Talvez... o primeiro amor

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Conversavam sentados no balanço da antiga casa de Marina, onde apenas sua avó materna morava. Aos poucos foram parando de balançar e Pedro notou o olhar da menina ao relógio de pulso.

- Eu tenho que ir.

- Mas já? Está cedo ainda.

Ambos no início da adolescência, o menino a fitava intranquilo com seus olhos escuros e profundos. Os olhos verdes dela retribuíam naquele instante e parecia não saber o que responder, por ter receio de prometer e falhar.

Marina mexeu nos cabelos lisos e curtos, ligeiramente desconsertada; nem ela desejava ir.

- Meus pais querem voltar cedo pra casa, vamos embora. – Disse formando um sorriso ligeiramente triste.

- Promete voltar quando ficar mais velha? – Estendi o dedo mínimo para ela, esperançoso.

- Prometo. – Entrelaçou o próprio ao meu.

Então se distanciaram. Os pais da menina não tiveram escolha, obrigando a toda família viajar e fazer morada noutro lugar, aumentando a distância, antes desprezível.

Por telefone ou mensagens de celular, não era a mesma coisa.

Não sentiam aquela ansiedade, pois era sabido que não veriam a expressão do outro, não ouviria a quebra das palavras ao gaguejar, não sentiria o suor das mãos ao menor toque ou o leve tremor nas mesmas; o outro não poderia olhar nos olhos alheios e perceber aquele receio que era capaz de bloquear palavras, impedir uma fala correta ou mesmo pensamentos. Através de uma tela, não era a mesma coisa. E eles queriam sentir.

Quando era o dia em que Marina voltava para a casa da avó, era o dia em que sentiam a ansiedade e seu conjunto de sintomas, o conjunto que indicava a felicidade. Sentiam então aquela ansiedade, pois o outro veria sua expressão, o ouviria gaguejar, sentiria o suor das mãos ou o leve tremor nas mesmas; o outro poderia então olhar nos olhos alheios e perceber aquele receio que era capaz de bloquear palavras, impedir uma fala correta ou mesmo pensamentos. E eles queriam sentir, era algo novo e bom.

E quando se encontravam, era como se houvesse um show de fogos dentro do peito, o sentindo acelerar totalmente para depois quase parar ao trocar olhares, para surgir um sorriso em seguida e não sentirem mais nada ao redor; e guardavam, ocultando um do outro, contendo exageros por quererem matar aquela saudade existente entre eles antes de qualquer outra coisa. E foi o que sentiram naquele dia. Até o momento da despedida.

Talvez Marina tivesse logo uma nova chance para se confessar, assim que seus pais pudessem trazê-la àquela cidade novamente. Talvez não perdesse a próxima chance ante de qualquer nova despedida. Ou talvez um dia ela se esquecesse da promessa, não de seu primeiro amor e, mesmo assim, seguisse sua vida.

Talvez Pedro tivesse uma próxima chance para dizer a ela que esperaria por ela o tempo que fosse, muito embora não soubesse do dia de amanhã. Talvez um dia não houvesse despedida. Ou talvez um dia ele aprendesse que nem tudo é da maneira que desejamos e que nem todas as promessas são cumpridas.

VerossímeisWhere stories live. Discover now