Não, claro que eu não estava totalmente alienada sobre a competição. O fato de conhecer as minhas amigas virtuais colocava alguns arco íris na paisagem, sim, mas, por Deus, eu as conhecera por causa dos seus livros.
Não só lia as obras de todas como era beta de duas, tenho plena noção do quanto as quatro merecem estar aqui.
Mas... Sei lá, competir com elas era de alguma forma diferente de enfrentar os outros trinta participantes. Nós participamos de um mesmo grupo de autores e sempre demos apoio umas as outras, sendo por causa de capítulos que não iam para frente, para achar um equivalente para uma expressão americana legal, por divergências entre dois enredos até com problemas pessoais com pessoas de verdade e não dos nossos personagens.
Não dá para não ser empática quando se vê a pessoa crescendo como autora na sua frente, sabe que você é parte disso e que a situação é recíproca.
Ou talvez eu só seja uma grande trouxa, quem sabe? No fim das contas isso não afeta a minha vontade de vencer, só a minha reação a uma possível derrota.
É óbvio que todo mundo, até a Nicole, tem uma história parecida, todos temos, mas é aquele ditado: o que os olhos não veem, o coração não sente.
E é bem estranho usar um ditado de verdade acompanhando essa frase.
— Então... – Alguém atrás de mim falou, colocando a mão no meu ombro. Dei um grito tão inesperado que todo mundo que estava perto da escada olhou para mim – Credo, mulher, eu sei nós somos inimigos mortais, mas não precisa exagerar.
Todos começaram a rir quando perceberam que o grito fora só um susto por eu estar distraída. Acho que eu nunca fiquei tão feliz por não ficar vermelha quando me envergonho.
— De onde você surgiu, André? – Perguntei com o tom de voz um pouco assustado demais para o meu gosto. Deus amaldiçoe Lizzie por ter me deixado ir sozinha para o quarto. – Eu juro que não tinha percebido que tinha alguém atrás de mim.
— Isso é bem óbvio. – Disse ele, sarcástico – Uma pena. Eu ia sugerir uma trégua temporária para ver se você me descolava alguns spoilers de Batalha de Bandas, mas pelo jeito você é tão distraída que não perceberia nem se a Nicole os dissesse na sua cara.
— Ha. Ha. Ha. Não vale contar vantagem quando eu estou morrendo de sono.
André sorriu, subiu até o degrau que eu estava e me ofereceu o braço como um cavalheiro.
— É melhor eu te ajudar a subir as escadas, então. Só para garantir que você não vai se assustar com nada a ponto de cair e morrer.
— Você gosta tanto assim de perder discussões para mim a ponto de querer me deixar viva? – Apoiei o meu braço no dele e voltei a subir as escadas – Que gracinha.
— Prefiro o termo "consciência pesada", mas chame do que quiser. Se não vale contar vantagem quando um ou ambos estão com sono, você está ganhando de mim no ranking imaginário da nossa briga. – Franzi as sobrancelhas, sem entender exatamente quando eu tinha feito o ponto. André percebeu – Por me reconhecer primeiro. Eu estava com uma piada pronta para o momento que te encontrasse e nem me toquei que tinha sentado do seu lado.
Ri alto. Ele estava me procurando? Sério?
E eu nem ao menos sabia que o André era escritor até o nosso encontro no salão de jantar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Empatia [DEGUSTAÇÃO]
Teen FictionJá imaginou o que se passa na cabeça de um escritor? Ariana está no meio do processo criativo do seu novo livro e, por mais que sempre tenha sido muito boa em fazer personagens, está tendo sérios problemas com o seu protagonista atual... desde que o...