Introdução

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Introdução
Estas foram as primeiras histórias que ouvi na vida. Eu tinha quatro anos de idade, e
meu tio, ainda jovem, praticava comigo seus conhecimentos de grego. Ele lia, no
original, trechos da Ilíada e da Odisseia, e depois os traduzia para mim. As palavras
estranhas caíam em meus ouvidos como uma espécie de música sombria e, depois
de traduzidas, deixavam-me sempre um pouco decepcionado. Eu ficava feliz em
saber o que se passava nas histórias e ficava ansioso para ouvir o que aconteceria a
seguir — mas, mesmo assim, parecia estar faltando algo: as vozes retumbantes dos
heróis, os sussurros do mar, o bater das lanças. Eu tinha sido contaminado com o
vírus da poesia e não me dava conta disso.
Anos mais tarde, seguindo os passos de meu tio, estudei grego e latim. Ao ler
aquelas mesmas histórias — da maneira que foram originalmente escritas por
Hesíodo, Heródoto, Homero, Virgílio, Ovídio etc. —, senti no peito o mesmíssimo
encantamento. E, ao ler as traduções, fiquei igualmente decepcionado.
Então passei a recontá-las com minhas próprias palavras.
Afinal, o que são essas histórias tantas vezes repetidas?
Na mitologia grega, tanto os heróis quanto os monstros são gerados pelos deuses.
As Górgonas — aquelas criaturas terríveis, com serpentes no lugar de cabelos —,
por exemplo, são netas de Reia, mãe de Zeus, o que as faz primas do arqui-inimigo
delas, Perseu. Em outras palavras, tanto o bem quanto o mal descendem dos
deuses. O bem é uma energia divina que se expressa por meio de heróis virtuosos.
O mal é a mesma energia, só que invertida. Quando um herói enfrenta um monstro
em qualquer uma dessas narrativas mitológicas, quase sempre se trata de uma briga
em família. Essa ideia pagã influenciou todas as religiões que apareceram em
seguida.
O nascimento de um monstro é cercado de fúria, e é isso que o torna monstruoso:
a ira de um deus — ou, mais frequentemente, de uma deusa —, que produz em
carne e osso uma criatura perigosa e horripilante.
Os heróis da mitologia grega são criaturas solares, e isso não quer dizer que eles
simplesmente se desenvolvem à luz do sol; trata-se de uma qualidade moral. Os
heróis amam o ar livre; eles voam, cruzam mares revoltos, correm nas colinas,
caçam nas florestas. Quanto aos monstros, eles preferem a escuridão. Onde vivem
as Górgonas, por exemplo, é sempre inverno. Cérbero é um cão de três cabeças
que guarda os portões do sombrio Tártaro, a morada dos mortos. Cila e Équidna, as terríveis mulheres-serpente, escondem-se em cavernas no fundo do mar, engolem as
marés, provocam naufrágios, capturam os marinheiros e quebram seus ossos. O
Minotauro vive em um labirinto de sombras. Assim, quando saem à captura desses
monstros da escuridão, os heróis são obrigados a deixar a luz do sol, e é aí que
começam os problemas.
Trata-se, portanto, de um tema religioso bastante recorrente: a eterna luta entre os
poderes da Luz e os poderes da Escuridão. Na mitologia grega, ela é ilustrada por
meio de histórias bastante singelas, que deixaram para sempre sua marca em nossa
consciência.
Bernard Evslin.

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