Capítulo 2 - Casa ao lado

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- Então... Vamos? - Perguntei, me virando para meus amigos atrás de mim.

- Claro. Já são quase nove. Precisamos nos apressar. - Concordou Dio.

- Sorte que a casa é praticamente do lado. - Cara anuiu, se dirigindo até a porta.

O ar do lado de fora estava frio, fazendo pequenas nuvens de vapor se erguerem quando falávamos. A casa ficava realmente muito mais sinistra quando era apenas iluminada pela luz tênue dos nossos celulares.

- Parece que vem tempestade aí... - Comentou Jules, observando o céu cinzento com os olhos semi-cerrados.

- Isso se esse cinza não for apenas a aura ruim dessa casa...

- Para, Dio! Quer me deixar com medo? - Repreendeu Cara, soltando um gritinho assustado. 

- Você já está com medo. - Disse John, claramente segurando o riso.

- Falou o cara que gritou igual a uma menina quando uma armadura velha te pegou. - Rebateu Cara revirando os olhos, e John lhe mostrou a lingua.

- Parem de brigar! Céus.. vocês parecem crianças. - Exclamei, já ficando sem paciência. - De qualquer maneira, vamos logo antes que cheguemos mais atrasados do que já estamos.. Desse jeito, serão os convidados que vão nos receber.

Todos assentiram em silêncio, e começamos a andar para a direita, ignorando o máximo possível o lago e grama sinistros, o que foi um pouco difícil, pois essa última ficou arranhando nossas pernas como garras de um animal que não quer perder a sua presa.

A casa do neto do Sr. Yani ficava incrivelmente perto de onde estavamos instalados; não sei como é que não reparamos nela quando chegamos aqui.

Era possível ver luzes acesas dentro da pequena casa de madeira, fazendo nós soltarmos suspiros aliviados ao constatar que pelo menos lá tinha energia elétrica.

Nos aproximamos da porta da casa, nos entre-olhando nervosos.

- Beleza... Agora, quem toca a campainha? - Perguntou Kátia, mas nenhum de nós tomou a iniciativa. - Ninguém? Ah, tá bom, eu toco. - Disse ela, revirando os olhos, já se aproximando do pequeno sino pregado na porta.

Porém, antes que Kátia sequer pudesse encostar nele, a porta se abriu, revelando um garotinho ruivo de mais ou menos cinco ou sete anos.

- Até que enfim vocês chegaram. Já estava ficando com medo. - Disse ele, olhando para todos nós ao mesmo tempo. - Entrem. Vovô fez chá antes de sair. Ainda deve estar quente... - Disse ele, andando alguns passos para trás para que pudéssemos entrar.

A casa era pequena, mas aconchegante. Um lustre que claramente tinha muita dificuldade para manter sua luz, iluminava a casa inteira com uma luz amarelada oscilante. Um pequeno sofá de couro remendado estava no canto, e na frente dele havia vários brinquedos velhos de madeira. 

O garotinho saiu correndo até uma porta que rangeu quando ele abriu e entrou por ela.

Um barulho de panelas caindo, seguido por resmungos foi ouvidos de onde a gente estava esperando, fazendo-nos entreolharmos nervosos.

- Aqui está. - Disse o garotinho se dirigindo até a sala, carregando consigo uma bandeja com sete xícaras de chá. - Se faltar alguma xícara, me avisem. Talvez eu tenha contado errado... Afinal, eu não sei todos os números ainda.

-Você contou direitinho, obrigada. É muita gentileza sua. - Agradeceu Kátia, pegando uma das xícaras.

- Meu nome é Vitor. - Disse ele, voltando para a cozinha saltitante assim que todos nós pegamos as xícaras. - Querem ver meus brinquedos?

- Adoraríamos. - Respondeu Cara, e Dio lhe lançou um olhar mortal, mas não disse nada.

Vitor correu até o sofá velho, na direção de seus brinquedos de madeira, e pegou um deles, indo até Cara.

- Aqui. Esse é o Duke. - Ele estendeu um pato sem cabeça para ela, que o pegou curiosa.

O objeto era um tanto quanto perturbador... Onde a cabeça deveria ficar, estava uma mancha de tinta vermelha, que escorreu pelo seu corpo. Realmente parecia que alguém tivesse comido sua cabeça ou algo assim, e a mancha de tinta fosse o sangue que escorreu.

Pelo visto, Jules pensou o mesmo que eu, pois eu senti seu corpo se estremecer ao meu lado.

- Porque ele está sem cabeça? - Perguntou Kátia encarando assustada o brinquedo por cima do ombro de Cara. 

- Ora, não é óbvio? Ele foi decapitado.

- D-decapitado? - A surpresa era visível na voz de Kátia. - Mas por que?

- Porque ele entrou na casa do Hemet, meu brinquedo favorito, para o matar. - Respondeu ele com a maior simplicidade do mundo, apontando para um palhaço de pano sem os braços e com a metade do pescoço cortado. - Afinal, essa não é a pena para as pessoas que invadem a casa dos outros?

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