Monique

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De todos os maus momentos que passei na vida, este, sem dúvida alguma, é de longe o pior. Eu e o bosta do Thiago terminamos. TRÊS ANOS DA MINHA VIDA JOGADOS NA PORCARIA DO LIXO. Não paro de pensar em tudo o que aconteceu... Essa semana têm sido assim, sem sair do quarto, e quase sem levantar da cama, finjo comer tudo o que minha tia Diane (a figura materna mais próxima que tenho) têm trazido para mim, mas jogo tudo fora, pela janela ou na privada, tudo para evitar broncas e sermões. Não sinto mais fome e estou um vislumbre de algum daqueles fantasmas de filme de terror boróca.
O sol está se pondo, e acho que não me movi o dia inteiro. É como se eu congelasse no tempo. Ouço baterem na porta:
—Quem é? — sem abrir os olhos, pergunto com a voz mais rouca do que me lembrava
— Sou eu — Diz minha tia com um sorriso na voz
—Pode entrar — sento e meio tento ajeitar a cara amassada pra fingir empolgação
— Ué, você não vai para a escola hoje? — Ela fala enquanto entra no quarto e senta na beirada da cama
MERDAAAA! Esqueci! Engulo em seco e sorrio
—Vou sim, só pensei em aproveitar melhor meus últimos momentos de paz, sem fura olho e gente falsa, sabe? — dou um meio sorriso
— Monique, você sabe que não me engana, né? — ela acaricia meu rosto e sorri
— Tentar não mata ninguém, "né?" — rimos
— Olha, sei que não quer falar sobre, mas caso queira, eu estou aqui, tá? — ela diz olhando em meus olhos. É estranho me sentir assim, amada e protegida, mesmo contendo uma enorme bagunça dentro de mim, e eu amo isso.
— Tia, não é grande coisa. Ele me traiu regularmente com umas 10 meninas durante esses 3 anos, eu desconfiava mas não tinha provas e no fim achava que era coisa da minha cabeça, isso até eu pegar ele transando com uma tal de Tiffany do primeiro ano, tudo isso naquela cabana que herdei do vovô, sabe? Fiquei puta, dei chilique, quebrei meio mundo e acabei com tudo. Agora estou bem, ou quase, só me sinto idiota, sabe? — falo num tom misto de raiva e tristeza e tão rápido que quase esqueço de respirar — em pensar que eu ficava com remorso quando achava outras pessoas atraentes — sorrio
— Pelo amor de Deus! Como você aguentou tudo isso por mais de duas semanas sem dar um piu? — ela pega uma das minhas mãos e acaricia com o polegar — querida, eu teria te ajudado na vingança, e bolaríamos algo melhor que só jogar ovos no carro dele! — nós duas rimos
— Você é incomparável, Tia! — vou um pouco para frente para que consiga abraçá-la, e ficamos assim por uns minutos.
— Olha, levanta dessa cama, toma um belo de um banho, se arruma e arrasa com tudo! Você é linda, e a vida não acaba aqui. Thiago foi um idiota, retardado, mau caráter, ridículo, depravado e muitos outros adjetivos de baixo escalão? Foi! Mas você é mais que isso! E daqui um tempo ele vai perceber a mulher maravilhosa que perdeu. — ela diz sorrindo
— Te amo! — sorrio, beijo o rosto dela, levanto — você me dá uma carona?
— Claro!! — ela levanta, sai do quarto e encosta a porta
Olho a hora e corro para não me atrasar. Entro no banheiro, tiro o pijama, ligo o chuveiro e começo a tomar banho, lavo o cabelo, desligo, visto o roupão e enrolo uma toalha no cabelo. Me olho no espelho, escovo os dentes, passo base, pó e rímel, saio escolho uma camiseta azul com a capa do Nevermind (álbum do Nirvana), calça preta destroyed e all star preto. Me visto, penteio o cabelo, seco com o secador o mais rápido que consigo, passo perfume, pego uma bolsa preta com franjas, coloco dinheiro, chaves, caderno e cantas dentro dela. Pego o celular e os fones, desço correndo pra cozinha
—Tia, vamos?— grito. Vejo Mike, meu priminho sentado no balcão tentando alcançar uma maçã, pego ele no colo e o levanto para que ele consiga pegar, ele sorri e beija meu rosto, faço cócegas nele, que sai correndo e rindo  assim que consegue escapar
— Pronto, vamos — vejo minha tia descer as escadas toda apressada, pega as chaves do carro no balcão.
— Tchau Leo! — aceno pro meu tio que não tira os olhos da TV, ele da uma aceno e comemora outro gol do seu time, rio e eu e minha tia saímos de casa, ela desliga o alarme do carro, entramos e ela dirige tão rápido pegando atalhos e desviando de ruas com faróis que quando dou por mim, já estamos na porta da escola.
— Seja forte, tá bom? Se precisar de qualquer coisa, me ligue, juro que venho correndo. — ela diz sorrindo e eu não duvidava, acho que ela quase atropelou um esquilo com a correria hoje
— Tudo bem — sorrio — obrigada, tia Diane. Por tudo mesmo. — beijo o rosto dela e desço do carro. Ela acena, liga o carro e vai embora.
Os portões ainda estão fechados, encosto em um poste tentando encontrar algum rosto amigo, tentativa fracassada. Conecto o fone no celular e coloco nas orelhas, deslizo a playlist e clico em "My girl", alguns minutos depois olho para as grades e vejo Júnior. Sorrio e aceno timidamente e ele retribui o sorriso. Menos de 5 minutos depois os portões se abrem, e aqui vou eu, pro inferno (novamente).

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⏰ Última atualização: Feb 08, 2016 ⏰

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