Cada minuto

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          Cada segundo naquele lugar me deixava sem ar, sem fôlego. Eu já não sabia se teria forças para mais um dia ali.
          A unica coisa que ainda me dava razão era a minha irmã, que passava no meu "quarto" ( se é que posso chamar assim) e me perguntava como estava o meu dia. Eu costumava contar as histórias de sempre e acho que ela já estava ficando entediada com as mesmas conversas, talvez eu inventasse alguma coisa nova para contá-la da próxima vez que a visse.
            Além da minha irmã (que chamava assim por ser freira), eu não sabia seu verdadeiro nome, ela apenas me pedira para chamá-la assim, outra pessoa que fazia o meu dia menos assustador era Henri.
Henri sempre cuidava de mim e tentava me acalmar. O estranho era que, sempre tentava me fazer carinho de várias formas, mas alguns deles me incomodavam muito e eu não sabia como dizer à ele que preferia que não me tocasse em certos lugares.
Às vezes, quando tínhamos tempo, eu e Petric nos sentávamos no jardim, à beira de um lago, mas nunca podíamos conversar direito pois os enfermeiros sempre ficavam na cola dos dois. Acho que eles temiam que nos jogássemos na água ou tentássemos matar um ao outro. Mas Petric não me machucaria.
            Lembro-me que uma vez que eu e Petric estávamos de fora do prédio.
     -sabe Alice, às vezes só precisamos marcar o tempo. A vida se encarrega do resto- disse Petric com as mãos juntos as rosas brancas que estavam plantadas do lado de fora.
            -talvez tenha razão, talvez nós apenas...- minha frase foi interrompida por um grito de alguém que estava logo atrás de nós.
         -cirurgia nele!- falava com voz firme a diretora do hospício. Ela apontava para um doente que estava caído no chão do jardim
          Era John, um velho careca e muito magro. Eu tinha pena dele.
Muito magro, John sempre tentava ajudar como podia os doentes. Na maioria das vezes sem sucesso...
Senti uma lágrima cair do meu olhos esquerdo, o que me fez desviar a atenção da cena onde dois enfermeiros puxavam John, quase sem forças para lutar. Ele cedeu aos enfermeiros.
Eu nunca mais o vi.
John não apareceria de novo. Talvez tivesse morrido ou coisa pior. Não poderia ter certeza é estava certa e que não perguntaria a ninguém. Não ganharia uma resposta. No máximo um tapa ou um fora, daqueles que dá vontade de desaparecer.
          Não podendo ignorar o que acabara de acontecer, eu e Petric damos meia volta e pulamos janela a dentro cada um para sua cela.
            Como não daria para deixar o sumiço em segredo, percebi pelo canto do olho que  Henri teria visto toda a cena. Eu estava feita. Ele nunca teria a coragem para contar à Sra Rouge o que havia acontecido. Estava certa de que Henri jamais me faria mal.
        Eu estava enganada.
           Eu adormeci assim que cheguei e por efeito das drogas só consegui acordar no dia seguinte
         

A verdadeira história de AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora