O coelho branco

141 8 0
                                    

          No dia seguinte, ou, pelo menos eu achava que era, acordei de manhã logo cedo. Não parava de pensar na noite anterior.
            Com um sorriso doentio, chegou a enfermeira. Estava na hora do meu remédio. Ela se aproximou com a bandeja e me deu um comprimido. Apertando as minhas bochechas para que o engolisse. Ainda não satisfeita, ela abriu minha boca e verificou.
           -está me machucando-  eu disse, lançando um olhar furioso para aquela mulher bruta.
          - pensasse nisso antes de ter vindo para cá- disse ela não parecendo nem um pouco abalada com a minha tentativa de ter alguma autoridade sobre mim mesma.
         - não foi minha culpa- falei enquanto a observava deixar o recinto.
     Não fora daquela vez que eu havia vencido mas aquele senatório que me aguardasse.
          Percebi que a vida lá dentro me deixava cada vez mais agressiva e eu estava morrendo. Não fisicamente, mas mentalmente. Eu já não era mais uma garota inocente de 11 anos. Era uma verdadeira louca.
           Virei para o lado direito e vi como da última vez que acordei, Scot e Jafry em suas camas. Eles me olhavam confusos, como se algo os perturbasse.
       -você acordou, Alice?- Jafry perguntou-me parecendo um tanto assustado.
    - acordei. Não me vê sentada e com os olhos abertos?- falei já exausta de perguntas bobas. Para depois perceber que não estava exausta somente por dentro.
    -É que à três dias você também estava assim e não estava acordada. Parecia em estado de êxtase.
       -o que?- indaguei, olhando para p outro lado.
          Um coelho! Um coelho branco! O coelho branco!
           Não era um coelho qualquer. Era um coelho usando paletó. Ele usava abotoaduras e se portava como se fosse uma pessoa. Parecia mais uma lebre. Carregava um relógio de bolso, apesar de ser muito grande para caber no de qualquer um de tamanho normal.
          Levantei a mão esquerda meio trêmula e apontei com um pouco de dificuldade e frustração para aquele animal que tinha mais ou menos um terço de minha altura.
       -É tarde! É tarde! Estou atrasado!- ele gritava me parecendo muito estressado.
-Um coelho!- gritei logo em seguida para depois ser interrompida por dois enfermeiros.
Não vi quem eram mas tentaram me conter na cama enquanto eu lutava com todas as minhas forças.
-TENHO QUE IR ATRÁS DELE!!! É minha única chance!- berrei com o resto da energia que ainda me restara.
Ninguém me ouviu. Só eu podia vê-lo. Minha frustração era tanta que acabei por desistir e aguardar que passasse novamente.
Amarrada na cama, eu fiquei imaginando quando ele voltaria. Se ele voltaria. Era realmente de enlouquecer. Só você conseguir ver uma barbaridade desse nível. Uma aberração.
Já estava bem cansada. Esperara três horas sem pregar os olhos desde que aquela lebre cruzara a janela que ficava entre mim, e os gêmeos que dormiam na cama ao lado.
Talvez eu não o visse outra vez. Talvez eu nunca mais visse nenhuma dessas criaturas de novo. Talvez, aquele lugar estivesse me deixando maluca.                    
            Nada podia fazer.

A verdadeira história de AliceOnde histórias criam vida. Descubra agora