Capítulo 3

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Katherine

Quando fui transferida para essa escola, minha mãe me deu a plena certeza de reiniciar minha vida. Ela disse que seria uma oportunidade de conhecer novas pessoas e esquecer o que houve. Disse ainda que o passado jamais voltaria para me atormentar novamente e que eu poderia construir as paredes da "casa-confiança" que os meus ex-colegas haviam demolido.

Mas não foi isso que fiz. Pelo menos não como ela imaginou e idealizou em sua mente.

Esquecer tudo aquilo era impossível para mim.

De fato, reergui as paredes que eles haviam destruído e raramente minha mente me transportava para o passado. Entretanto, todas as vezes que era levada a esse limbo, seja em meus sonhos ou pensamentos rotineiros, era cada vez pior e ainda mais difícil suportar a dor. Por causa disso as paredes que reedifiquei se tornaram mais espessas, profundas e quase impossíveis de se adentrarem. Criei uma muralha entre mim e o resto da sociedade tão impenetrável que nem mesmo a arma mais poderosa conseguiria ultrapassar ou quebrar.

O tempo continuava passando, ano após ano, e mesmo assim o passado perseverava em prosseguir com aquela tortura, como se tudo aquilo ainda estivesse acontecendo diante dos meus olhos com ainda mais veemência.

Pisco os olhos freneticamente com o nariz e boca grudados um no outro ao mesmo tempo que recobro a consciência e volto ao mundo real relembrando o porquê de estar naquela situação.

Paulatinamente me afasto da parede, a qual havia recebido meu corpo com tanto carinho, e concomitantemente começo a repensar se realmente deveria sair dali. Inconscientemente ou não meu cérebro ainda queria permanecer naquela zona de conforto. Não queria me envolver. Não queria ter que começar uma guerra com ninguém. Não queria ter que usar a minha força para bater em alguém que não estava em plena faculdade mental no dia de hoje.

- Não me faça perguntar mais uma vez! - ouço sua voz irada estremecer o chão como um estrondo de um trovão e sinto meu cabelo ser solto das suas garras.

Não me lembro ao certo quanto tempo fazia desde da última vez que alguém me tratou assim. Se não me falhava a memória, isso foi no sétimo ano do ensino fundamental com uma garotinha que mais parecia um brutamontes de tão forte. Lembro-me de gostar de compará-la com aquelas valentonas de filme tipicamente americanos em minha cabeça para diminuir a dor de seus constantes ataques enquanto me espancava. Aquelas mesmas valentonas que são do jeito que são porque tem uma justificativa plausível no final do filme, só que essa em questão não tinha nenhuma, o que só me intrigava mais ainda enquanto me batia.

- A pancada foi tão forte que fez você ficar surda? - seu tom de voz claramente mostrava que não estava nem um pouco contente com a minha permanência na, maravilhosa e esplêndida, zona de conforto criada por mim mesma. Se é que posso chamar isso desse jeito quando se está com a cara toda esmagada contra a parede.

Levanto-me calmamente, ainda apertando firmemente a pílula que o pavão havia entregado em minha mão, e me viro de frente para ela corajosamente com um certo tom de deboche. Eu, sinceramente, já estava ficando cansada de tudo aquilo. Só queria voltar para a sala e continuar na minha outra zona de conforto.

- Vo-vo-você? - gaguejo surpresa na medida que minha coragem diminuía e minha cara se transformava em uma de chocada e totalmente impactada.

- O engraçado é que você achou que iria se livrar de mim tão fácil. - destemida, olha profundamente no interior de minha alma.

Sabe quando você fala: "Não tem como piorar" ? É porque você não conhece a minha vida. Regida pela Lei de Murphy ela se baseia em: se algo pode dar errado, vai dar errado, não importando se a probabilidade seja inferior a 0,00000000000000001 ou praticamente inexistente.

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⏰ Última atualização: Nov 27, 2018 ⏰

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