Capítulo I - Parte III | Jogo das sombras

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Mais tarde, quando a lua já cintilava no céu, acordou com um bafo forte de cerveja na sua nuca. Virou-se assustado. Gustavo o mirava estranhamente. Um brilho estranho irradiado pelos seus olhos causavam arrepio.  

-O que você quer? - pediu tentando afastá-lo.  

-Vim te fazer mulherzinha! - Então cambaleando o segurou forte. Quando Júlio tentou gritar ele acertou um soco na sua cara, fazendo seu nariz sangrar.  

Ele cochichou no meu ouvido: 

-Cala a tua boca, se não te mato! - Júlio paralisou. Estava pálido, suando frio. Temia pelo que estava por vir. Quando começou a descer as suas mãos pela cintura, subitamente vomitou sobre ele. Nojo espulgado sozinho. Sem perder tempo deu um bofete na sua cara. Caiu sobre a cama e começou a tremer. A dor foi imediata.  

-Você tá me provocando mesmo, né? Veadinho nojento. Pode deixar vai ter troco, vou fazer você engolir porra! - esbravejava enquanto se limpava. Tirou a camisa lambuzada de escarno, logo em seguida tirou a calça e foi nesse momento em que ele se apavorou de verdade. Nunca pode imaginar que pudesse passar por algo assim. Sentia muito medo. Começou a soluçar baixinho deixando as lágrimas caírem involuntariamente.  

-Escuta aqui! - puxou com força meus cabelos, fazendo um zigue-zague em sua mente - se tu chorar mais um pouco, vô quebra tudo teus dentes! - trancou a respiração. Calma da onde? Ela havia sumido como todo o resto. Passou a respirar ofegantemente. 

-EU DISSE PRA PARAR! Estagnou. Foi incapaz de fazer qualquer movimento. Um centímetro para o lado fazia contraste com as consequências barbarás.  

-Isso! Assim que eu gosto! Bem quietinho. Paradinho como uma bonequinha. Agora me chama de titio. Vamos, eu quero ouvir - pareceu tão sarcástico e psicopata quando a um daqueles filmes enlatados americanos sobre o gênero.  

-Ti... ti... ti... ti... - as palavras engasgavam no meio da garganta. Naquele momento desejou que qualquer herói daquelas velhas histórias em quadrinhos pudesse sair dos gibis para salvá-lo. Não havia outra maneira. Se eles não pudessem ninguém mais poderia.  

Sentiu outra vez a força da sua mão na sua cara. Segurou o choro antes que pudesse sair. Estreitou os olhos e procurou piedade nos olhos dele. Nada lá tinham de caridosos. No escuro emanavam algo macabro, quase que assassino. Seu sorriso estava tão largo que chegava parecer falso. O que seria dele? Onde estariam os salvadores? Perdidos no caminho? Ele voltou a puxar seu cabelo e levou sua língua até o meu ouvido. Primeiro a lambeu. Depois cochichou: 

-Fala TI-TI-O! - dessa vez começou a lamber seu pescoço.  

-O... qu... que... voc... cê... ganha... com... is... is... sso? - não tinha mais espaço para racionalidade. Todo o seu corpo, toda a sua alma, dependiam do seu instinto de sobrevivência. Que como a calma, havia desaparecido.  

-CALA BOCA! - gritou no seu ouvido, estourando os tímpanos. Tirou bruscamente a camiseta de Júlio e voltou a olhá-lo com olhos sedentos de desejo selvagem e desmoderado.  

-É a sua última chance! - segurou firme o seu queixo para que não pudesse desviar os olhos - agora fala que eu quero ouvir, fala.  

-Ti.. ti.. titi... titito...  

-FALA DIREITO! - pulou de sobressalto para trás. Ele por sua vez, pressionou com força sua face.  

-Titio... - não soube de que forma conseguiu falar.  

-Muito bem! Agora gostei - soltou seu queixo e tentou beijá-lo. Virou o rosto, mas ele o chacoalhou com tanta força que por alguns momentos pensou ter desmaiado. A vida por sua vez, era boa demais para permitir tal privilégio.  

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⏰ Última atualização: Aug 17, 2013 ⏰

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