Parte Dois - Preparação

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Após passarem a noite na floresta sem trocar uma palavra, com o dia amanhecendo se colocam à caminho do castelo.

Lucas quer acompanhá-la para se certificar de que chegará em segurança. Machuca a imagem de Luna entrando linda na catedral para receber Renan e não ele em juras de amor, mas pensa que é o certo a se fazer. O único modo de Luna ser feliz de verdade.

Durante o percurso sem verem ninguém no caminho, o silêncio os incomoda. As árvores fazem seus rodopios com o vento, seus passos são cânticos aos ouvidos, mas Luna quer mesmo é chorar e poder esquecer aquilo tudo. A morte dos pais, a declaração de Lucas, a futura celebração com o príncipe Renan. O que seus pais diriam?

Cansados, às vezes param para um descanso de dez minutos. Comem algum pedaço de pão que Lucas trouxe na bolsa, água de um cantil. As inclinações cobertas de vegetação parecem não acabar. Luna se lembra de quando passou desesperada por ali ontem, antes de encontrar a casa envolta de fumaça e fogo.

O céu está claro sobre eles, mas agora é possível ver, no fim da tarde, o pomposo castelo de Allamanda sobre a montanha real. Cercada por guardas, um chafariz enorme na entrada. Luna já sonhou com o castelo várias vezes, se imaginando em vestes reais e com criadas. Nunca gostou desses pensamentos sem ver Lucas ao seu lado.

Chegando lá, os guardas, reconhecendo a moça prometida a casamento de seu príncipe, os levam ao encontro do Rei. Lucas se mantém em alerta ao lado de Luna, os braços rendidos por um dos guardas reais. Rei Julius os espera sentado em seu trono, no grande salão do castelo revestido de ouro branco. Tudo é muito amplo e reluzente, mas nenhuma beleza chama a atenção de Luna ao observar Julius os encarando com perplexidade.

—Ora, assumo que não esperava que se entregasse, Luna. — O Rei começa. — E trouxe um amigo por quê?

—Apenas vim acompanhá-la. — Lucas declara, ocultando a raiva.

Luna não sabe o que dizer para aquele homem, palavras se misturam em sua mente como em um tornado. Ela quer justiça pela morte dos pais, quer poder tirá-lo daquele trono e fazê-lo se esquecer dessa promessa antiga de casamento.

Nesse instante entra, atordoado com a cena, príncipe Renan.

—Luna... você está bem? — Ele se aproxima com pressa, olhando preocupado para a garota escoltada. — Soltem-na! — ordena, com o guarda a libertando em seguida. A ação faz Luna se sentir insegura. — Pedi que te deixassem em paz, ninguém saiu à sua procura. Eu não queria que te trouxessem à força! — O príncipe diz, tomado por uma raiva ao olhar os guardas e depois, seu próprio pai. — O que o senhor fez?

Rei Julius, porém, apenas da de ombros, ao dizer:

—Não trouxeram, meu filho. Luna veio com as próprias pernas. — Ele sorri amarelo.

Príncipe Renan parece surpreso, volta a olhar Luna em dúvida. Ele sabe que ela não quer se casar com ele por obrigação de acordos reais, por ele, esperaria que ela aceitasse o pedido de bom grado, já que a ama desde que a viu em festas cedidas no palácio.

Sempre a olhando de longe, achando-a graciosa ao sorrir mesmo nunca trocando uma palavra com ele. Renan queria ter tido coragem de falar com ela naquele tempo, mas sabia que Luna não suportava a ideia de se casar com ele sem amor. Ele não a culpa por isso.

—Ele matou meus pais. — Luna enfim abre a boca para dizer, olhando o Rei.

Príncipe Renan se volta para o pai, incrédulo.

—Pai? O que o senhor fez?! — Ele repete, agora em tom mais forte.

—Luna saiu do castelo sem meu consentimento, não aceita as leis antigas de Allamanda, é uma traidora de seu povo. O que queria que eu fizesse, Renan? — Rei Julius se levanta, descendo os degraus para ficar frente ao filho. — Não podemos deixar que pensem que as leis podem ser alteradas. Foi um acordo feito entre mim e o tio dela, antes dele morrer. Se não fosse por isso eu também recusaria. — Agora o Rei olha para Luna, irritação na face branca coberta de barba. — Nunca ia querer meu filho casado com uma moça tão sem modos.

Luna deixa que o ódio a tome e é preciso que Renan se coloque à sua frente para que ela não avance no Rei. Lucas ainda preso pelo guarda.

—Você matou meus pais! Pessoas inocentes! É assim que quer que Allamanda te veja?! — grita ela.

—Um rei precisa ser respeitado e temido por seu reino. Faço o que tem que ser feito. — Rei Julius diz, se sentindo satisfeito apesar de ainda aparentar aborrecido com a conversa. — Levem-na aos calabouços junto com seu guarda-costas. — Ele ironiza, fazendo com que os guardas apertem seus pulsos novamente.

Lucas se contorce ao lado, mas não consegue se soltar do guarda que já o arrasta.

—Pai! Não pode prendê-la! — Renan protesta sem sucesso, pedindo aos guardas que lhe obedeçam, mas ele ainda não é rei. 

A promessa de AllamandaOnde histórias criam vida. Descubra agora