Pierre Verger, a quem se deve a cuidadosa coleta das lendas aqui apresentadas, viveu durantedezessete anos, em sucessivas viagens, desde 1948, pelas bandas ocidentais da África, em terrasiorubas. Tomou-se Babalaô em Kêto, por volta de 1950, e foi por essa época que recebeu do seumestre Oluwo o nome de Fatumbi: "Aquele que nasceu de novo pela graça de Ifá".A Editora Corrupio, dando continuidade à publicação da obra de Verger, sente-se mais umavez gratificada ao editar este conjunto de lendas, todas elas recolhidas e pacientemente anotadas porFatumbi, a partir das narrativas dos adivinhos babalaôs. Vale lembrar, entretanto, que as lendas aquiapresentadas não constituem senão uma pequena parcela do imenso universo de histórias que umadivinho é obrigado a memorizar no decorrer do seu aprendizado. Histórias que constituem, todaselas, testemunhos diretos e espontâneos da cultura ioruba, cuja influência na nossa cultura faz-sesentir de maneira tão acentuada.O desenho de Carybé, vigoroso e expressivo, aliado à sua intimidade com a coisas docandomblé e da Bahia, traduz com carinho, sensibilidade e cuidadosa informação etnográfica, oespírito da magia dos orixás.Algumas das lendas aqui reunidas já são conhecidas nos candomblés da Bahia, pelo "jogo dosdezesseis búzios". É o caso, por exemplo, da história de Oxum, onde ela aparece exigindo a oferendade Nkan. Outras, entretanto, são desconhecidas e entre elas podemos incluir as lendas de Oxóssi e deOxaguiã, em que se propõe, inclusive, a etimologia dos nomes desses orixás. A história de Ogumexplica ao leitor as razões pelas quais o deus do ferro é conhecido pelos nomes de Ogum Mejê, OgumAlakorô e Ogum Onirê.As origens históricas prováveis de Xangô, de Iemanjá e de Obaluaê são indicadas nas trêslendas referentes a esses orixás.Orunmilá, que preside a adivinhação, não é propriamente um orixá, mas o autor o inclui noconjunto das lendas porque ele aparece ao lado dos orixás e participa de suas aventuras. Uma destaslendas mostra sua rivalidade com Ossain, o senhor das virtudes das folhas e plantas medicinais elitúrgicas, refletindo a disputa pela primazia entre adivinhos e curandeiros. A supremacia atribuída aosadivinhos não surpreenderá o leitor se este se aperceber de que, tendo eles a missão de memorizar etransmitir as lendas conhecidas dos iorubas, podem, assim, glorificar facilmente seu papel nasociedade.A "Briga entre Oxalá e Exu" é narrada com bom humor, num estilo que lembra o de AmosTurtola em livros repletos de fantasia, como "O bêbado da selva", onde as aventuras são inspiradasnas mesmas fontes tradicionais que as lendas publicadas a seguir.A publicação dessas histórias tradicionais apresenta, ainda, o mérito de esclarecer certosequívocos difundidos há mais de um século, por autores comprometidos com suas próprias ideologiase seus preconceitos, e que jamais foram questionados desde então.Uma palavra final sobre a excelente tradução do original francês, em frases feitas por MariaAparecida da Nóbrega.
Arlete Soares
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Lendas Africanas dos Orixás
RandomLivro de Pierre Fatumbi Verger/Caribé. Ed. Corrupio. Um babalaô me contou: "Antigamente, os orixás eram homens. Homens que se tomaram orixás por causa de seus poderes. Homens que se tomaram orixás por causa de sua sabedoria. Eles eram respeitados p...