-Sofia, esses são seus colegas de quarto, Marcus e Felipe, espero que vocês se deem bem, agora eu tenho que ir- Monique se retirou.
Ótimo eu já não tinha amigas meninas, agora vou ser obrigada a dividir um quarto com dois meninos. Sentei na cama e observei meus novos colegas de quarto, Marcus tinha cabelos lisos bem escuros e os olhos negros grandes, Felipe tinha cabelos castanhos e olhos cor de amêndoas. Isso provavelmente seria as únicas coisas que eu conseguiria saber de meus colegas de quarto, eles pareciam estar surpresos com o fato de dividirem o quarto com uma menina. Na verdade eles também não parecem ser muito sociáveis, nós ficamos nos encarando e continuamos nessa até a sirene tocar.
Saímos do quarto e fomos para o salão, pelo que eu tinha entendido, era lá que seria servido todas as refeições. O salão era grande, tinha várias mesas redondas com apenas 3 cadeiras, cada mesa tinha um número, significava que deveríamos nos sentar no local que estivesse com o número do nosso quarto, meu quarto era o 18, então nos dirigimos até a mesa 18, lá tinha três pratos tampados, os pratos tinha os nomes de cada um, eu peguei o que tinha o meu nome, Marcus e Felipe fizeram o mesmo. Nós estávamos meio desconfiados, a comida servida era espaguete com almôndegas, cada prato tinha quantidade diferentes. Como eles sabiam o tanto de comida que cada um conseguia ingerir? Jantamos em silencio, as outras pessoas que estavam no abrigo também pareciam meio assustadas, ninguém conversava com ninguém, acredito que eles sejam antissociais ou só estão desconfiados ou eles podem ser as duas coisas assim como eu. A sirene toca e cada um volta para seu quarto. No caminho, uma menina começa a me encarar, ela era ruiva dos olhos castanhos, ela não parava de me olhar, comecei a ficar com medo. Ela parte para cima de mim, mais agora não parecia mais humana, parecia ter sido infectada, eu não sei o que fazer, não tenho como me proteger, cadê todos os seguranças daquele lugar? Ela pula em cima de mim e me vejo no chão, começo a segurar a cabeça dela, mais apesar de ela ser magricela parecia ter adquirido uma força fora do normal, ela me encara nos olhos, sei que era o fim, mais então algo arremessa ela para longe de mim, olho para cima e vejo que foi Marcus que arremessou algo na menina, ele me encarava com aqueles olhos grandes, olho para o lado e vejo a menina desacordada na parede com um balde de ferro caído ao seu lado, porque raios tem um balde de ferro nesse local? Nem sabia que baldes de ferros existiam, alguém me ajudou a levantar, olho para cima e vejo que é Felipe. Todo mundo começa a sair correndo para o seu quarto, e nós também vamos, entramos lá dentro aflitos e assustados, ouvimos a voz de Monique ecoar pelas salas, ela dizia ' não se preocupem, o que aconteceu aqui já está sendo resolvido, garanto que o que aconteceu hoje não irá se repetir'.
-Mas o que está acontecendo? Todo mundo está infectado agora?- disse Felipe meio confuso.
-Não sei... acho que ela já deveria estar infectada quando entrou aqui- Falei numa tentativa de puxar assunto.
-Mas eu achava que aqui era seguro, que eles conseguiam saber se a pessoa estava infectada ou não, depois do tanto de perguntas que me fizeram para entrar aqui, provavelmente já dava para descobrir algo.
-É, bem estranho isso- não conseguia pensar em muita coisa para falar.
Marcus estava no sofá, observando tudo com aqueles olhos grandes, aparentava estar sem nenhum pingo de interesse, provavelmente estava achando tudo um tédio, ele com certeza não curtia conversar, parecia ser super na dele.
Eu e Felipe não falamos mais nada. Um tempo depois de ficarmos olhando para o nada, refletindo sobre tudo que andou acontecendo nesses últimos dias com cada um de nós, Felipe tomou iniciativa e apagou a luz para irmos dormir, os meninos ficaram no beliche e eu fiquei na cama de casal, bem justo. Fechei meus olhos e apaguei.
Acordei no meio da noite, isso quase sempre acontecia, me virei para o rumo do sofá e tomei um puta susto, lá estava o Felipe sentado no sofá azul, imóvel olhando para algum lugar fixo no qual não consegui identificar, com certeza ele estava viajando legal, observei ele um pouco mas ele percebeu então desvie o olhar no mesmo instante.
-Nossa eu não sou único que acorda no meio da noite e não consegue dormir de novo- Ele disse com um sorriso sarcástico, ai que menino besta.
-Ah claro, até porque no mundo existem mais de 7 bilhões de pessoas e você seria o único que acorda no meio da noite.- Falei desfazendo o sorriso sarcástico dele, que a propósito era muito bonito.
-Nossa, que menina mal humorada, não sabia que tentar puxar um assunto saudável com alguém que acorda e fica te olhando no meio da noite resultasse nisso.
É talvez eu tenha sido um tanto grossa. Ou não.
-Na verdade na maioria das vezes não se resulta nisso, mas eu costumo acordar de mal humor, só isso. E eu não estava te olhando.
-Ok... eu devo estar ficando cego.
-Ou talvez você não tenha enxergado direito porque está tudo meio escuro.
-É talvez...
-Será que dá para vocês dois calarem a boca! Meu Deus, não ligo se vocês têm insônia ou não curtem dormir, mas tem uma pessoa normal nesse quarto que consegue dormir e curti muito isso, então se vocês respeitassem e fingissem que conseguem dormir, com certeza seria uma enorme gentileza- nem preciso dizer que era o solitário gótico decidindo mostrar que não é mudo.
-Nossa, parece que você não é a única estressada por aqui.
-Percebi.
Uma ideia muito retardada me surge na cabeça e por impulso do momento eu jogo com toda minha força meu travesseiro na cabeça de Marcus, que por sorte dormia na cama de baixo do beliche, o que fez a mira ser certeira. Felipe me olhou, ele parecia não saber se dava risada ou se escondia em algum lugar.
-Se sua intenção foi tentar deixar o momento mais descontraído e pensou que eu iria começar a rir e jogar o travesseiro de volta, se enganou. Agora se não for difícil pra vocês falarem um pouco mais baixo para a terceira pessoa desse quarto conseguir dormir, eu agradeceria- Marcus disse isso e jogou o meu travesseiro de volta.
Eu e Felipe nos encaramos por algum tempo sem reação, então ele sinalizou para sairmos do quarto. Não entendi muito bem, nem sabia se a gente podia sair do quarto sem permissão, mas segui ele. Quando saímos para fora, uma luz meio fluorescente que dava um ar meio fantasmagórico iluminava o corredor, não havia janelas em nenhum canto, nenhuma saída para o mundo exterior, tudo fechado, parecia que estávamos presos em um grande cubo, Felipe me olhou e disse.
-Pensei em vir aqui para respirar ar puro, mas tinha me esquecido que tudo aqui parece meio artificial
-Porque será tudo é tão fechado? Da uma sensação de sufoco constante
-Não sei... Acho que talvez seja para proteger desse tal 'vírus'
Eu e Felipe continuamos andando até o final do corredor e nos aproximamos de uma porta um tanto diferente, ela era vermelha, começamos a ouvir umas vozes, mas eu não consegui identificar sobre o que conversavam. Quando eu estava conseguindo entender algumas partes, Felipe cutucou meu ombro e disse.
-Vamos sair rápido daqui, essas vozes estão se aproximando da maçaneta
Começamos a dar passos rápidos na intenção de nos afastar o quanto antes dali. Quando estávamos a uma distancia saudável, na qual a luz fluorescente e o tom fantasmagórico disfarçava nossos corpos, a porta se abriu, congelamos no mesmo instante, dirigi meu olhar para porta aberta e me esforcei para manter a calma. Consegui identificar 4 pessoas saindo de lá, por sorte eles não olharam na nossa direção, a ultima eu identifiquei que era Monique, aquele coque bem feito eu identifico de qualquer lugar. Esperamos até não conseguirmos mais identificar aqueles corpos e nos deslocamos até o nosso quarto em passos largos. Entramos no quarto assustados e exaustos, nos entreolhamos e concordamos em irmos descansar e comentar sobre isso amanhã.
