Capítulo 1

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Oi, meu nome é Lana, tenho 19 anos e moro .... ah não! Aff, que jeito mais clichê de começar a escrever uma história. Ahhhhhhh, já sei!...
   Eu estava no meu quarto ouvindo rádio no volume máximo a música da Fernanda Brum "Não saio mais daqui". Estava na cama de cabeça para baixo enquanto eu cantava. Como não alcanço o tom grave e perfeito dela estava cantando meio desafinada quando a porta do meu quarto foi aberta abruptamente me fazendo levar um susto.
   Era Breno, meu melhor amigo que dissera algo que não pude entender por causa do som alto.
   - O quê – gritei. Ele ia repetir, mas pedi que esperasse enquanto eu levantava da minha cama.
   - Ei Lana, vê se atende esse telefone, faz 30 anos que tô tentando te ligar e você não atende.
   - Nosso Breno, que exagero! Eu não atendi porque você sabe como fico quando tô ouvindo minhas musicas e, aliás você tem que parar de ficar me estorvando enquanto tô ouvindo elas. Urg! – Apesar da rosnada não estava brava. – E pra você parar de drama, vou deixar meu celular mais perto de mim toda vez que eu deixar o volume no último, aí você para de reclamar.
   Ele riu alto debochando de mim e me encarou com os olhos verdes esmeraldas que eu tanto amava e disse:
   - Rã, é mais fácil a Dilma me beijar
   Ao contrario de muitas meninas, eu era diferente, não gostava de seguir padrões e modinhas, eu gostava de ser eu mesma e por isso que Breno era meu melhor amigo. Normalmente meninas têm melhores amigas, mas eu sou tão esperta que tenho um melhor amigo e melhor de tudo é saber que ele não vai fofocar a minha vida para os outros, afinal, ele é homem.
   - Hei! – disse ofendida – Se tô falando que eu cons... –hesitei pensando melhor - é você tem razão, vou esquecer que prometi isso, sempre esqueço.
  Breno era um mês mais velho que eu e vivia falando que eu deveria chamá-lo de Sr. Clarke. Ele gostava muito de coisas antigas, assim como eu, e lia muitos livros de época e quando dei um livro chamado "Perdida, um amor que ultrapassa as barreiras do tempo" da Crina Rissi em uma revista da Avon, eu não imaginava que ele ia ficar tão apaixonado. Mas não tiro a razão dele, até eu fiquei boba com a história da Sofia e do Ian – quem dera ele existisse no nosso tempo. – Eu tinha comprado o livro por causa do All Star que vi na capa. Quando ele começou a ler e viu que era um livro de época ele me ligou na hora gritando no telefone: "É UM LIVRO DE ÉPOCAAAAAAAAAAAAAAA, EU TE AMO PRA CARAMBA. E pode comprar outro pra você porque não vou te emprestar esse", fiquei muito feliz em vê-lo feliz assim, e claro, fui obrigada a comprar o meu exemplar.
   Quando Breno gostava muito de um livro, saí de baixo, ele ficava fissurado e não para de agir como o personagem da história até terminar de ler ou até que acabasse o livro ou – o mais provável – que encontrasse outro personagem que gostasse muito.
   - Então Sr. Clarke – falei olhando para aqueles olhos verdes com deboche. Sr. Clarke é como ele me obrigou a chamá-lo – como procede os exemplares do seu livro? Era assim que falava na sua época? –ri alto e ele entrou na brincadeira junto comigo.
   - Senhorita Freitas, perdoe-me a sinceridade, mas estás muito decadente suas pronuncias. – Dizia ele com uma voz altiva com um tom de superioridade e arrogância como na época. - Vosmecê precisa ter umas aulas de pronuncias com a Senhorita Gomes e aprender como uma dama deve falar com seu superior formalmente. Em relação ao meu livro, ele já está em andamento, mas não consigo elaborar muita coisa, acho que será apenas um desejo do meu coração, não sei o que falta.
   Eu olhei para ele rindo e encostei a mão direita - meu esmalte vermelho estava desgastado - sobre sua coxa direita sob a cama e implorei para que ele parasse de falar daquele jeito.
   Depois que me recompus falei:
   - Bom, Breno, eu acho que falta inspiração, falta um pouco mais de identidade e menos de coisas que você vê em outro livro, fica bem... annn..., clichê.
   - Como assim? – disse ele coçando a parte de trás dos cabelos castanhos lisos.
   - Tipo, você usa muito coisas que outros autores escreveram. Você é bem mais divertido e pode ter suas próprias ideias. Use algo que te inspire, por exemplo... você gosta de Jogos Vorazes e de romances, usa isso, mas... nada de escrever "Que o amor esteja sempre ao seu favor", isso ficaria ridículo – ele assentiu exibindo um sorriso branco e perfeito – seja mais.. você. Olha somos cristãos e você vive na internet assistindo o vlog do "Eu Escolhi Esperar" e tem diversos livros sobre relacionamentos, não é?
   - Sim.
   - Então, dá pra você escrever uma história de amor cristão... taí, é isso que você vai fazer.
- Nossa véi, - ele falava comigo como se eu fosse um homem mesmo -  ótima ideia! E acho que posso usar minha personalidade e de pessoas que estão perto de mim e fazer com que os personagens tenham a mesma personalidade. – Disse entusiasmado. - Uau, Lana – ele me deu um beijo no rosto e eu sorri – você é o máximo!
   - Pois é, o que seria você sem mim?
   - Seria o Breno – respondeu tentando me intimidar e conseguiu.
   - Idiota, nem se acha – respondi dando um tapa em seu ombro largo. – Falando nisso Breno, será que Deus nunca vai mandar a pessoa certa para nós?
   - Lana, presta atenção, já te disse que Deus tem um tempo e que quem apressa o tempo DEle só se ferra. Deus não precisa de ajuda, então para de ficar aceitando convite desses caras que só querem te dar uns beijos e acabou. Você fica queimada desse jeito – sim, meio bruto, mas como eu estava acostumada, sabia que aquela seriedade era mais um conselho do que um sermão.
   Breno sempre era meu refúgio, literalmente um amigo mais chegado que um irmão, bom acho que é. - Não tenho irmão e sou feliz por ser filha única. Muitas pessoas que eu conheço reclamam de seus irmãos e louvo a Deus porque minha mãe só queria um filho, com Breno nunca me sentia sozinha, talvez por isso que eu nunca tive vontade de ter um irmão.
   Quando eu estava com Breno tudo estava bem. Uma vez na escola me envolvi numa briga com a Rebeca, uma menina loura oxigenada da minha sala, ela esbarrou em mim e não pediu desculpas eu fiquei irritada e falei pra ela
   - Você tá cega, garota? Poderia pelo menos ter pedido desculpas.
   - Cê tá louca menina? Quem cê acha que é? Posso quebrar sua cara em dois tempos – respondeu ela furiosa mexendo o pescoço e com o indicador levantado como aquelas americanas que parecem que dançam kuduro com a cabeça.
   Breno estava conversando com uns amigos dele no fundo da sala e assim que ouviu a gritaria foi me defender, falando que eu estava na TPM – quis matá-lo - e que não precisava brigar por besteira. A Rebeca só me encarou e saiu. Breno fez igual minha mãe me dando um sermão daqueles e como sabia que estava errada, só escutei e fiquei emburrada, como sempre.
   Em questão de relacionamentos Breno sempre foi muito bom também. Teve uma vez, quando meu ex namorado, Ricardo veio me forçar a voltar com ele, Breno tentou apaziguar, mas o imbecil do Ricardo nervoso avançou no Breno. Como Breno era mais forte o rendeu em uma gravata e disse para nunca mais chegar perto de mim ou ele levaria uma surra daquelas e como dita a regra em livros, histórias reais, etc., o meu ex prometeu se vingar e até hoje estou esperando.
   Retomando meus pensamentos falei:
   - Mas já fazem 2 meses que não dou um beijo em alguém. Minha boca já está formando teia de aranha, acho que tá mais que na hora de ir a capt...
  - Cale a boca menina insolente! Não ouse falar dessa maneira na minha presença! A senhorita é uma dama e não pode sair cortejando com garotos só pra saciar a sua vontade de beijar.
   - Para de falar assim, seu idiota – e me pus a rir – você sempre sabe me dizer a coisa certa. Acho que deveria namorar com você.
   - Ah tá! Você já falou isso tantas vezes que já perdi a esperança – algo na sua voz parecia dizer que não era brincadeira, mas apesar disso, nós dois rimos muito, porque desde que Breno se tornara meu melhor amigo eu o sugiro um namoro, mas como ele sabe que é zoeira da minha parte, ele me zoa também.
  Era meio dia quando minha mãe bateu na porta e veio chamar a mim e ao Breno para almoçar e como ele já era da casa, saiu correndo na minha frente e pegou a minha cadeira preferida, a da ponta.
   Desde que eu era criança sempre gostava de sentar na ponta, acho que era porque é sinal de independência, de maturidade, mas depois que conheci Breno e ele começou a passar os domingos na minha casa, aí não teve jeito, perdi o meu trono.
   Minha casa tinha dois andares – éramos classe media - e ele desceu a escada pelo corrimão e quase se chocou com o chão quando perdeu o equilíbrio. Eu gargalhei alto, ele olhou pra trás me fuzilando com os olhos e saiu correndo e tomou o meu lugar. Por mais que eu soubesse que eu sempre perderia, competir com ele nunca perdia a graça.
   Quando eu cheguei lá, vi a mesa com as minhas comidas preferidas, macarrão com franco, lasanha de bolonhesa, salada de alface com tomate e pepino sem cebola – eu não gosto de cebolas – e duas garrafas de Coca-Cola sobre a mesa – eu amo coca-cola - e Breno já estava se servindo.
   Lavei as mãos na pia da cozinha, era a parte da casa que eu mais gostava e não só por causa da comida, mas porque era o lugar que minha mãe caprichou mais na decoração.
   Ela me contou que quando foi escolher os armários, geladeira, micro-ondas, fogão etc. tudo que tem numa cozinha, ela queria tudo do mais simples e quanto mais cor melhor, só que quando ela pôs o pé dentro da loja, ela viu a cozinha de inox montada, esqueceu das cores e literalmente correu até chegar onde ela estava. Meu pai ficou muito constrangido quando ela ficava olhando furiosa para os clientes falando que aquela cozinha inteira era dela. Meu pai não teve escolha, também não fazia questão, alias homem quase nunca faz, então comprou para a minha mãe aquela cozinha. Claro que eu sabia que algumas partes eram exagero dela, mas eu gostava disso.
   - Hummmm... Tia Letícia, que gostoso esse macarrão – Breno falou depois de ter dar uma garfada no macarrão – a senhora sempre se supera, parece que toda vez que venho aqui a senhora capricha mais. – Ele deu uma garfada na lasanha – Caramba, que lasanha é essa? Prova Lana.
   - An – me esquivei da garfada de lasanha dele – para meu! Tenho o meu prato aqui, já vou provar – Eu não gosto de dividir comida. Mania.
   - Lana, minha filha, seja educada com Breno.
   Breno era o xodozinho da minha mãe.
   - Isso mesmo, tenha modos comigo senhorita – Breno me zoou.
   - Aff, bajulador. – E dei uma garfada no macarrão e na lasanha ao mesmo tempo – Hummm, mãe, que delícia! – Falei de boca cheia.
   - Obrigada meninos, só pra constar, a louça é de vocês – e deu uma piscadela enquanto se sentava.
   Minha mãe é tão linda e não aparenta ter 43 anos e ela se esforça tanto pra agradar a todos, sempre dá o seu melhor em tudo.
   Minha mãe tem muitas qualidades, principalmente o empenho e a pontualidade. Não sei como ela sempre termina o almoço ao meu dia, não é exagero, é sempre meio dia, mesmo, Breno não me deixaria mentir.
   É mesmo, ela é todo dia. Oi sou o Breno!
   Saí daqui Breno, a história é minha. Continuando...
   - O pai não vai almoçar com a gente de novo? – perguntei desapontada.
   Meu pai quase não aparecia nos almoços aos domingos, para ele o dia do golfe era sagrado.
   - Se você adivinhar onde ele está, deixo você repetir a sobremesa.
   - Então perdeu, ele está...
   - No golfe – intrometeu-se Breno – agora posso repetir, Tia?
   Minha mãe gargalhou e eu fiquei indignada porque ele respondeu a minha pergunta.
   - Ei, era pra eu responder.
   - Mas você foi lerda e eu respondi – ele riu e fez cara de deboche satisfeito.
  - Agora eu não vou poder repetir a sobrem...
  - Ei, Lana, calma minha filha, tem sobremesa pra todo mundo, seu pai só chega às 3 da tarde e nunca está com fome.
   - Tomou – mostrei a língua pra ele. Sei que foi infantil, mas a minha idade parecia ser menor quando eu estava com Breno e claro, ele também não era diferente.
   Depois que terminamos de comer, minha mãe trouxe o mousse de chocolate com granulado. Minha mãe amava chocolate tanto quando eu e gostava de inovar, então não demorou muito pra perceber que era mais uma coisa inédita que ela preparara e ainda por cima, uma desculpa para acrescentar mais chocolate à receita.
   Depois que terminamos de comer o mousse, lavei a louça enquanto Breno enxugava e guardava, apesar dele ser convidado – e ele aparecia freqüentemente porque minha mãe vivia falando pra ele voltar quando quisesse – ele nunca lavava a louça, era uma coisa que ele detestava.
   Não demoramos muito e terminamos a louça. Fomos para o quintal deitar debaixo do pé de goiabeira como sempre fazíamos depois do almoço. Fechávamos os olhos e não pronunciávamos uma palavra, só curtíamos o clima, o vento suave que sempre passava pelos nossos rostos, os pássaros cantando, algumas fretas da luz solar tocava a nossa pele entre as brechas da árvore. Vez ou outra caia umas goiabas na nossa cabeça e quando isso acontecia era o único momento que abríamos a boca, para reclamar, rir e caçoar do outro.
  Depois de ficarmos ali uma hora debaixo da árvore, Breno foi se despedir da minha mãe e foi para a casa dele que ficava duas ruas pra frente da minha e disse que passaria ali às 19 horas para me levar pro culto. Assenti, abracei e ele se foi.

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