era ofuscante, fazendo as mais preciosas safiras perderem o brilho diante de tanta beleza. A abaya marrom claro ia até os pés, com mangas longas e detalhes brancos com pedrarias douradas. Seus cabelos estavam cobertos com um Hyjab verde água, um contrate perfeito com o tom de sua pele.

– Boas notícias. – Disse ele, quando ela se aproximou.

– Você o encontrou? – Perguntou eufórica.

– Não exatamente, mas tenho provas de que vou conseguir encontrá-lo. – Ele respondeu, pegando alguns dos documentos na maleta. Ela franziu o cenho, ele notou. – Acho que vai gostar de ver isso aqui. – Disse ele, entregando os documentos pra ela.

Samira pegou as certidões de nascimento que ele lhe entregou, se sentou na poltrona. Ele se sentou também.

– Estes são os nomes das crianças que nasceram no mesmo dia que o seu filho. – Disse o Sheik.

– São três meninos e cinco meninas. – Disse Samira, entendendo o que o Kalifah queria dizer. – Um desses três meninos pode ser o meu filho!

– Exatamente. Omar, Nasser e Hamdan. O seu filho é um desses aí. – Respondeu ele, dando um sorriso orgulhoso.

Samira colocou as mãos no rosto e começou a chorar. A emoção de estar recebendo o primeiro sinal de que teria seu filho nos braços, foi como uma flecha atingindo o seu coração. O Sheik se levantou e foi até ao lado dela, se agacho lhe ofereceu um lenço.

– Não chore, por favor. Eu vou trazer seu filho de volta, Sam. – Disse, fazendo com que ela tirasse as mãos dos olhos e o fitasse, ainda chorando.

– Muito obrigada. – Respondeu, com um sorriso se formando nos lábios.

– O noivado. – Disse o Sheik. – Vamos marcar? – Ele ainda estava agachado ao seu lado.

Ela hesitou por um instante. Quis correr, mas permaneceu. Fungou, olhou para os lados e notou que havia algumas pessoas observando o casal. Diferentemente da noite em que jantaram, desta vez não havia flashs.

– Sim. – Respondeu, sentindo-se grata, mesmo sabendo que estava assinando sua sentença de infelicidade. Mas faria o que fosse necessário para reencontrar seu filho.

Quem seria ele, Omar? Nasser? Hamdan? Um milhão de questionamentos lhe surgiu. Será que ele tem os olhos de Oliver? Os cabelos são castanhos como os da mãe? Ele a reconheceria como mãe?

– Levante-se. – Kalifah pediu. – Temos que conversar com o seu pai e acertar os termos do acordo. – Disse ele. – Faço questão de retomar o nosso antigo acordo.

Ele segurou a mão de Samira enquanto ela se levantava da poltrona. Virou-a de frente pra ele e a puxou para junto do corpo. Desta vez ela não hesitou apenas se deixou levar e fechou os olhos, ao notar que os lábios dele tocavam os dela. O beijo foi sem sentimento, frio como o mármore sob os seus pés.

Por dentro Samira chorou, o coração parecia estar sangrando de dor. Pensou na loucura que estava fazendo, mas permaneceu firme em sua decisão. Seguiria em frente, sem olhar pra trás.

– Vamos. – Disse a Princesa, quando ele se afastou dos seus lábios.

Saíram de mãos dadas, como se fossem um casal normal, sem uma história infeliz no passado.


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