As drogas

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          Acordei três dias depois. Não sei como consigo viver tanto tempo dopada dentro deste hospício. Ninguém sente a minha falta.
           Senti um líquido branco dentre minhas pernas. Era pegajoso. Retirei a mão e abri os dedos. Aquilo me dava nojo.
           Não demorou muito para que eu percebesse que estava machucada por dentro. Pior do que a última vez que Henri me fez uma "visita" e ameaçou voltar.
         Ele não reapareceu em meu quarto no dia seguinte.
          Eu estava de camisola. Uma camisola branca e longa com alguns detalhes de renda. Acho que havia sido a única coisa que minha mãe havia deixado comigo além de um chocalho de prata que acho que teria sido roubado por algun funcionário intrometido.
           Henri entrou com minhas drogas mas daquela vez eu não resisti e tomei tudo de uma só vez para tentar evitar que ele ficasse comigo mais do que três minutos. E assim foi.Ele saiu sem dizer uma única palavra.
           Eu podia ver a diretora discutindo com o marido num corredor à frente do meu quarto.
           Decidi me levantar e andar até lá para ver melhor. Meus pés descalços soavam como pequenos tapas no chão de cerâmica. Meus cabelos estavam armados e cacheados como sempre. Daquela vez mais dourados ainda e ao me olhar no espelho que ficava na parede, pude enxergar sombrias olheiras debaixo de meus olhos e acima das minhas enormes bochechas.
          Eu estava morrendo.
Ao me aproximar do casal que brigava e não poupava xingamentos, eu vi um enorme vestido, com calda listrada verticalmente de vermelho e preto, sem falar do corpete que estava  por baixo daquele luxo todo.acima do decote colossal, havia um rufos enorme e branco. Deixando claro que ela era a rainha, estava uma coroa em sua cabeça com um coque.
Eu a vi conversando com o rei. Um homem baixo com um manto enorme e um cedro de ouro. Quando dei um passo à esquerda para ter uma visão perfeitamente sincronizada com o ângulo da porta, percebi que era o psiquiatra e marido da diretora. Ele já não ocupava esses cargos, ele era apenas, ou melhor, o rei.
Fiquei com medo quando vi a rainha virar, lançando um olhar de fúria para uma carta que veio lhe oferecer água numa bandeja de prata.
Era a diretora.
Ela deu um tapa, tão forte, que a carta saiu voando. Assim como uma folha de papel.
Os gêmeos me chamavam, aflitos:
-Alice! Venha já para sua cama! Alguém vai pega-lá aí!
Eu virei a cabeça para poder observá-los. Eles estavam com pirulitos nas mãos e parecia que haviam engordado bastante. Como dois anões. Usavam suspensório e chapéus com duas hélices encima.
Minha reação foi virar novamente para ouvir a conversa.
-Alice!- exclamou um chapeleiro de roupas verdes e um sorriso ameaçador, mas que não me abalava nem um pouco.
Assim que lancei um olhar rápido, vi em minha direção uma xícara voando em câmera lenta diretamente para o meu rosto.
Ela bateu bem na minha testa.

A verdadeira história de AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora