Pelos olhos de Michel Foster;
Um ano antes:
Sempre costumo vir até a floresta próxima a cidade Cristal. Somente gosto daqui por causa do silêncio arrebatador, que imerge a cada árvore por onde passo. Apenas o som do vento, que vem manso e devagar me desperta.
Sempre achei, que o silêncio fosse melhor á ouvir o alarde das pessoas.
Eu posso dormir nesta grama macia por mil vezes, que não irei me cansar.
Depois de duas horas, decido voltar para casa. Afinal, aqueles que me chamam de filho devem estar a minha espera. Apenas "devem". Tudo indica que não, mas prefiro pensar o contrario. E sim, mesmo com os 43 anos na cacunda, ainda resido com meus pais. Simplesmente, pelo fato de não ter achado a pessoa certa para me casar. Trabalho na loja de artigos infantis de Luci (mãe) e Clóvis (pai), então todos ficam felizes.
A poucos passos de sair da floresta rumo a estrada que leva a cidade, me vem o pensamento mais tosco. "Devem haver criaturas malignas neste lugar, e eu convivo com elas".
Um calafrio me faz ter medo, mas somente naquele instante. Depois tudo volta ao normal, e continuo amando meu cantinho. O cantinho que faz-me respirar ar puro.
Já adentrando em Cristal, avisto a alguns centímetros um homem sentado na calçada. Cabelos pretos desgrenhados, debaixo daquele boné com a inicial "A". Calça surrada e uma camisa branca por baixo de um casaco xadrez. Botas caramelo. Óculos.
Ele está distraído, escrevendo em um caderninho azul. Do lado, várias bolinhas de papel jogadas.
Olho para ele. Parece decepcionado e angustiado.
- Patrick? - digo em voz alta.
O homem levanta a cabeça, um pouco assustado. E logo abre um singelo sorriso.
- Olha, se não é meu amigão do peito! - fala alegrando-se, enquanto larga o caderno na calçada e levanta-se.
Abraço-o por alguns segundos.
Conversamos por um longo tempo. Patrick conta-me sobre seu fracasso como escritor. Seu trabalho nada divertido como corretor de imóveis (provavelmente o "nada divertido" foi referindo-se a uma falta de paixão pelo o que faz. Seu grande sonho é realmente ganhar a vida publicando enredos magníficos. Devemos priorizar que ele já escreveu incríveis histórias para o jornal local, mas não passou disso). Conta-me sobre seus filhos.
Ao nos despedirmos, vou direto para casa (pois não encontro mais ninguém para conversar).
- Mãe, estou em casa!
Devo dizer que Dona Luci não sabe de minhas idas a floresta, apenas contei sobre "saídas com amigos".
Sinceramente ela nunca se preocupou muito quanto a isso.
Subo as escadas. Quando abro a porta do quarto, Luci está lá fazendo uma pequena limpeza. Hoje saí sem ao menos arrumar a cama.
Por incrível que pareça ela não reclamou. Somente ficou com uma cara de "irei matar você".
Hoje a loja não abre, portanto estou de folga.
Patrick e eu nos conhecemos desde os 13 anos, quando o garoto magricela de pernas tortas se mudou para cá. Sinceramente, ele é o melhor amigo que alguém pode ter.
Curioso, altruísta, e ás vezes intrigante.
Ás 22:00hrs da noite, recebo uma ligação. Era Patrick.
- Oi!
- Quer vir aqui em casa? As crianças precisam da sua culinária afrodisíaca - diz Pat em tom de brincadeira.
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Patrick John e os sanguinários
Misteri / ThrillerQuando um escritor fracassado passa a ser atormentado por um universo sobrenatural, onde sua filha é brutalmente assassinada, ele cria uma coragem inimaginável e começa a travar uma luta entre o bem e o mal em uma busca por vingança. Será que o bem...