Capítulo 6

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- É que conhecidência não? - Falou Joice.
- Que saudade de você! - Falou a abraçando.
- E eu, não fala comigo mais não?- Perguntei.
- Que saudade de você também.
- Acho bom você falar comigo. - Brinquei com Bia.
- Só um minuto... Vocês dois estão juntos? - Perguntou Beatriz.
- NÃO! Não! Não! Nós nos conhecemos no avião e ele estava muito ocupado até na hora. - Joice riu.
- Ata... Que azar o seu ter vindo com ele no avião. - Falava Bia rindo.
- Bia! Você não pode falar assim do seu irmão mais velho para a sua amiga!
- Desculpa é que eu não minto, e se passar a minha infância toda te aturando foi chato, imagina a minha amiga que nunca te conheceu tendo que ficar com você em um lugar fechado como um avião? - Beatriz se virou para Joice e falou - Amiga se eu fosse você teria me tacado de lá.
- A...
Então coloquei as malas para dentro de casa e sai correndo atrás de Bia, porém eu sempre fui mais rápido do que ela, então a peguei no colo.
- Dilan, me solta!
- Não! Até você me pedir desculpas. - Comecei a fazer cosquinhas na barriga de Bia.
- Dilan para! Mãe! - Falava ela rindo compulsivamente.
- O que está acontecendo aqui?
Falou minha mãe aparecendo na sala.
Para eu deixar as coisas mais ''claras'', a minha porta de entrada que é a qual eu e Joice entramos, fica na sala principal e a pequena corrida que fiz com Bia foi até a sala de jantar, e há um corredor que liga esses dois móveis da casa.
- Mãe, manda o Dilan me soltar.
- Dilan, solta a sua irmã! E vocês dois, por favor, parem! Eu não cuido mais de crianças!
-Olha só Beatriz vou te soltar só por que a minha mãe mandou!
- Me solta logo seu idiota!
- Mãe ela me chamou de idiota, não vou soltar mais não.
Então coloquei a barriga de Beatriz apoiada em meu ombro.
- Me solta idiota!
- Não estou nem te ouvindo. - Ignorei o insulto de Beatriz.
- Pelo amor de Deus, vocês dois parem! - Falou minha mãe em voz alta. E depois disso não tive escolha se não solta la.
- Mas, foi ela quem começou.
- Mentira mãe foi ele!
- Não quero saber quem começou! Vocês dois não são mais crianças!
- HAHA Bia, minha mãe te chamou de criança. - Falei apontando o dedo para Beatriz.
- Dilan! - Falou minha mãe.
- Desculpa. - Fiquei quieto, enquanto Beatriz me fuzilava com os olhos.
- Então mãe você se lembra da Joice? - Falou Beatriz tentando mudar de assunto, por um momento até esqueci que ela estava ali.
- Claro! Como vai querida? - Falou minha mãe a cumprimentando.
- Oi senhora Alice, vou bem graças a Deus.
- Um momento! Vocês duas se conhecem também?
- Óbvio Dilan! Eu e Joice fazíamos balé juntas Fizemos por dois anos, porém ela continuou e eu não, e a Joice já foi várias vezes lá em casa. Vai me falar que você não sabia?
- Não! Se eu soubesse que você ficava se ''abrindo por ai '' eu teria impedido.
- Dilan! Eu não tolero esse seu modo de falar aqui em casa! Mais respeito com a sua irmã.
- Você é muito idiota mesmo não é?
- Beatriz! Respeite seu irmão! Se vocês continuarem assim o próximo que falar lava as louças.
- Desculpe mãe. Eu não entendo, por que você nunca me apresentou sua amiga?
- Porque eu gosto muito dela e não queria que nada de ruim acontecesse com ela? Dã? E também com você por perto as coisas ficam meio difíceis de ''darem certo''.
- Ta bom, já chega vocês dois. Bia vai levar Joice para o quarto, e Dilan, você vai ter que dormir no mesmo quarto que o Roberto.
- Quem é Roberto?
- É o namorado da sua irmã.
- A bia tem namorado? - Meu sangue ferveu.
- Tenho Dilan, algum problema? - Se intrometeu Beatriz.
- Mãe por que a senhora deixou?
- Dilan, ele parece ser um garoto legal, de família.
- Não mãe, de família até o mendigo é!E eu não quero ficar no mesmo quarto que ele!
- Não seja infantil filho.
- Mãe você está pedindo muito, além do mais para o Dilan , isso é quase que impossível para ele . - Falou Beatriz rindo.
- Vai, continua ''tirando onda com a minha cara '' não se esquece de que sou eu que vou dormir no mesmo quarto que ele. Hoje ele pode esta vivo já amanhã ninguém sabe...
- Dilan, se você fizer alguma coisa com ele...
- Para de bobeira filho, ele é legal.
- Isso é o que veremos. Eu só não entendo uma coisa, como nessa casa tão grande não tem um quarto para mim.
- Dilan, mesmo nossa casa sendo grande, por enquanto só temos sete quartos, porém um é para a sua irmã e a Joice, um para mim, e o outro é para a sua irmã e o marido dela e o outro é para você, o restante dos quartos estão em obra.
-Então ta mãe, só não sei se ele estará totalmente ''bem '' no dia seguinte.
- Dilan, você não é nem maluco!
- Você sabe que eu sou.
- Mãe!
- Beatriz vai logo! Deixa que do seu irmão eu cuido, leve a sua amiga aos aposentos dela .
- Ta bom mãe.
Beatriz subiu as escadas com Joice, enquanto eu fiquei no primeiro piso da casa com minha mãe .
- Dilan , Dilan , você não muda mesmo ... Implicante toda vida. - Minha mãe ria consigo mesma .- Ta ... Vamos esquecer isso. Como você está?
- Bem...
- Eu te conheço... Tem algo errado... O que houve?
- É que eu conheci uma garota... Só que não deu muito certo...
- Você quer falar o que aconteceu?
- Não agora...
- Tudo bem então... Mas e no trabalho, vai tudo bem?
- Sim.
- E os meus meninos, como estão?
- Eles estão bem, bobos toda vida, mas bem - Ri comigo mesmo - Eles precisam é tomar um jeito!
- Imagino; mas e a sua saúde?
- Por enquanto está estável... Eu estou levando como dá...
- E você ainda vai a igreja?
Minha família é evangélica, e eu já fui, mas é que eu não consegui me conformar com um Deus que tenha feito isso comigo, e depois falam que Ele é bom? Para mim isso é uma piada.
- Não, eu parei.
- Por quê? Você deveria ser grato a Ele por ainda estar vivo.
- Eu sei que estou vivo, mas não é por causa Dele.
- Você sabe que é!
- Não é.
- Quer saber Dilan, você sabe que tudo isso que eu estou falando é verdade.
- Não mãe... Eu não sei... - Não que eu não concordasse com a minha mãe, mas essa era uma das coisas que eu comecei a discordar dela depois de algum tempo.
- Espero que um dia você consiga entender isso.
- É... - Falei confuso. - Mas, mudando de assunto... E a Elizabeth, ela já está ai?
- Já sim, ela está lá em cima com o Charles e o Nicholas.
- Ok, vou lá falar com eles.
- Tudo bem.
- Ah mãe...
- Oi.
- Parabéns.
- Obrigado filho.
Subi as escadas e me encontrei com Charles, que estava no quarto sentado em cima da cama brincando com Nicholas.
- Oi Charles. - Falei o cumprimentado e me sentando ao lado dele.
- Oi Dilan.
- Tio Dilan! - Falou Nicholas pulando em cima de mim.
- Fala ai amigão! - Falei abraçando ele.
- E então Dilan, como vão às coisas?
- Vão bem... E com você?
- Bom... - Charles riu meio sem graça - Está tudo uma loucura, mas está tudo bem, no trabalho as coisas não estão tão ruins.
- Você fala isso como se tivesse o pior emprego do mundo. - Ri.
- Mas é quase isso meu amigo.
- É claro Charles, a vida de advogado profissional é horrível! - Falei com deboche. - Você não tem direito a nada nem ganha um bom salário.
- Você sabe que não é bem assim né Dilan? - Charles riu. - Mas é que o meu trabalho às vezes me puxa muito e tem dias, que eu queria estar mais com a Elizabeth mas o trabalho me ''impede''.
- É, ao menos nessa vida de trabalhador eu te entendo...
Enquanto eu e Charles estávamos tendo essa pequena conversa, Nicholas ficava fazendo da cama seu pula- pula, e se jogando em cima de mim.
- E esse garotão aqui! Ainda dando muito trabalho? - Falei pegando Nicholas e o colocando no meu colo e fazendo cosquinha em sua barriga, Nicholas por si não parava de rir.
- Não, esse daí está até que direitinho.
- Ah que bom então!
Quanto mais cosquinhas eu fazia em Nicholas, mas ele ria, e quanto mais ele ria, mais ficava vermelho; Nicholas era totalmente diferente da minha irmã, ele havia puxado a família de Charles, pois ele era bem claro, quase branco, seu cabelo era liso como os da minha irmã mais era puxado para o loiro como os de Charles e seus olhos eram verde como os do pai ou como os meus, ou seja, Nicholas iria ficar a cara do pai quando crescesse já a minha irmã Elizabeth era completamente diferente de Charles, ela era de pele morena e gostava de usar seus cabelos lisos em corte curto que lhe batia no pescoço, tinha também olhos castanhos, ela não era muito alta, mas perto de Charles parecia uma anã, e apesar de sermos irmãos sempre fomos um pouco diferente, ao menos no físico, pois no jeito, isso eu posso lhe confirmar que éramos totalmente diferentes, Eu como irmão do meio puxei um pouco Elizabethe, porém somente na cor de pele morena e nos cabelos castanhos, pois sempre fui o mais alto, e eu tenho certeza que o mais bonito entre as duas, Beatriz sempre foi a mais clara em relação à cor da pele, tinha cabelos ondulados de um castanho bem claro, seu cabelo era comprido, onde batia mais ou menos em sua cintura e seus olhos eram cor de mel, até hoje eu sinto uma inveja daqueles olhos, pois eram os mesmos olhos que os do meu pai.
- Pare tio Dilan! - Falava Nicholas rindo.
- Só se você me prometer que também vai parar de pular em cima de mim.
- Ta, ta bom. - Falava Nicholas tentando se recuperar, sempre me impressionei com a facilidade de Nicholas para falar, ele tinha somente três anos, mais falava como uma criança de seis.
Nicholas pulou mais uma vez em cima de mim e saiu de cima da cama antes que eu pudesse pega-lo.
- Nicholas eu vou te pegar em! - Falei ainda sentado em cima da cama.
- Não vai nada! Por que você é velho! - Falou ele rindo.
- Aé? Então eu vou te pegar!
Insinuei correr atrás de Nicholas, mas não fui ele saiu correndo e gritando com aquelas perninhas brancas e gorduchinhas.
- O Nicholas ama passar tempo com você, e quando está na hora de irmos para casa ele pergunta se você vai vir conosco.
- E o que você diz para ele?
- Que você é muito chato, e que de chato naquela casa já temos ele.
- Haha! Muito engraçado, mas você não sabe o quanto eu o amo, eu queria poder passar mais tempo com ele, mas eu não tenho nem tempo para mim.
- É, mas tenta explicar isso para ele.
- Mas e a minha princesa, como ela vai?
- Dando despesas antes mesmo de nascer.
- É por isso que eu não tenho filhos.
- É melhor você não ter por um bom tempo, pois quando se tem filhos, a sua vida é outra.
- Obrigado pelo conselho, irei me lembrar, mas e a minha irmã? Ela está com quantos meses?
- Nove.
- Já.
- Sim, o tempo voa meu amigo.
- Vocês já escolheram um nome?
- Não, sabe como é a sua irmã não é?
- É, eu sei... - Ri.
- A Elizabeth parece um ovo de páscoa andando por ai, ela está enorme, mas seu eu falar isso para ela, ela me mata.
- Então deixa que eu falo.
- Você não é nem maluco Dilan!
- Eu não sei por que, mais eu tenho a impressão que já é a segunda vez que eu escuto isso hoje... mas tudo bem, vamos fazer uma corrida até lá embaixo, se eu ganhar eu falo, se eu perder não falo.
- Ta ok.
- Quando eu contar até três.
- Tudo bem.
Eu e Charles nos preparamos para correr, dois homens feito, brincando de corrida.
- Um... Três!
Sai disparado correndo e descendo as escadas, porém como éramos dois homens ''enormes'' tentando descer em uma mesma escada, não deu muito certo, quase caímos , eu empurrava Charles e ele me empurrava, parecíamos duas crianças. No final de tudo admito que deu empate, estávamos ofegantes e quase atropelamos Elizabeth, e realmente ela estava enorme.
-O que vocês estão fazendo? - Perguntou Elizabeth.
-Deu empate! - Falava Charles ofegante para mim.
-Mentira, eu ganhei! - Retruquei.
-Não! Empate.
- Tudo bem. - Concordei.
- Do que vocês estão falando? -Quando Elizabeth falou isso, Charles me deu um olhar ameaçador.
- Nada! - Respondi direto.
- Vocês dois estão me escondendo algo, e eu vou descobrir. - Falava ela rindo.
- Que isso amor, não tem nada disso. -Falou Charles abraçando Elizabeth pela cintura.
- Mas então minha irmã, como vai à gravidez? - Perguntei tentando mudar de assunto.
- Eu vou inchada, enjoada, com dor no pé, irritada... Você quer saber mais?
- Sim, TPM também faz parte da gravidez? - Perguntei rindo.
- HAHA! - Falou ela sínica.
- Mas como vai a minha princesa? - Falei passando mão na barriga de Elizabeth.
- Vai bem, e também está muito agitada. Sente só. - Elizabeth pegou a minha mão e colocou na lateral de sua barriga, e eu senti uma leve ondulação.
- Ai meu Deus! - No momento em que eu falei isso Charles riu.
- O que foi?
- Isso é estranho.
- É uma vida Dilan!
- É, eu sei.
- Mas e você, como vai à vida? -Perguntou Elizabeth.
- Complicada... Mas da para levar.
- Espero que de tudo certo então.
- Eu também.
Foi quando minha mãe me chamou na cozinha.
- Ei! Bonitão? Está muito ocupado ai?
- Não, por quê?
- Me da uma ajudinha aqui na cozinha.
- Claro.
Fui à cozinha, coloquei o avental e comecei a ajudar minha mãe. Ela pretendia fazer um banquete amanhã como ação de graças para comemorar o seu aniversário. Nós cozinhamos da tardinha até a noite, e eu falei para minha mãe sobre Barbara. Após termos terminado tudo, minha mãe se despediu de mim e foi dormir, eram mais ou menos onze horas da noite quando terminamos tudo, e mesmo com o cansaço, era bom estar em casa. Apaguei as luzes da cozinha e fui para o quarto. Quando entrei no quarto estava tudo escuro, eu acendi a luz e vi Roberto deitado no meu sofá, o meu quarto era bem grande, havia uma cama de casal no centro, um sofá - cama na lateral direita e uma poltrona na esquerda havia também, um banheiro, uma televisão e um ar condicionado e dois criados mudos em cada lado da cama, era um quarto pintado com as paredes azuis claras e em pensar que, aquele lugar já havia sido o ''meu reinado '', bom, me irritava ver outro homem ali, era como um insulto a minha masculinidade. Acendi a luz e Roberto continuou dormindo, ele era moreno, tinha cabelos castanhos, até parecia que malhava , mas isso não me intimidou, estava na hora de saber o que aquele homem queria com a minha irmã. Eu cheguei bem perto e comecei a cutucar o braço dele.
- Ei, ei, acorda! Agora!
- Ah, só mais um minutinho. - Falava ele ainda sonolento.
- Acorda! - Falei mais alto.
- Oi! - Acordou Roberto assustado.
- Senta. - Roberto se sentou rapidamente no sofá.
- O que houve?
- Eu não acredito que você está me perguntado isso! - Falei irônico.
- Me desculpe, mas eu não sei do que você está falando.
- Primeiro, vocês está no meu quarto, segundo, o que você quer com a minha irmã? - Admito que eu me senti em um filme de investigação criminal .
- Bom, eu estou no seu quarto porque me mandaram vir para cá, e as minha intenções com a sua irmã, são as melhores possíveis.
- Melhores possíveis, não me venha com esse papo! Eu já joguei essa conversa para muitas! Você trabalha com o que?
- Estou acabando de cursar a faculdade de medicina, e já sou auxiliar de médico.
- Então quer dizer que você faz a mesma faculdade que a minha irmã?
Beatriz quer ser médica e Elizabeth é empresária.
- Sim.
- E quantos anos você tem?
- Vinte e três.
-Onde você mora?
- Barra da Tijuca, Brasil, Rio de Janeiro.
- Você tem irmãos?
- Não.
- Então quer dizer que você é filhinho da mamãe.
- Não!
- Duvido.
- Sério.
- Você não me engana, por isso nem tente fazer nada contra a Beatriz! Esteja sempre de olho aberto.
- Isso é uma ameaça?
- Não, é só uma aviso. Boa noite.
Desliguei a luz do quarto e fui dormir. Me virei e revirei na cama, mas não consegui dormir; me levantei e fui até a cozinha. Quando cheguei lá vi Joice em pé, de frente a geladeira bebendo um copo de água, e quando a chamei ela tomou um susto e deixou o copo cair.
- Ah! - Gritou ela.
- Sua maluca! Por que você fez isso? - Perguntei rindo.
-Você me deu um susto! E olha só o que você me fez fazer! - Falou Joice catando os cacos de vidro do chão.
- Espera ai! - Falei me aproximando de Joice - Deixa eu te ajudar.
- Não precisa, eu acho que você já me ajudou bastante!
- Mas a culpa não foi minha.
- Ah não? - Perguntou ela irônica.
- Não! O que a senhorita está fazendo até essa hora acordada? São 2:30 da madrugada.
- Eu não estava conseguindo dormir... Então vim tomar um copo de água. E você?
- Também não estava conseguindo dormir. - Nos levantamos após ter limpado o chão.
- Que droga!
- O que foi?
- Temos algo em comum!
- Viu? Eu não disse para você que éramos alma gêmea?
- Você nunca vai desistir dessa idéia não é?
- Não, essa é uma idéia que eu espero que se realize.
- É melhor eu subir...
- Por quê? Você já está com sono?
- Não, para lhe dizer a verdade, mas eu prefiro ir tentar dormir a ficar ouvindo esse seu papo furado. Até dormir é mais construtivo do que falar com você. - Joice se virou e eu peguei gentilmente em seu braço.
- Por que você faz sempre isso comigo?
- Isso o que?
- Me trata com tanta desfeita.
- Eu te respondo isso quando você me falar o porquê você é tão idiota...
- Mas isso eu não sei te responder...
- Então eu não sei te responder também.
- Você quer ao menos tentar ter uma conversa descente comigo? - Perguntei a Joice enquanto eu me sentava a uma cadeira a mesa.
- Não.
- Por que não?
- Por que eu deveria?
- Porque agora vamos conversar direito.
- O que me garante?
- Se eu não conversar direito, você não precisa nunca mais falar comigo e eu não falo mais nada com você.
- Sério?
- Sério.
- Você promete?
- Prometo. - Joice se sentou ao meu lado.
- Do que você quer falar?
- Não sei...
- Você me convida para conversar sem ter ao menos um assunto?
- Você me pegou desprevenido. Fala você alguma coisa.
- Eu? Mas é você quem quer falar comigo!
- Já sei do que podemos falar!Ah deixa para lá...
- O que foi?
- Nada, eu ia falar algo idiota.
- Bem típico seu.
- Vou te ignorar... Agora uma coisa que não me cai a ficha é, você fez mesmo balé com a minha irmã?
- Sim, por três anos.
- Mas tinha vezes que eu ia buscá-la e eu a via com as amiguinhas, mas nenhuma delas se pareciam com você, tinha até uma gorduchinha que eu ficava perturbando. - Ri comigo mesmo.
- É, eu sei, essa era eu. - Na mesma hora eu me emudeci.
- Sério? Você está de brincadeira.
- Não. - Falou Joice séria.
- Bom... O tempo que você fez balé te fez bem. - Disfarcei.
- O balé me ajudou a perder peso.
- É, estou percebendo. - Dei uma olhada em Joice de cima em baixo.
- Mas você não mudou nada... Continua o mesmo bobão de sempre.
- Só que mais bonito e mais rico. Eu só não entendo o porquê você não me contou que me conhecia depois que você soube quem eu era.
- Por que eu não gosto de relembrar das coisas ruins, eu já te perdoei, e do meu passado não quero mais me lembrar.
- Não sei se isso serve de consolo, mas você era uma gorduchinha bonitinha.
- Dilan, me faz um favor?
- Claro.
- Cala a boca! Estou tentando fazer o certo, tem como nós mudarmos de assunto?
- Ok... E então Joice você tem família?
- Não Dilan.
- Você está meia salgadinha em...
- É que eu não gosto que me façam perguntas idiotas! Isso me irrita.
- Desculpa então Joice, fale para mim, como vai a sua família?
- Podemos falar de outra coisa?
- Admito para você que não sou muito bom para puxar assunto e minhas idéias estão acabando, então ou falamos disso ou de tapeçaria. Você escolhe.
- É melhor não...
- Vamos fazer o seguinte, se você me falar da sua, eu falo da minha. Pode ser?
- A sua família é perfeita.
- Perfeita?
- É! Todos são bem estruturados, estão sempre felizes, vocês até parecem que saíram de um programa de televisão.
- Joice há muito tempo essa palavra '' perfeição '' não existe na minha família, se você não sabe o meu pai morreu a dois anos atrás, o Nicholas mal se lembra do avô dele, e esse novo bebê nunca vai o conhecer, não vai ouvir as piadas ridículas que ele contava e nunca vai ouvir ao menos o som de sua voz, e eu? Você acha mesmo que sabe algo de mim? Joice eu posso morrer a qualquer momento, sou uma bomba relógio. Minhas irmãs não tiveram as melhores coisas do mundo por causa dos meus tratamentos ou você acha mesmo que nós nascemos com essa situação financeira tão boa? Eu tenho um problema de coração, eu posso piscar os olhos e não abrir mais, agora imagine essa doença desde os sete anos? Tendo de enfrentar médicos e mais médicos sessões e mais sessões de terapia, e isso também afetava as minhas irmãs, pois minha mãe por causa de mim, não tinha quase tempo para elas, e tudo o que temos agora é conquista, mas isso não compra a minha vida não é? E nem traz meu pai de volta. Agora me fala onde está a perfeição?
- Desculpa Dilan, eu não imaginava. - Falou ela sem graça.
- É Joice, ninguém consegue imaginar determinadas coisas quando elas só vêem dinheiro, casas bonitas e sorrisos, mas ninguém consegue imaginar o que tem atrás desses sorrisos.
- A minha vida também não foi um mar de rosas. Digamos que até os meus quinze anos ela foi perfeita, após eu fazer quinze anos a minha mãe morreu, o meu pai entrou em desespero e uma depressão horrível, ele foi despedido do emprego e eu tive que sair das minhas aulas de balé, depois disso o meu pai me obrigou a eu me prostituir e no dia da minha primeira sessão eu fugi e fui morar com a minha tia materna, ela continuou a pagar as minhas aulas de balé até que eu conseguir me formar e me tornei professora, e comecei a dar aulas, depois disso minha tia morreu, depois de alguns meses eu comecei a freqüentar a igreja, aceitei a Deus, perdoei o meu pai por tudo o que ele havia feito comigo, e depois disso eu venho vivendo um dia de cada vez, eu só estou aqui na casa de vocês porque eu achei que talvez eu pudesse ter um novo recomeço, a minha tia era professora de inglês então ela me ensinou a língua, e a Bia sempre foi minha melhor amiga e após a morte da minha tia ela tem me ajudado muito . - Joice já estava chorando.
- É, parece que as aparências enganam.
Me levantei da cadeira e fui abraçar Joice , ela me apertou bem forte e senti a minha blusa molhada pelas lágrimas dela . Quando der repente Beatriz apareceu.
- O que vocês dois estão fazendo aqui?- Joice enxugou as lágrimas e falou:
- Nada.
- Sério?
- É!
- Vocês dois estão tendo algo não é?
- Não!
- Joice, você não me engana.
- Estou falando sério, não é Dilan? - Falou Joice me cutucando com o cotovelo.
- É.
- Eu ainda vou descobrir o que vocês estão me escondendo, vocês dois abraçados a essa hora da madrugada?! Ai meu Deus, que bom que eu só cheguei na hora do abraço.
- Bia! Não está acontecendo nada entre eu e o seu irmão.
- Ta bom amiga. - Beatriz deu um meio sorriso.
- É melhor eu ir me deitar, já causei muito problema. -Disse.
- Boa noite Dilan. - Disse Joice.
- Boa noite meninas.
Subi as escadas e fui direto para o meu quarto, Roberto continuava roncando, me deitei na cama e fiquei pensando na conversa em que tive com Joice, e percebi que ela era um mistério para mim.

Acordei quando já eram umas 10:00 horas da manhã, ou seja, tarde. Olhei ao redor do quarto e percebi que Roberto não estava mais lá, porém ao menos ele deixou as coisas arrumadas. Sentei-me na cama, tudo ainda estava meio embaçado, mas mesmo assim me levantei , lavei o rosto e fui tomar café, esperando que Bia não tivesse ''visto nada '' e ter pensado que tudo não passou de um sonho, e que Joice não me odiasse.

Enquanto Meu Coração BaterOnde histórias criam vida. Descubra agora