T r i n t a e u m

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Acordei assustada.

Olhei em volta arfando e percebi que ainda estava escuro, passei a mão na barriga e senti o pequeno relevo, respirei fundo deitando de novo.

— Mamãe? — Duda sussurrou do meu lado e abracei ela.

— Volta a dormir amor. — Sussurrei de volta.

Meu coração estava disparado e praguejei por ter perdido o sono, já era a terceira noite seguida que eu tinha esse maldito pesadelo.

Todos eram iguais, eu estava prestes a ganhar meu bebê e acabava desmaiando durante o parto, quando acordava ninguém me ouvia, eu não podia pegar ele e todos estavam chorando, era como se eu tivesse... morrido.

Me lembrei da consulta, era hoje. Finalmente eu tiraria essa preocupação constante de que alguma coisa aconteça... ou talvez tivesse a resposta definitiva de que vai dar tudo errado.

Senti o bebê mexer de leve. Alisei a mão pela barriga e sorri com isso... ele tinha começado a fazer movimentos preguiçosos desde a semana passada, eu queria poder falar pro Pedro, mas ultimamente quem buscava e levava a Duda na escola era a Francine.

Segundo ela o Pedro estava ocupado demais na empresa, mas eu sabia que era por conta da nossa última conversa... talvez pra superar precisemos estar longe, e apesar da saudade doer, eu sabia que lá na frente isso me faria bem.

Essas últimas semanas tinham sido corridas, acho que voltar pro escritório foi a melhor coisa que eu fiz, não tinha muito tempo pra pensar em tudo isso, e quando tinha eu tentava não pensar.

Olhei pela janela vendo a luz da lua clarear o quarto. Eu juro que tentava dormir, mas a ansiedade do dia amanhecer e eu passar logo nessa consulta era maior, saber que sexo é meu bebê, saber se tá tudo bem e... me apegar nisso pra continuar sobrevivendo à esses dias cruéis.

Fiquei a madrugada toda acordada pensando e repensando mil coisas que deveriam estar enterradas, até conseguir finalmente pegar no sono antes de amanhecer.

— Mamãe... — Ouvi um sussurro de longe sentindo alguma coisa sob meu rosto. — Mamãe acorda o papai tá lá embaixo.

Sentei na cama de uma vez assustando a Duda, ela deu um gritinho tapando a boca e encarei ela rindo.

— Desculpa filha. — Dei risada e ela sorriu. — Você disse o que?!

— O papai tá lá embaixo... disse que você precisa ir no médico, pediu pra eu subir e te acordar, e se você não acordasse pra eu falar pra ele, porque ele ligaria pra ambulância. — Duda repetiu tudo com calma tentando lembrar de tudo.

— Céus... seu pai é muito dramático. — Revirei os olhos levantando.

— O que é dramático?

— Ele exagera demais nos sentimentos dele, mas espera... se ele tá aqui, que horas são? — Perguntei olhando no relógio. — Meu Deus eu to atrasada.

Entrei no banheiro correndo e esqueci que a Duda precisava se trocar também. Merda! Maldito pesadelo que me fez perder o sono.

— Duda, pede pro seu pai ajudar você a trocar de roupa que eu já vou!! — Berrei do banheiro e ouvi um "tá bom".

Eu odiava não tomar banho de manhã, mas era o jeito. Vesti uma roupa qualquer só tomando cuidado pra não parecer tão desleixada, prendi o cabelo e tentei arrumar a cama... o que foi em vão porque ficou uma porcaria.

Peguei minha bolsa e sai no corredor escutando os dois conversar.

— Misericórdia eu... não to... conseguindo. — Pedro falou em pausas e abri a porta do quarto.

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