Capítulo 2

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Katherine

Segunda feira. Segundo dia da semana e o pior deles para se levantar da cama. Não que eu seja a encarnação do Garfield versão ser humano feminino adolescente, é só que é realmente desesperador quando seu alarme toca às seis horas da manhã e você percebe que aquela rotina maçante vai começar do zero. Admiro muito quem acorda esse horário, ou até mais cedo que isso, disposto para iniciar uma nova semana, com novas oportunidades, novas conquistas e blábláblá. Na minha simplória opinião essa pessoa tem que ter todo o sucesso do mundo só por acordar sem implorar por mais cinco minutos.

- Filha? - escuto batidas e a voz de minha mãe do outro lado da porta do meu quarto - Está precisando que eu escolha sua roupinha? Caso queira, escolho até a cor da calcinha.

Aprendam como fazer sua filha, no auge da puberdade, levantar da cama.

- Obrigada, mas dessa vez eu mesma vou escolher minha calcinha e o lacinho de cabelo, mamãe. - às vezes suspeitava que essa ironia tivesse sido transmitida pelo cordão umbilical enquanto ela digeria uma sopa de letrinhas que por sinal só possuía as letras I, R, O, N e A. Tudo bem, essa foi péssima.

- É bom mesmo, senão eu vou entrar nesse quarto. - brinca, mas com certo tom verídico.

Olho para as roupas que ainda estavam em meu corpo e engulo seco.

- Não se preocupe, já irei descer. - nervosa, escuto os passos de minha mãe se distanciarem gradativamente.

Solto o ar que ficara comprimido em meus pulmões e rapidamente tranco a porta a fim de evitar possíveis surpresas.

- Ótimo, assim é bem mais seguro. - sim, minha amável, irônica e louca mãe não poderia nem sonhar que sua única filha era o herói vida louca de Ofmeta.

Respiro profundamente pegando a toalha que estava jogada na cabeceira de minha cama e corro para o banheiro que havia dentro de meu quarto.

Ao entrar no box sinto a água morna do chuveiro lentamente cair pelas minhas costas aliviando a tensão de ter tantas responsabilidades e correr tanto perigo. Eu não poderia sequer pensar que o que eu fazia era alguma espécie de brincadeira. Estava mexendo com o mal dia após dia, face a face, e às vezes tinham a péssima impressão de não conseguir suportá-lo. Chegar da escola, bancar o herói na parte da tarde barra à noite e estudar de madrugada, bem, talvez estivesse me saturando demais.

Saio do box e olho para uma marca vermelha perto de meu cotovelo direito. Eram, visivelmente, os cinco dedos daquele meliante de ontem. Vou até ao guarda roupa, visto uma blusa que conseguia tapar esse mancha em meu braço junto com uma calça moletom cinza e um tênis preto. Apanho minha mochila jogada ao lado da cama e coloco a melhor fantasia de super herói dentro para apressadamente sair do quarto.

- FILHA? - depois desse grito ensurdecedor, minha mãe, sem nenhuma dúvida possível, ganhou o oscar de melhores cordas vocais do ano.

- JÁ VOU! - correspondo à altura gritando também.

- CALEM A BOCA! - um dos meus vizinhos gritou da janela de seu quarto - TEM GENTE TENTANDO DORMIR ESSA HORA DA MANHÃ!

Eu não aguentei. Minha gargalhada foi tão alta que contagiou até minha mãe que estava na parte de baixo da casa.

- Esses nossos vizinhos... - ela coloca a garrafa de chá em cima da mesa balançando a cabeça negativamente enquanto terminava de soltar as últimas gargalhadas.

- Não pode gritar nem um pouquinho que já estressam. - limpando a lágrima que caiu em minha bochecha após rir tanto, sento em uma das quatro cadeiras da mesa.

Tornado NegroOnde histórias criam vida. Descubra agora