Capítulo 1

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O Maple Hotel ficava numa rua estreita repleta de latões de lixo. Em frente ao hotel havia um pequeno bar. O local estava cheio, fregueses habituais estavam lá, sentados junto à bancada de apoio, onde o barman costumava preparar bebidas especiais. Alguns bebendo cerveja, outros bebendo uísque. Em um rádio velho que ficava ao fundo do bar, Elvis Presley cantava.

Todos viram quando um Pt Cruiser chegou com uma sonora freada, a fumaça azulada que saiu das rodas, e a borracha queimada com a freada brusca que ele parou em frente ao hotel. Na verdade, todos se assustaram. Eram velhos conhecidos do dono do local. Havia um mendigo que sempre aparecia ali com seu cachorro, sempre que chegava ali já estava bêbado, pedia uma cerveja e um copo descartável; com o copo descartável improvisava um recipiente para o cão beber da cerveja junto com ele, eram bons companheiros e muito conhecidos pelo bairro.

Observaram um homem de altura mediana sair de dentro do carro, correr até a portaria do hotel e sair. Saltar dentro do carro, botar a marcha ré e acertar o carro. Tudo assim, rápido como uma cena de cinema.

Charles Almeida, era o homem do Pt Cruiser. Um pensamento lhe mordia a mente desde que saíra de uma velha loja de carros usados que ficava apenas a alguns metros de distância do Aeroporto Internacional de Los Angeles. O pensamento que cutucava sua mente com braços invisíveis era uma ideia nova, mas ainda não sabia se era para um conto, ou se seria transformada em romance.

Charles percorrera uns 20 quilômetros para longe do aeroporto, até encontrar com o Maple Hotel. Quando a atendente lhe informou sobre ter apenas dois quartos disponíveis, ele logo aceitou. Não se sentia mais em condições de dirigir por mais alguns quilômetros. A mão invisível estava quase furando sua cabeça para sair da caixa preta das ideias e recair sob o branco de um papel ou na tela branca do editor de textos do seu notebook.

Quando passou pela atendente, Charles pegou a chave de seu apartamento. Carregava a mala de mão e uma mochila que pegara no porta-malas do carro e correu para o terceiro andar. Ao subir as escadas o pensamento que tinha agora era de que ele se hospedara numa espelunca da pior qualidade. Vira uma barata voar na sua direção, abaixou a cabeça e ela se espatifou na parede fazendo um som estranho; Plooc.

Ao ligar a luz do interior do apartamento pode ver o piso de linóleo. Às paredes amareladas, como coisa velha. No meio da sala um sofá com um enorme furo no tecido. Ele fecha a porta.

- Que espelunca!

Foi até o quarto, colocou a mala no chão, abriu a mochila e retirou de dentro o notebook. Ligou-o numa pequena mesa na sala. Foi até a cozinha abriu a porta da geladeira e nas grades baratas corriam em alerta.

- Mas que porra é essa? – Bateu a porta com o susto que tomou. Os pequenos insetos saíram por algum buraco nos fundos do equipamento.

Charles sentia agora a mão quase arrancar fora seu cérebro. Correu às escadas rapidamente e foi até o bar do outro lado da rua. O mesmo onde estava cheio quando chegou. Agora parecia mais ameno, alguns fregueses já haviam deixado o local.

- Uma dose de uísque e duas cervejas, por favor. – Pediu ele ao senhor atrás do balcão do bar.

- Pois não. – Disse o senhor entregando um copo e servindo a bebida.

- Obrigado. – Disse ele sorvendo o uísque de uma vez, deixando o liquido queimar em sua garganta após descer.

- De onde veio filho?

- Brasil, meu senhor. – Respondeu ele dando um gole em sua cerveja.

- O que te trouxe aqui, senhor... – Disse ele mais como uma abertura para que Charles lhe dissesse seu nome, ele sorveu outro gole.

- Vim a trabalho. Sou escritor. Precisava de novos ares, queria mudar o ambiente onde meu romance aconteceria. Ah, a propósito, meu nome é Charles, Charles Almeida.

- Muito prazer senhor Almeida. Me chamo David Abram. – Respondeu David esticando a mão em cumprimento.

Charles ficou bebendo no bar por mais 15 minutos. Saiu de lá com 4 garrafas de cerveja e correu para o apartamento e começou a esboçar seu romance. Sua mente trabalhava numa velocidade muito superior ao que seus dedos poderiam digitar. Apesar de ter muitíssima experiência com digitação rápida, ainda não conseguia seguir na mesma velocidade que as imagens em sua cabeça.

Naquela noite ele escreveu por cerca de 3 horas seguidas em seu livro. As criaturas criadas por sua mente começavam agora a se materializar em um esboço no branco do editor de textos do computador.

Quando deitou para dormir, já passava das 2 e meia da manhã, a música urbana tomou todo o apartamento como um sopro gigante na escuridão. Os pensamentos nebulosos sobre a trama em seu livro, consumia a mente de Charles, até o momento em que ele pegou no sono. 

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