A Sétima Filha

Despedida

I had a one way ticket to a place where all the demons go Where the wind don't change And nothing in the ground can ever grow No hope, just lies And you're taught to cry into your pillow But I survived I'm still breathing I'm still breathing I'm still breathing I'm still breathing I'm alive I'm alive I'm alive I'm alive I found solace in the strangest place Way in the back of my mind I saw my life in a stranger's face And it was mine I had(alive, sia)

Pensei em uma desculpa para dar a Meg,eu nunca dormira até tão tarde, na verdade era sempre a primeira a levantar, por isso ela parecia preucupada.
-Foi dormir tarde,tinha muito trabalho da escola,acabei dormindo demais.
Ouve um minuto de silêncio e logo Meg voltou a falar.
-okay, mas desce logo,a vovó já está ai.

Eu me esquecera completamente que minha avó viria hoje.
"merda"
Eu não ia poder fugir do encontro com minha avó.
-tudo bem, já desço.
Harry olhava pela janela,quando os passos de Meg silenciaram no corredor ele se voltou para mim.
-vou ter que descer. - falei - só preciso dar um jeito nisso.
Indiquei meu rosto ferido.
Ele assentiu,estava novamente com aquela aura preucupada.
-vá sim,e aproveite para se despedir.
O olhei sem intender.
-despedir?!
Ele voltou a olhar pela janela.
-Nos vamos embora Easter.

Ri de um comentário que meu padrasto fez sobre o penteando novo de vovó, ela lhe lançou um olhar irado muito parecido com o meu quando eu me irritava.
Nunca tinha percebido como eramos parecidas,talvez eu fosse ter aquela aparência que ela exibia agora,quando tivesse sua idade.
Sorri diante da ideia e o sorriso quase foi substituído por lágrimas quando me lembrei da conversa que tivera com Harry algumas horas atrás.
Aquela séria última vez que vêria minha família, talvez por muito tempo, sabia que era para a segurança deles, mas não conseguia refrear as emoções.
Harry me explicara tudo,sobre meu antepassado Enoque,sobre seu desaparecimento e sobre eu ter sido marcada como sua herdeira.
As marcas em meu corpo eram as nove chaves de Enoque e os sinais em meus pulsos representavam o número sete, segundo Harry, o sete era um número divino que representava totalidade, algo perfeito, os escolhidos por Deus recebiam aquele sinal, assim como os partidários de Lúcifer eram marcados com o triplo 6.
Enoque recebera aquelas mesmas marcas e eu as herdara dele,assim como herdara seus dons de transitar pelos planos celeste, terrestre e inferior e levar qualquer ser comigo, também podia me comunicar com os seres celestiais, por isso podia vê-los, para pessoas comuns eles eram invisíveis, mas não para mim.
Essa era a razão de Lúcifer me querer.
Ele queria transitar livremente pelos planos,se libertar do seu exílio no mundo inferior, preso lá ele apenas podia dar ordens a seus servos,segundo Harry ele queria liderar pessoalmente suas hostes,guerrear pelo trono no céus e dessa vez vencer. Eu era indispensável para ele dar início a seu plano. Os anjos tinham me mantido protegida mas agora Lúcifer havia me encontrado e eu precisava fugir.
Poderia procurar Anna,ela era umas das guardiãs,me levaria em segurança para os outros guardiões , mas eles matariam Harry.
Ele era o inimigo, um anjo caido, partidário de Lúcifer, ninguém acreditaria que ele quer me proteger,e eu não conseguiria me manter afastada dele,Harry era meu porto seguro.
E ele tinha um plano.
Naqueles dias que Harry sumirá, ele fora ao encontro de uma pessoa que tinha plena certeza de que Enoque estava vivendo na terra,camuflado entre os humanos.
Ele não queria ser encontrado, mas Harry me prometera que o encontraria e me libertaria daquela maldição.
Se o próprio Enoque estava vivo, não havia por que eu herdar seus dons, eu não os queria.
Nós partiriamos naquela noite,Harry me déra aqueles momentos com minha família para que eu me despedisse deles.
Dizer adeus estava sendo mais difícil do que eu imaginara,eu tinha consciência de que ficar ali, principalmente sem Harry seria impossível, assim que Lúcifer descobrisse que fora traído por ele e eu escapara, aquele seria o primeiro lugar onde me procuraria, mas se eu estivesse longe eles seguiriam meu rastro,minha família ficaria em segurança. Mas eu precisava partir para que eles ficassem seguros.
Tinha consciência que seríamos caçados sem cessar, mas Harry estaria comigo, me protegeria, e isso, e a certeza de que minha família estaria segura, bastava para me fazer sentir bem.
Tentei ser o mais comunicativa possível durante o jantar,passamos horas realmente legais em família,fazia muito tempo que não passávamos momentos tão agradáveis juntos, até Sophia desceu um pouco de seu costumeiro pedestal e riu das histórias hilarias que vovó costumava contar sobre sua juventude.
A que eu mais gostava era sobre como conhecera o vovô.
Ela sempre contava, mas eu não me cansava de ouvir.
Já passavam das onze horas Quando vovó reclamou da dor nos joelhos e disse que ia se retirar, depois que ela saiu, um por um foi deixando a sala, indo para seus quartos,até restarem apenas Sophia e eu.
O silêncio se instalou na sala, era estranho após tantas vozes e risadas, aquela calmaria.
-Sua avó enche essa casa de alegria.
A voz de Sophia quebrou o silêncio,ela estava sentada em umas das poltronas,olhei para ela com cuidado gravando seus traços.
Minha mãe e eu jamais havíamos tido uma boa relação,eu nunca lhe dera orgulho como minhas irmãs,e sabia que o que mais a incomodava era que eu não puxará nada dela,nem a aparência, nem algum traço da personalidade, eu era igual meu ao pai e o casamento deles estava passando por uma crise quando nasci,Sophia achou que com meu nascimento eles iam superar os problemas, mas aquilo não aconteceu e quando meu pai morreu eles já viviam em um casamento apenas de aparência.
-você me ama Sophia?
Eu sempre tivera receio de fazer aquela pergunta, mas achei que aquele finalmente era o momento,Sophia não poderia ter ficado mais surpresa, seus belos olhos azuis se arregalaram momentaneamente.
Era algo estranho para se perguntar a uma mãe,mas desde que ela havia me levado para aquele sanatório eu tinha dúvidas,não queria partir com aquela dúvida.
O assento ao meu lado afundou quando Sophia se sentou,ficou olhando meu rosto, me contraí quando ela acariciou a pele do meu rosto,nem lembrava a quanto tempo ela não tinha um gesto de carinho comigo.
Ela notou meu embaraço e vi tristeza em seus olhos sempre tão frios.
-Eu sei que tenho sido uma péssima mãe para você Easter,errei tentando acertar, mas é claro que te amo, você é parte de mim e quando nasceu e vi como se parecia com seu pai meu amor por você se multiplicou.
A olhei confusa
-Mas vocês não se amavam mais,achei que se incomodava com nossa semelhança.
E lá estava aquela sombra de tristeza novamente
- Eu amei seu pai até o último dia, e ainda o amo,o amor dele por mim acabou apesar de eu ter feito de tudo para salvar nosso casamento. -
senti meus olhos marejarem mas tentei ser forte,tudo o que eu achava saber sobre Sophia estava ruindo,aquela mulher diante de mim,era um lado da minha mãe que eu desconhecia,desejei ter feito aquela pergunta antes, talvez podiamos ter tido uma chance de nos acertarmos se eu soubesse que ela me amava, a sua maneira, mas amava.
-sinto muito mãe.
- Não sinta querida, ele me deu você, e toda vez que olho em seus olhos tão parecido com os dele,me sinto bem.
As lágrimas se libertaram e pela primeira vez desde que Sophia havia me deixado naquele sanatório eu a abracei,era um abraço cheio de saudade e principalmente um abraço de despedida,ela não percebeu isso, para Sophia era apenas um abraço de reconciliação.
-Está tarde querida, vá pra cama.
Me separei dela, não querendo ir, mas havia um anjo caido em meu quarto esperando por mim.
Olhei uma última vez para minha mãe e subi as escadas, Harry estava no topo me aguardando,pela expressão em seu rosto sabia que ele ouvira minha conversa com Sophia,deixei uma lágrima escapar e ele me enlaçou em seus braços protetores.
-Sinto muito por te fazer partir agora Easter.
- É o certo, não posso por a vida da minha família em risco.
Harry me soltou.
-Só falta sua mãe Easter.
-Já modificou a memória de todos ?
Ele assentiu,senti uma pontada no peito, mas tentei permanecer forte.
-Vou te esperar em meu quarto.
-Não vou demorar, antes do amanhecer vamos estar longe.
Me dirigi ao meu quarto,e já não contive mais as lágrimas. Harry estava na sala usando seus dons celestiais,para dar falsas lembranças a ela assim como fizera com toda minha família.
Amanhã quando alguem perguntasse por mim, eles diriam que eu voltara ao sanatório e que os médicos haviam proibido visitas.
Todos em spring Valley já me consideravam a louca da cidade,não me preucupava com o que pensavam,apenas a opinião de Samantha,sabia que ela iria sofrer ao saber da minha nova internação, mas todos ficariam seguros assim.
Quando Harry retornou eu estava parada olhando pela janela,não me voltei, mas senti sua presença, ele se aproximou com seus passos felinos e me abraçou, me recostei sentindo seu calor.
-Acabou? Perguntei
-Sim, acabou, podemos partir.