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— Nossa eu to surpreso... quanto tempo eu dormi pra você ter ficado tão linda assim? — Ele perguntou me encarando quando entramos no carro e dei risada.

— Por cinco anos acho. — Ergui a sobrancelha e ele revirou os olhos sorrindo.

Fomos em silêncio o caminho todo, acho que nós dois sabíamos que começar o assunto era delicado demais, então estávamos guardando tudo pro momento certo.

— Ah você tá de brincadeira né Pedro. — Falei assim que ele estacionou no restaurante em que nos conhecemos.

— O que? Você quer ir em outro? — Ele se fez de sínico e encarei ele.

Quando vi um sorriso idiota se instalar no seu rosto eu soube exatamente o que ele queria, acho que certas coisas não mudariam nem em mil anos.

— Não, esse tá ótimo. — Falei dando de ombros.

Começar de novo, acho que era isso que passava pela cabeça dele... nada mais justo que me trazer onde nós dois nos conhecemos.

Senti a nostalgia tomar conta de mim quando entramos, aquele famoso Dejavu fez todos os pelos do meu corpo se eriçarem.

— Duas taças de vinho. — Pedro pediu apontando no menu e o garçom assentiu.

Respirei fundo guardando a vontade de matar ele e sorri.

— Caraca... faz muito tempo que eu não venho aqui, tinha até esquecido da cara de bunda que os garçons fazem pra gente. — Ele falou e dei risada.

— Até que esse foi gente boa. — Falei ainda rindo e ficamos nos encarando.

— Você tá melhor? — Ele perguntou enquanto o garçom nos servia e assenti.

— Acho que... nada mais me abala.

Ficamos nos encarando, eu sabia que ele diria uma hora ou outra.

— Eu sei que você sabe sobre o tanto de coisas que quero perguntar, que quero dizer... que eu preciso dizer na verdade. — Ele engoliu em seco olhando pro copo. — Não sei como perguntar isso porque toda vez que penso no que te causei sinto uma sensação estranha me preencher sabe? Eu tentei não pensar nisso, mas é torturante porque continua ali igual... igual...

— Igual uma ferida que não cicatrizou. — Nossos olhos se encontraram e ele assentiu. — sinto que muita coisa não foi esclarecida, tudo acabou muito rápido, tudo aconteceu muito rápido e acho que eu nunca parei pra pensar em nada com tanta força igual nessas últimas semanas, infelizmente eu sinto o mesmo que você, a gente tem uma ferida enorme que precisa ser curada se quisermos criar nossa filha sem conflitos entre nós.

— Eu... pensei que só eu sentisse isso, é tão bom saber que você também sente. — Vi seu semblante relaxar. — quero saber tudo Maju. Nao sei como isso pode resolver as coisas, mas eu acho que preciso ouvir tudo que te causei pra poder me perdoar.

— Foi difícil Pedro. Não vou dizer que as coisas foram fáceis depois daquilo, acho que as dores que eu sentia no corpo por causa da gravidez não doíam tanto quanto as do coração. Você me traiu, eu me culpei tanto, repensei e tentei achar onde errei, e foi aí que a depressão começou. Eu me sentia feia, sem graça e... — Respirei fundo tentando não chorar. Ele negou me encarando com tristeza. — Cada dia era pior que o outro, eu sonhava com você, via nossas fotos, ouvia as pessoas daqui falando e tudo isso me destruiu... até que um dia eu acordei e vi que o nosso casamento estava se desfazendo aos poucos, você só colocou um ponto final, vi que a Duda precisava de mim, que eu precisava seguir. Aí veio o Bruno, eu me apeguei a ele, ele me ajudou a cuidar da Eduarda, a superar o resto de dor que tinha até que passou. Eu sonhava e não acordava mais triste, guardei todas as fotos e não revi nenhuma, parei de me culpar... e passou.

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