Capítulo 3

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Erguia a cabeça aos poucos, uma mão quente lhe afagava os cabelos, os olhos ainda fechados a nuca tão molhada de suor que parecia ter acabado de sair do banho. O suor de sua testa começava a lavar o seu rosto, deixando faixas de umidade escorrida. Uma mão tocou seu rosto molhado. De quem é essa mão? Está quente... seus pensamentos falavam como personagens em uma peça de teatro.

Havia uma coisa escura e disforme crescendo ao lado da cama. As mãos estavam estiradas nos braços abertos em forma de cesta, como quando uma mãe vai pegar a bebezinha recém-nascida. Um cheiro perturbador invadiu o quarto.

- Venha você está tão próximo... venha fazer parte da família... venha... venha... – Proclamava a coisa.

Charles caiu no chão de linóleo. É apenas um pesadelo, disse sua mente atordoada. Confuso e lavado pelo suor, levantou-se e ajeitou-se. Estava usando apenas um samba-canção. Não se lembrava a que horas havia ido se deitar. A única coisa de que se lembrava era de que havia retornado do bar e correndo pelo apartamento, sentou-se diante de seu computador e passou horas a fio escrevendo seu livro. Pegou o celular e olhou às horas, eram 10h30. O sol lutava contra a parte metálica da janela para entrar no quarto.

Já na sala, logo após sair do banheiro, olhou para o lado de fora. A rua estava calma, poucas pessoas circulavam por ali. Duas quadras daqui havia uma fábrica de era responsável pela confecção de calças e blusas jeans. Charles pensava em deixar pelas redondezas alguns currículos, a começar por esta fábrica. Ouvira falar que o salário não era grande coisa, mas tudo bem. Ele assim poderia passar uma outra parte do tempo ocupando sua mente, não apenas com literatura, e ainda assim lucrando.

À noite chegou, sem surpresas, trouxe consigo apenas o ar gélido de mais um dia que ficaria apenas na lembrança. Charles, agora olhava para sua criatura. Pensava sobre os detalhes, analisava com maestria o que escrevera na noite anterior. Era uma criatura do medo, sem dúvidas. Pavorosa o bastante para ser como as mãos invisíveis que nos visitam em certas noites; momentos antes de nos colocar de encontro com pesadelos.

Seus olhos castanhos olhavam com carinho – admiração, diria – aquilo que na noite anterior o visitou. Assim como havia visitado a vida de seu personagem, no livro que está escrevendo. Que horror, pensou Charles embasbacado.

A escolha de um nome para o livro parecia a tarefa mais difícil de ser feita. Mas ainda era pensada. Queria algo que criasse impacto, chamasse a atenção. Ele procurava pelo BOOM, na escolha que ia fazer.

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