Capítulo 1

16 1 0
                                    


Em uma situação desesperada, foi necessário uma previdência desesperada.

Em meio à necessidade de derrotar um mal crescente que ameaçava a destruição da Terra, os chamados "Guardiões" apareceram. Sendo eles presentes dos espíritos da Lua e do Sol para os humanos, defenderam o planeta por séculos e séculos, criando lendas de guerreiros poderosos e imortais por todas as eras da humanidade.

Criaturas mágicas, que quase não tinham limites para seus poderes, mas no processo, algo deu errado. Uma destas criaturas se rebelou contra as outras, e destruiu quase todas, fazendo com que as restantes se escondessem em cidades criadas por eles mesmos, ou, se enturmando entre os humanos, deixando o planeta vulnerável novamente.

Agora, com um mal que volta a crescer, o espírito da Lua toma a decisão, e envia um novo guardião para acordar os que vivem escondidos, e livrar a Terra do mal mais uma vez...

---------------


O novo guardião da Terra foi escolhido. Os espíritos decidiram, a séculos atrás, que eles devem ir ao planeta como animais de escolha do respectivo espírito que o mandava. Os guardiões teriam a habilidade de se alternar entre a forma animal, também chamada de forma "Feral", e sua forma humana. Alguns traços de sua forma feral continuariam no corpo, como uma falha da magia utilizada para transformá-los, mas com prática, eles aprendiam como escondê-las.

O novo guardião se chamaria Dartier Moon, e viria a Terra em forma de um lobo, de acordo com o diálogo dos espíritos, e assim foi. Sua chegada fora no dia 15/07 do ano de 2000...

...

Em meio a uma floresta, um feixe de luz cai do céu em direção da copa das arvores. Abaixo dos galhos folhas, é possível ver um pequeno altar de pedra no chão. O feixe de luz iluminava tudo em volta do círculo, e com a passar dos segundos, seu brilho diminuía, até que sumiu por inteiro, e sobre o altar podia-se ver um pequeno filhote de lobo de pelo alaranjado sentado, olhando rapidamente em volta, tentando entender o que era tudo aquilo, onde ele estava, como foi parar ali, quem era ele? O que era ele?

Um brilho surgiu da floresta, e quando se dissipou, podia-se ver um homem caminhando por um portal, vestido apenas com uma longa capa que cobria seu corpo inteiro. Ele se aproxima do pequeno filhote, e se agacha em frente dele. O animal recua um pouco, mas logo relaxa, enquanto o homem estendia a mão e tocava na cabeça do lobo. O toque fez com que conhecimento fosse transmitido ao animal. Nomes, lugares, objetivos e mais, agora circulavam pela pequena mente do ser mágico. O homem retira a mão da cabeça dele, e acaricia suas pequeninas orelhas, dando meia volta e caminhando de volta em direção ao portal. Quando ele passa pela dobra mágica, ela logo se fecha atrás dele, fazendo com que várias folhas voem para longe do ponto.

O guardião, ainda pequeno, processava toda aquela informação rapidamente, fazendo com que em pouco tempo estivesse andando pela mata, procurando algo pelo que fazer, para que enfim ele pudesse começar sua jornada. Ele sabia quem era, e sabia o que tinha que fazer, mas seu corpo impunha limitações, e tudo que podia fazer, é esperar o tempo passar.

...19 anos depois...

Ele não esperava que fosse fácil assim aprender. Sendo uma última esperança dos humanos, os espíritos fizeram com que seu potencial fosse praticamente ilimitado, o que possibilitava um aprendizado ridiculamente rápido, reflexos aguçados, agilidade aprimorada, entre muitos outros talentos. 

Quando ele atingiu os 13 anos, finalmente pode se transformar em um humano, e deixar sua forma feral. Alguns meses depois, ele podia controlar a transformação voluntariamente, conseguindo esconder as orelhas e o rabo de lobo quando queria. Aos 15, ele conseguia manejar galhos como espadas perfeitamente, desferindo golpes poderosos contra troncos de árvores. Aos 17 anos, ele conseguiu utilizar de uma magia, logo descobrindo que seu poder principal era a energia. Ele conseguia controlar e manipular a energia ao seu favor, mas com a prática, viria certa perfeição. Agora, aos 19, ele poderia sair da floresta e começar sua jornada de verdade. Ele seguiu em uma longa caminhada por trilhas da floresta enquanto transformado em feral para Nordeste, em direção a uma cidade grande.

Após horas andando, ele finalmente podia ver uma estrada de terra, que o levou até a cidade. Ele se transformou em sua forma humana, que tinha uma aparência jovem, um metro e setenta e cinco de altura, uma postura boa em geral. Seu cabelo tinha um tom alaranjado, e cobria parte de sua testa. Seus olhos eram azuis como o céu, e ele utilizava algumas roupas de seda, vestindo um suéter sobre seu torso, uma calça de seda, e chinelos de madeira.

Ele adentrou a cidade, passando por casas pequenas até arranha-céus. Sua prioridade era se atualizar em questões de vestimenta, devido aos olhares que ele estava recebendo das pessoas. Ele esbarrava em pessoas que corriam apressadas para seus trabalhos ou para compromissos em geral, e ficava levemente assustado com a ignorância dos humanos, sempre dizendo 'desculpe' ou 'sinto muito' após colidir com alguma outra pessoa, mas nunca tendo respostas. Eventualmente, ele chegou até uma loja que tinha várias roupas na vitrine, o que fez com que pensasse que era uma loja de roupas, e estava correto. Após entrar no estabelecimento, um homem atrás do balcão de madeira o encarou com uma face de nojo, e disse com uma voz rude:

_Se você não tem dinheiro para comprar nada, não entre na loja!

Dartier ficou confuso. Ele estava lá para comprar roupas, e tinha dinheiro em seus bolsos, que ele pode ou não pode ter pegado de um baú antigo localizado na floresta em que ele passou seus primeiros anos. Ele respondeu, com sua suave voz:

_Eu tenho dinheiro...

_Mentira! Você parece um mendigo!

_Men- o que? Como assim?

_Olha, se você tem dinheiro, é melhor me mostrar agora! Se não eu mesmo te tiro dessa loja, à força!

O jovem estava confuso, mas obedeceu ao homem, tentando não causar problemas. Ele se aproximou do balcão, e pôs um pequeno saquinho sobre a madeira:

_O que é isso, ein? Algum tipo de piada?!

O homem começou a se estressar e, rapidamente, pegou o saco e o jogou do outro lado do balcão, fazendo com que o saco se abrisse, e espalhasse pequenas pedras brilhantes sobre o mesmo. O homem abriu seus olhos como se tivesse achado uma mina de ouro, e realmente, foi algo parecido. Ele correu para o outro lado do balcão enquanto o jovem olhava, confuso. O dono da loja pegou uma das pedras e olhou contra a luz, quase que gritando:

_Diamantes!

_Eu já posso comprar minhas roupas agora? – perguntou Dartier –

_Certamente, sim, sim, claro! – disse ele, com uma animação ridiculamente exagerada, enquanto fazia o mesmo com as outras pedras. – Leve o que quiser!

O jovem encarou o homem por alguns segundos, mas logo se virou e começou a procurar por peças de roupas que seriam boas para se enturmar com a sociedade atual. Sua primeira tentativa foi um terno formal, mas era muito inconfortável. Ele logo passou para algumas peças de roupas que eram melhores, porém, continuavam estranhas em seu corpo, até que finalmente achou algo que combinasse: Uma jaqueta cinza sobre uma camisa branca, em conjunto com um cinto para sua calça jeans, e tênis de esporte, e mais duas luvas esportivas pretas.

Quando estava pronto para sair, perguntou ao dono da loja:

_Eu... Posso levar?

_Vai! Pode sim! – respondeu, com um gigante sorriso na face, enquanto ele continuava a encarar as pedras reluzentes –

_Então tá... – disse Dartier, vagarosamente se voltando para a porta e andando –

Ele saiu da loja, olhou para a esquerda, e quando ia olhar para a direita, ouviu um grito:

_CUIDADO!

E tudo que ele pode ver foi alguém esbarrando nele enquanto pedalava uma bicicleta, e então, tudo ficou escuro em sua visão, enquanto sua mente ficou quieta, e ele caiu na inconsciência.

Ferals - Os Guardiões Da TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora