Os Sonhos da Meia-Noite

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"Não havia ponte entre os mundos que os separavam. Haviam viajado para longe demais um do outro e não havia retorno. Não havia agora, nunca haveria."

Sidney Sheldon

Eu corria, disso eu me lembrava com clareza. Mas não era a mesma sensação de estar correndo num parque em um belo dia ensolarado, ou apostando corrida com um velho amigo. Coisas que eu costumava fazer quando era criança.
Eu corria a plenos pulmões, como se minha vida dependesse disso.
Acima de mim as folhas das árvores eram tão densas que a luz que brilhava do sol sequer transparecia, mal chegando a alcançar o chão sobre meus pés, deixando o dia quase tão escuro quanto a noite.
As pedras em que eu tropeçava tornavam mais difícil manter minha velocidade e meu equilíbrio.
Por um breve segundo eu recobro a consciência , sabia que nada daquilo era real, sabia porque já tinha acontecido antes. "É um sonho", uma voz se repetia na minha cabeça. "Um pesadelo". Mas não alto o bastante para me convencer.
Meus pensamentos se desvencilharam de mim com a
mesma velocidade em que vieram, por que tudo naquele instante era terrivelmente real.
Eu estava assustada, senti um calafrio percorrer minha espinha parecendo chegar até meu coração. Meus pés estavam doendo, cada músculo do meu corpo queimava pelo cansaço, eu já estava quase sem fôlego, tentando desesperadamente conseguir o máximo de ar que eu podia.
Não olhei pra trás para saber de quem ou que estava fugindo, não precisava. Por que a sensação que vinha de mim era como um pequeno alarme de perigo disparando em meu cérebro. E tudo que eu sabia que tinha que fazer era correr o mais rápido que eu pudesse, para o mais longe que eu conseguisse.
Mas meus pés me traíram me fazendo cair sobre o chão frio. Meus joelhos bateram na terra macia e úmida, amortecendo minha queda, mas não a tornando menos dolorosa. E então o medo caiu terrivelmente sobre mim.
O vento frio soprou parecendo deixar tudo em câmera lenta sobre meus olhos, e logo depois, como um filme acelerado. De novo e de novo.
Minhas mãos tremiam e lutei para levantar. Foi quando eu senti um toque gélido no meu braço, alguém me segurando impedindo que eu ficasse paralisada, e de alguma maneira dessa vez eu não temi. Por que quando eu me virei para encara-lo, percebi que eu o conhecia.
O mesmo rosto perigosamente irreal. Eu o tinha visto outras vezes nos sonhos, mas é claro que não pensei nisso naquela hora, apenas confiei em meus instintos que me dizia para fugir. Imediatamente.
Me apoiei sobre o garoto quando ele me ajudou a levantar, ele segurou em minha mão com tanta força que parecia que iria esmagar meus dedos pequenos dentro da mão dele. Por uma fração de tempo eu olhei seu rosto, a expressão de susto naquelas feições tão desconhecidas e familiares ao mesmo tempo. Os olhos verdes, me encarando como quem olha para uma velha conhecida, os cabelos castanhos caindo sobre o rosto misteriosamente expressivo.
E logo após eles surgiram a nossa frente. Pude contar quatro deles, duas garotas e dois garotos. Gritando para os seguirmos, tão assustados quanto nós, eu podia para ver através daqueles olhos que eram como borrões distantes, e ainda assim inconfundíveis. Aqueles mesmos olhos, as mesmas pessoas das quais eu nunca tinha visto, nunca havia conhecido. Pelo menos, não até os pesadelos começarem e se repetirem quase todas as noites. E eu finalmente passar a reconhecer e decorar cada detalhe daqueles rostos que vinham me atormentando há tanto tempo.

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⏰ Última atualização: Nov 15, 2016 ⏰

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