– Acorda Alice! É a quinta e última vez que eu te chamo, se demorar mais um minuto para levantar vou jogar água em você e eu não estou brincando – ouço minha mãe gritar no andar de baixo. Talvez seja uma boa hora para levantar.
Sento na cama e pego meu celular, são sete horas, falta exatamente uma hora para começar as aulas, minha mãe deveria me deixar dormir mais, já que moro a vinte e cinco minutos da escola, mas tudo bem, ela deve saber que demoro mais de meia hora para me arrumar. Levanto meio cambaleando, abro a cortina do quarto e olho para a fria manhã de segunda feira, parece que teremos sol hoje na cidade, isso não é totalmente ruim, já que moro em Calgary no Canadá. Estamos praticamente no final do inverno, porém, não diminui o frio, olho novamente o celular e vejo que a temperatura está 10 graus, relativamente quente para fevereiro. Me encaminho para um delicioso banho quente, só assim para acordar. Troco de roupa e desço para o café, vejo que minha mãe já está arrumada para o trabalho, ela é a editora-chefe de uma editora de livros, por isso temos uma vida boa, disso não posso reclamar.
– Bom dia mãe.
– Bom dia senhorita mau humor, trate de melhorar este rosto Alice, por favor, é só o primeiro dia de aula do seu último ano, você deveria estar animada – fala ao me entregar uma xícara de café.
– Não é que eu não esteja animada mãe, só estou cansada, tenho muitas coisas para me preocupar esse ano, tenho medo – peguei uma fatia do meu bolo favorito, chocolate com nozes, e comecei a comer.
– Você não deveria ter medo, vai dar tudo certo, você tem boas notas e tenho certeza que conseguirá ingressar em uma faculdade.
– Obrigada pelo apoio mãe, onde está o papai?
– Seu pai já saiu para o trabalho, ele tinha que receber alguns suprimentos para o restaurante, agora termine de comer e se arrumar que eu lhe dou uma carona para a escola – com isso ela se levantou e foi para o escritório.
Mesmo morando perto da escola meus pais adoravam me levar até lá, eu não reclamo, pois não gosto muito de caminhar tão cedo. Terminei meu café e fui até meu quarto pegar uma jaqueta e minha mochila, desci correndo as escadas e encontrei minha mãe no carro.
– Não esqueceu de nada? – por que ela sempre acha que eu esqueci alguma coisa?
– Não mãe, eu não sou tão esquecida assim – falei com cara feia.
– Tem certeza Alice? Você sempre esquece algo – foi só ela falar isso para eu lembrar que tinha que pegar um livro para ler entre as aulas e no intervalo. Saí correndo para dentro de casa, entrei no escritório, onde também era a biblioteca e meu lugar favorito na casa, peguei um exemplar de "Os Miseráveis" e voltei para o carro.
– Obrigada por me lembrar mãe.
– Sabia que você estava esquecendo algo, não costumo vê-la sem um livro por perto – ligou o motor e acelerou para a via principal da cidade, não morávamos muito longe, depois de vinte e cinco minutos paramos na frente da escola. Ela ficava a quarenta minutos do centro da cidade, na parte mais arborizada, possuía um terreno de vinte hectares, com quatro prédios, sendo eles: administrativo, ensino fundamental, ensino médio e biblioteca.
– Tenha um bom dia filha, qualquer coisa me ligue – me deu um beijo no rosto e um sorriso encorajador.
– Você também mãe – tentei lhe dar um sorriso, pois sei o quanto ela se preocupa comigo depois de tudo que aconteceu... melhor não pensar nisso.
Descendo do carro me dirijo até a entrada da escola, o sinal não bateu, então ainda tenho um tempo para ler e ouvir música enquanto meus amigos não chegam. Sento-me embaixo de uma árvore e coloco Not Alone do Red para tocar, fecho os olhos e sinto a fria brisa de inverno, antes que eu perceba o sinal toca, me levanto e me misturo ao resto dos alunos indo para suas respectivas salas. Minha primeira aula é geografia, pego meu Ipod, seleciono o álbum A Hard Day's Night e logo os acordes iniciais da música que dá título ao álbum enchem meus ouvidos, me apresso a entrar e pegar algum lugar no fundo da sala, longe de toda atenção. Assim que entro avisto meus dois amigos, Andrew e Jason, eles acenam para mim enquanto ando em sua direção. Noto que os dois não mudaram nada fisicamente, Andrew continua pálido, com cabelos pretos que combinam perfeitamente com seus olhos verdes, já Jason é seu oposto, pele bronzeada, cabelos loiros e olhos azuis, o perfeito surfista dos filmes – antes de se mudar para o Canadá, há dois anos, Jason morava com seu pai na Florida, por isso todo o bronzeado.
– Bom dia – falo ao me sentar na frente dos dois.
– Bom dia senhorita Morgenstern, lembrou da nossa existência? – perguntou Andrew com cara feia.
– Não fale assim Andy, eu só me desliguei de tudo nas férias, li alguns livros, assisti filmes e séries, coisas assim – tinha um tom de desculpa em minha voz, não entendo o porquê, já que não fiz nada de errado.
– Tanto faz Allie, só seria bom ter recebido alguma notícia sua, nós ficamos preocupados, ligamos para o seu celular várias vezes, durante vários dias, custava atender ou mandar alguma mensagem? – Jason parecia realmente chateado, será que eu deveria ter ligado?
– Tudo bem, vocês se preocupam comigo eu entendi, mas estou bem, vocês estão vendo, não há porque se exaltarem tanto – penso em algo para falar e mudar de assunto, porém, não preciso, logo o professor Ethan entra na sala e pede silêncio para todos, com isso me viro para o quadro e finjo prestar atenção, minha mente se perde em pensamentos e volta para aquele dia... Não, não posso pensar nisso, balanço minha cabeça como se pudesse mandar a memória para longe, olho para a porta e perco o ar por alguns segundos, não consigo acreditar no que está entrando na sala, ou melhor, em quem estava entrando, era um garoto simplesmente lindo, cabelo preto e olhos castanho-escuros, sua pele sendo iluminada pelo sol o fazia parecer até um anjo, estava vestido todo de preto e claro, acompanhado da diretora Katherine.
Não sabia o que estava acontecendo comigo, só que não conseguia desviar os olhos dele, o encarei até que ele sentasse na carteira a minha frente. Legal, ele estava bem próximo a mim, eu até conseguia sentir seu perfume, uma fragrância simplesmente deliciosa, como poderia reagir a isso? Que? Eu mesma estou me ouvindo? É só um garoto qualquer, nunca me importei muito com isso. Estar envolta em tais pensamentos me fez perder sua apresentação e como consequência não sei seu nome, mas isso importa? Não, melhor deixar isso pra lá.
– Olá? Tem alguém aí? Terra chamando Allie? – resmungava Andrew atrás de mim.
– O que é? – respondi de forma brusca.
– Você aí babando pelo novato – Andrew realmente adorava me incomodar.
– Cala a boca Andy, eu só estava pensando, nem notei o aluno novo – tentei desconversar, mas aposto que não tínhamos terminado o assunto.
Voltei a prestar atenção na aula, quer dizer, tentar prestar atenção, não conseguia parar de pensar sobre o que tinha acabado de acontecer, até que o novato vira para mim e pergunta:
– Ei, o que você está ouvindo? - Ouvindo? Ah, nem percebi que ainda estava com meus fones.
Minha primeira reação foi corar, depois de alguns minutos respondi:
– É... Estou escutando Beatles, conhece?
Ele levantou o moletom e por baixo estava vestindo uma camiseta de uma de minhas bandas favoritas.
– Isso responde a sua pergunta? – falou sorrindo.
Meu senhor! Que sorriso, perdi até a fala depois disso, se comporte Alice, se comporte, não está nos seus planos conhecer ninguém novo, com esse pensamento me volto para o professor Ethan, ele está falando algo sobre blocos econômicos. Essa reação pode ter sido exagerada, mas não sou a pessoa mais amigável do mundo, seria melhor se ele se enturmasse com outras pessoas. O sorriso saiu de seu rosto tão rápido quanto apareceu, até me senti triste com isso, mas já fiz minha escolha e não poderia voltar atrás agora.
Os dois períodos de geografia passaram rápido juntamente com o de química, então o sinal para o intervalo tocou pontualmente as dez horas da manhã. Recolhi meu material, coloquei meus fones, peguei meu livro, levantei e sai da sala em direção a um gramado perto do lago, congelado devido ao tempo, que ficava nos fundos da escola, me sentei embaixo de uma árvore e fiquei observando as pessoas. Era algo que eu gostava de fazer, o silêncio era algo bem vindo. Estava tão perdida em meus pensamentos que nem notei o novato se aproximar e sentar-se ao meu lado.
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Not Alone
Teen Fiction"...o professor Ethan entra na sala e pede silêncio para todos, com isso me viro para o quadro e finjo prestar atenção, minha mente se perde em pensamentos e volta para aquele dia... Não, não posso pensar nisso, balanço minha cabeça como se pudesse...