Lua De Sangue

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Entrei em meu velho aposento dos tempos de Caçadora e me surpreendi ao constatar que tudo estava do jeito que deixei um ano e meio atrás. A cama de casal com lençóis brancos como nuvens, o grande espelho de 2x4 metros que se estendia por metade de uma parede e escondia um segredo atrás: o armário de armas e munições. Apenas os melhores e mais confiáveis Caçadores tinham um em seu quarto. O criado mudo ao lado da cama, com o telefone e o botão de emergência, minha estante cheia de livros sobre todos os assuntos, mesmo eu não tendo muito tempo de lê-los enquanto estava trabalhando, à direita haviam duas portas: uma dava para o meu closet, outra para o banheiro de mármore branco. Me dirigi ao closet enquanto Mike, trêmulo e apavorado seguia cada passo meu.
- Ei, Nick, o que é isso tudo? Onde eu estou? Porque eu estou aqui? - Perguntou Mike enquanto eu pegava minha "roupa de trabalho", que consistia em um macacão preto e justo, botas tratoradas e cheias de segredos, o coldre com munições e armas anti-Anjos e o comunicador ocular, que era como uma lente de contato que te permitia literalmente conversar por telepatia com outros agentes e com as Sedes.
- Mike, você está na Sede da Lua de Sangue, uma entidade que trabalha pelo bem da humanidade. Isso é tudo que tenho permissão de te dizer por ora. Agora, não toque em nada, vou tomar banho. Volto em 10 minutos. - disse, e saí, deixando um Mike mais do que frustrado para trás, sentado com seu traseiro cheio de areia na minha cama.
Entrei no banheiro de mármore que também estava idêntico a um ano e meio atrás. Liguei a ducha e entrei, enquanto tomava banho pensava no motivo pelos quais a Lua de Sangue iria querer que Michael Porto, aquela criança de 19 anos, inconseqüente e que só tinha tamanho, fosse um aprendiz de Caçador. Ele não tinha aptidão para isso, eu tinha certeza. Trabalhei durante 3 anos para a Lua de Sangue, mas cresci dentro dessa sede, eu sabia reconhecer quando alguém tinha ou não potencial. E Mike estava no contingente dos que não possuíam potencial. Desliguei a ducha enquanto os jatos de ar quente atingiam meu corpo e meus cabelos, e em menos de um minuto meus cabelos estavam completamente secos. Saí do boxe, vesti minha roupa de Caçadora, prendi meus cabelos em uma trança, calcei as botas e saí, sem pensar em nada além da reunião que aconteceria em 20 minutos.
Mike estava sentado na cama, e quando saí ele me olhou com olhos arregalados e falou:
- Cacete, quem é você?
- Michael, vá tomar banho. Vista isso e calce essas botas. Você calça 43, certo? - falei, entregando a ele as roupas cinzas de aprendiz e os coturnos pretos.
- Sim - respondeu, já entrando no banheiro.
Assim que Mike entrou no banheiro, fui abrir o armário de armas para trocar a Glock que Dom havia me dado, mas parei em frente ao espelho, surpresa. Fazia um ano e meio que eu não me via daquele jeito: como uma Caçadora. Eu tinha apenas 15 anos quando comecei a Caçar Anjos sozinha, mas meu treinamento havia começado 10 anos antes. Aos 15 anos, eu era letal para quase qualquer ser vivo. Mesmo os Demônios mais experientes que haviam me ensinado já não eram mais páreo para Nicole González Dawson. Eu poderia matar um humano com minhas próprias mãos, sem precisar de balas, facas ou flechas. Olhei para meu reflexo no espelho: com 1,65, cabelos loiro escuros um pouco abaixo dos ombros, olhos grandes e redondos e rosto em forma de coração, eu poderia parecer meiga. Mas eu não era, nem um pouco.
Parei de dissertar e abri o armário, vendo a quantidade impressionante de armas anti-Anjos que havia ali dentro: balas de cobre, flechas de cobre com pontas cegas, bestas, arcos, facas de cobre, pistolas de todos os tipos, submetralhadoras, metralhadoras e as minhas preferidas: os besouros. Era assim que chamávamos as bolas cheias de pontas proeminentes feitas para grudarem na carne dos Anjos e penetrarem fundo, e depois explodir, fazendo os anjos em pedaços. Peguei uma faca, duas pistolas, uma submetralhadora e as munições e comecei a me preparar para sair. Mike saiu do banheiro vestido com as roupas de aprendiz, que caíam perfeitamente. Ele me olhou e perguntou:
- É sério? A minha melhor amiga é a Viúva Negra? - Ele podia estar apavorado, mas nunca perdia o humor.
- É, sou. Vamos, Michael. Temos uma reunião e um Dom furioso a enfrentar. - falei, estendendo a mão para Mike, que estava tremendo visivelmente.
E saímos do quarto, andando pelo labirinto subterrâneo que era a Sede em direção à Sala de Controle.