–Assine aqui, por favor.
Peguei na caneta e escrevi o meu primeiro nome, “Mara”. Assinei o contrato como nova segurança no turno da noite, no Freddy's.
O que poderia dar errado? Afinal era a pizzaria familiar mais conhecida da cidade, e eu precisava mesmo daquele emprego de verão.Começaria já naquela noite, como me pedira o meu novo patrão, Noah Mersey.
Eram já dez para a meia-noite, quando cheguei à pizzaria. Freddy Fazbear's Pizza, li no letreiro. Vestida no meu uniforme – blusa roxa, calça preta, distintivo dourado ao peito – e com as chaves do edifício numa das mãos. Entrei e fui até ao meu escritório.
12h00
Os sinos da igreja como ruído de fundo marcaram o início do meu turno. O meu trabalho seria vigiar a pizzaria, da meia-noia noite às seis, através de um monitor. Ah! E a caixa de música. Noah pediu-me para reativá-la remotamente de tempos a tempos, num botão no próprio monitor.
“–Essa coisa é bem antiga, e pode ficar presa se não funcionar por muito tempo. E não queremos deixar os nossos clientes sem parte dos nossos serviços.”
Noah fazia tudo pelos clientes (e, por consequência, pelo dinheiro). Até com as mascotes animatrónicas se preocupou, e substituiu-as por outras bem mais seguras, segundo o que me contava.
“–Sistemas de reconhecimento facial que detetam qualquer pessoa referenciada na base de dados criminal, e contatam imediatamente as autoridades. Pela segurança das crianças.”
Chamavam-lhes os animatrónicos Toy. No palco que conseguia ver a partir do monitor Freddy o urso, Bonnie o coelho e Chica a galinha (ou um pato,?). Noutra sala, estava o que era antes uma raposa, mas agora um emaranhado de peças. Robôs das personagens da pizzaria, que de dia andavam pelo edifício, mas que de noite ficavam parados. Imóveis.Se bem que a cidade era um lugar relativamente calmo. O trabalho ia ser, bem... Chato.
Apenas tinha passado uma hora, e os meus olhos doíam de olhar fixamente para um ecrã.
Lembrei-me então de quando era mais nova, e adorava também vir ao Freddy's. Ainda quando era o antigo restaurante, com apenas duas personagens.–Sabes, mãe, quando crescer, quero trabalhar aqui mesmo. Vou tocar guitarra como Golden Bonnie...
–Ainda ontem disse que queria ser astronauta!
–Eu ainda não tinha a certeza.
Como eu amava os antigos animatrónicos...–Gostas imenso deste lugar, não? - um dos seguranças, certa vez, perguntou-me.
–Sim! Um dia, vou ser um deles! – apontei para o palco onde os animatrónicos estavam.
–Vem comigo. Sei de um lugar que vais adorar!
Lembro-me de nunca ter visto esse lugar, pois a minha mãe chamou-me para ir embora.Eram já quase três da manhã. Câmaras, caixa de música, câmaras.
Afastei os olhos, que estavam já cansados, do monitor, e limpei os meus pensamentos, esquecendo a infância que queria mais ser recordada... Era irónico estar a trabalhar aqui, como dissera em miúda.
Voltei ao ecrã, mas, ao mudar para a câmara da sala principal onde estava o palco com os novos animatrónicos, um deles tinha misteriosamente desaparecido. Toy Bonnie faltava.
–Mas que raios...
Ao mudar para uma outra divisão a câmara, encontrei-o, debruçando-se para o que seria uma ventilação. Decidi ignorar. Provavelmente era algum erro do seu sistema que o fizera se mover, por momentos. Mas, agora, estava parado. Imóvel. E lá estava eu, a imaginar demais situações que nunca seriam reais.
Larguei de novo o monitor.
Respirei fundo, parei por uns minutos.
Imaginar...
“Clang!” “Clang!”, ouvi o som de algo a bater no metal. Ecoava pela ventilação que acabava numa abertura, grande o suficiente para até um dos animatrónicos, à minha direita. O barulho aproximava-se. Peguei na lanterna que estava debaixo da secretária, e apontei-a para a abertura, totalmente a descoberto. Acendi-a...