Capítulo 11

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        Horas se passaram e já não aguentava mais. Harry dominava meus pensamentos e eu andava de um lado para o outro, aflita. Bem mais que isso. Caminhei lentamente até o quarto dele e passei a mão pela maçaneta, abrindo a porta devagar.

- Quem é? - Harry se encontrava próximo da grande janela, centralizada em seu quarto. O clarão do entardecer ainda nublado iluminava todo o quarto.

- Harry, sou eu, Alice. Eu...

- Sai daqui, não te quero em meu quarto.

- Eu só queria...

- Sai daqui! - Harry pegou um pequeno vaso de vidro e jogou contra a parede, à poucos metros de mim. Me assustei e senti meus olhos lacrimejarem de nervoso enquanto meus dedos congelavam.

- Por favor, me desculpe, eu acabei falando o que não devia, eu nunca fui tão rude com alguém como eu fui com você, me perdoa, Harry... - corri até ele, o abraçando na cadeira, enquanto ele estava imóvel, sem retribuir e sem falar absolutamente nada, até que o silêncio foi quebrado, com uma frase que eu já deveria ter em mente.

- Não quero que fique mais aqui. - Harry me empurrou de seu corpo.

- Por que? Harry, me desculpe...eu errei com você.

- Não é por isso que estou demitindo você, já está perdoada. Só não quero que fique aqui, amanhã mesmo peço a um dos empregados para levar o dinheiro que te devo por ter me aturado e depois disso, nunca mais volte.

- Por que está a fazer isso? Eu não entendo, você mesmo disse que me perdoou...

- Por favor, Alice. 

     Harry não me olhou em momento algum, e saí de seu quarto, pegando a minha bolsa. Procurei Lydia pela mansão e me despedi dela, sem dar detalhes. Peguei um táxi para a minha casa e tomei um duche quente, deixando a água cair pelos meus músculos tensos. Preparei algo para comer, e com muito custo, terminei a refeição. Tentei assistir televisão, mas as vozes me irritavam. Tentei ouvir música, mas era como se a letra não tivesse sentido. Tentei ler, mas as frases pareciam embaralhadas. Queria ter me apegado menos...queria ter usado apenas profissionalismo, e queria ser menos sentimental. Isso é tudo que consigo pensar sobre o dia de hoje. Fazendo um resumo, eu conheci Harry há alguns dias, que se parecem meses, brigamos e discutimos em quase todos os dias por nossos temperamentos serem incompatíveis como dois extremos, como dois polos totalmente diferentes, dediquei dias e horas ajudando uma pessoa que, por mais que não quisesse, estava a depender de mim, tentei agradar, tentei arrancar sorrisos...fazer pessoas sorrirem, para mim, é algo muito valioso, e se tornava muito mais quando se tratava dele, que era fechado, mas que as vezes mostrava seu sorriso única e exclusivamente para mim. Harry e eu chegamos perto de sermos amigos. A experiência de cuidar de um cadeirante e apegar-se com uma pessoa que realmente precisa da outra para coisas simples que a maioria das pessoas não dá valor, é algo que vou guardar por toda a minha vida. Eu nunca tive sentimentos por ninguém, e talvez o que acho que sinto por Harry seja apenas a ideia de que eu me apeguei e me acostumei a cuidar dele. E eu realmente espero que seja isso. Nós dois nunca daríamos certo, não somos feitos um para o outro, somos o oposto; ele, com um coração congelado e eu, demasiadamente sentimental. Harry também parece o tipo que está com uma garota por semana, e só não está a fazer isso porque, de certa forma, está limitado. Me sinto mal, eu desejei coisas horríveis, indizíveis a qualquer ser humano.

   Me deitei e resolvi mandar algumas mensagens para amigas distantes, em busca de minha distração. Não quero continuar a embolar meus pensamentos.



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 Os dias passaram e senti uma dor profunda quando realmente recebi o envelope com meu pagamento. Eu pensei em perguntar sobre a mãe de Harry, e o próprio Harry para o empregado, mas preferi receber em silêncio, apenas com um agradecimento final. Ainda não posso entender a decisão dele, não me entra na cabeça. Eu me sinto a maior culpada de tudo isso, falei coisas muito fortes e talvez nunca me perdoe por isso, eu só queria mudar as coisas, eu só queria voltar no tempo, e ouvi-lo dizer alguma coisa...talvez eu esteja a delirar com tudo isso e só esteja demasiadamente confusa com a virada que minha vida teve nos últimos dias, tudo mudou.

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