Não consegui dormir direito durante a noite, na minha cabeça passava cenas de tudo que tinha acontecido durante o dia anterior, e por mais que eu tentasse ligar informação com informação, nada fazia sentido. Tudo foi muito rápido, eu tomei as decisões muito rápido, assim que acordei e não vi meus pais já arrumei tudo e vazei. Muitas coisas podem ter acontecido, eles poderiam apenas ter acordado mais cedo, ouvido todas as pessoas gritando, saído para tentar entender o que tinha de errado lá fora, e acabaram perdidos em meio a multidão. Ou diversas outras alternativas.
A mulher da lanchonete caída aos pedaços, poderia ser uma louca que me encaminhou literalmente para o abate, e os adolescentes pálidos com cabelos coloridos que se alto intitulavam 'Distintos' podem só ser adolescente revoltados com o mundo e a sociedade. Percebo como fui inocente e só segui tudo sem nem me questionar sobre o que realmente poderia estar acontecendo. Claro que o fato de as pessoas estarem agindo que nem loucas lá fora, comprovava que algum vírus ou sla, algo tenha sido espalhado. Mas pelo que? Pelo governo? Algum experimento maluco de um cientista? Não faz sentido algum. E o lugar onde estou? O que é isso? Como um 'abrigo' seria construído tão rápido? Será que já previam que algo do tipo iria ocorrer? Então isso já tinha sido planejado antes? Não faz sentido! Já sinto uma dor de cabeça fortíssima. E então de repente sou incomodada por um barulho alto e agudo que atrapalha minha falha tentativa de dormir, a sirene toca.
Que? Então já é dia? Aqui dentro perdemos total noção do tempo, não tem qualquer saída para o mundo exterior, não dá para saber que horas são. Olho para o lado e vejo Felipe acordando, Marcus está bocejando e esticando os braços e eu estou numa tentativa frustada de fazer força para o meu corpo se levantar da cama, ouço a voz de Monique ecoar alto pelos corredores.
- Bom dia a todos! Espero que tenham tido uma ótima noite de sono.
Na verdade foi péssima- pensei comigo mesma.
-Bem, sei que muitos devem ter ficado assustados com o ocorrido de ontem em relação a menina ruiva que teve um surto, mas pesso que não se preocupem, foi apenas um pequeno acidente, hoje por precaução iremos fazer exames em cada um de vocês após o café da manhã
Ótimo -eu pensei- provavelmente mais uma hora respondendo várias perguntas e irão tirar meu sangue.
-Podem se levantar, o café da manhã espera por vocês!
Ouvi Marcus se levantar da cama e logo em seguida me levantei também, olhei para Marcus e ele parecia ter tido uma noite boa, do contrário, ele sabe disfarçar muito bem suas expressões e sentimentos, pois parece estar com a mesma cara de desinteresse. Felipe levanta e me dá um sorriso de lado meio forçado, aparentava cansaço, parece não ter dormido muito bem também. Eu abro a porta do quarto e saímos em direção ao grande salão aonde, pelo visto, é servida todas as refeições.
Ao chegarmos nos dirigimos até a mesa 18, nosso café da manhã era torradas, suco de uva e uma laranja. Eu recebi só 2 torradas, Felipe e Marcus ganharam 3, achei injusto, mas depois que comi tudo percebi que estava perfeitamente satisfeita, é como se tudo que eu precisasse até a hora do almoço estivesse concentrado apenas naquilo, como eles poderiam saber?
Depois do breve café da manhã pediram para a gente se encaminhar até a sala com o número 205, ela não ficava no mesmo corredor do nosso quarto ficava no segundo corredor ao lado do nosso, não tinha como a gente ter acesso até aquela parte a não ser que passássemos pelo grande salão, era como se estivéssemos separados por vagões e o grande salão ligasse tudo. Aquele corredor era igual ao nosso, e eu suspeitava que todos fossem exatamente iguais na verdade. Na porta da sala 205 tinha uma fila gigante, chegamos e nos acomodamos, o que tinha a se fazer era apenas esperar. Felipe me encarou e percebeu que Marcus estava distraído, então se aproximou de mim e susurrou
-Você acha que aquelas 4 pessoas que conseguimos identificar ontem, estavam apenas conversando sobre o acontecimento de ontem e pensando nas precauções, ou acha que possa ser outra coisa?
-Olha eu estou muito confusa, eu identifiquei claramente que Monique era uma das pessoas que estava lá, mas no primeiro momento pensei que só estivessem conversando a respeito da segurança e pensando nas precauções. Porém relembrando melhor o acontecimento de ontem e levando em conta nossa atual situação na qual não conseguimos ter nenhum contato com o mundo exterior, nem mesmo uma janelinha, em como as pessoas lá fora estão estranhas e como tudo aqui parece muito artificial, estou começando a levantar a hipótese de que talvez isso aqui seja obra de algo maior.
-Também pensei muito sobre isso, e não sei se você conseguiu identificar, mas as pessoas de ontem a noite se vestiam de maneira muito formal, pareciam ser importantes.
-Será que isso tem algo haver com alguma agência terrorista que tenta dominar o mundo? Ou será que é o governo? Ou sla gente louca tentando acabar com o mundo?
-Não viaja tanto Sofia, tá que tudo isso é muito estranho mas não estamos em condições precárias e até agora não nos trataram nem um pouco mal, talvez isso seja mesmo um local bom.
- Mas você não acha estranho o fato de as coisas terem ficado estranhas ontem, e o abrigo já estar pronto hoje?
-Você não sabe se as coisas ficaram estranhas ontem, as vezes isso já vêm acontecendo a um bom tempo, e só afetou o local onde vivemos agora.
-Mas se isso já estivesse acontecendo a um bom tempo teríamos pelo menos algum tipo de notícia no jornal ou na internet.
-As vezes a mídia e o governo escondem coisas para manter a população calma.
-Então isso indica que o governo está por trás disso.
-Não necessariamente, as vezes o governo tinha a informação de que algo estava acontecendo, e decidiu construir 'abrigos' como esse para proteger a população, podem ter mais desse aqui espalhados por aí.
-Proteger a população ou proteger apenas os jovens? Porque na placa que encontrei a caminho daqui estava bem claro 'Abrigo para jovens', e podemos ver claramente que só tem jovens aqui, nenhum adulto.
-Tudo bem, isso é realmente um pouco estranho, mas deve ter alguma explicação que ainda não identificamos, talvez existam abrigos para jovens, para adultos, crianças, idosos e etc.
-Ainda acho muito suspeito.
Senti alguém me cutucar e percebi que era Marcus
-Não é querendo estragar o papinho de vocês, mas já chegou na nossa vez.
Eu e Felipe nos olhamos, será que Marcus ouviu algo? Será que também partilha da mesma incerteza? Entramos na sala e olhamos para a enfermeira ou seja lá qual for a profissão daquela mulher e ela encaminhou cada um de nós para um quartinho separado. O quarto parecia aquelas cabines fotográficas, a diferença é que era totalmente branco, tinha uma TV pequena e uma cadeira em frente, entrei e me sentei, era apertado ali dentro, meio desconfortável. Assim que me sentei a televisão ligou e pude ver Monique aparecer, ela como sempre simpática, coque perfeito e batom vermelho, começou a explicar um pouco sobre a possível causa do que poderia estar deixando as pessoas com o comportamento estranho, ela informou que acha que foi algum tipo de vírus (como eu já havia suspeitado) que se espalhou, que talvez fosse algum cientista louco ou algum maluco querendo brincar de criador tentando transformar as pessoas em seres humanos mais fortes e avançados, eles ainda não encontraram uma cura, mas conseguem identificar se a pessoa já foi infectada ou não, ela deu um tchau simpático e a tv desligou. Apenas isso, sem explicação do abrigo, quanto tempo ficaremos aqui, com base em quais recursos isso aqui foi construído e porque o abrigo é só destinado a jovens. A porta se abriu e a enfermeira me chamou, ela me sentou em outra cadeira e disse para eu esperar um pouco, voltou logo em seguida com uma seringa, mas pude perceber que não era de coletar sangue, e sim de injetar algo, identifiquei que era um líquido azul claro, ela me olhou nos olhos e disse
-Respire lentamente e relaxa que não vai doer.
Eu estava um pouco assustada, quando senti a agulha no meu braço, uma sensação de queimação invadiu meu corpo, e ela só foi aumentando, parecia que eu estava pegando fogo por dentro, comecei a tremer e quando me dei conta já estava inconsciente.