2. Afrodite

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Afrodite era a deusa do amor e da beleza. Portanto, há mais histórias sobre ela do
que sobre qualquer outro, deus ou mortal. Sendo o que é, participa das mais
diversas aventuras. Seu poder é tamanho que qualquer um que pronuncie seu nome
— e nada mais do que isso — torna-se vítima de seu encantamento: tem a
impressão de que vê seus ombros pálidos e sente o perfume de seus cabelos
dourados.
Mas todos os relatos dão conta de que ela é a deusa do desejo e, ao contrário dos
outros Olímpicos, jamais abandona suas obrigações. Seu trabalho é seu prazer; sua
profissão é sua diversão. Não pensa em nada a não ser no amor, e ninguém espera
dela outra coisa.
Afrodite é fruto do assassinato primário. Quando Crono matou seu pai, Urano, com
a foice que sua mãe havia lhe dado, ele jogou ao mar o corpo desmembrado, e o
sangue desse corpo se transformou em espuma. Dessa espuma surgiu uma
belíssima ninfa, nua e banhada pelas águas do mar. As ondas cuidaram dela, e os cavalos brancos de Posídon a levaram para a ilha de Citera. Por onde ela andava, a
areia se transformava em relva, e flores brotavam do chão. Mais tarde, foi mandada
para a ilha de Chipre. As encostas das montanhas ficaram cobertas de flores, e
pássaros de toda espécie coloriram os céus.
Zeus mandou chamá-la ao Olimpo. Quando chegou, ela ainda estava molhada com
a água do mar. Seu corpo estava coberto apenas com os longos cabelos, que
chegavam à altura dos joelhos e eram amarelos como o narciso. Afrodite olhou para
a sala do trono onde os deuses a aguardavam e sorriu de felicidade.
Hera observava Zeus atentamente. — Você deve fazer com que ela se case o mais
rápido possível — sussurrou. — Quanto antes melhor!
— Sim — respondeu Zeus. — Um casamento parece apropriado.
Dirigindo-se aos presentes, Zeus anunciou: — Irmãos, filhos e sobrinhos! Afrodite
precisa se casar e vai escolher seu marido. Façam suas ofertas!
Os deuses se aglomeraram em torno de Afrodite, gritando todo tipo de promessas
e propostas. O trovejante Posídon teve de usar seu poderoso tridente para abrir
espaço em meio à divina multidão. — Você deve ir para o mar — disse ele. — Você
nasceu da espuma do mar e portanto me pertence. Ofereço grutas, pérolas,
superfícies esplêndidas, profundezas obscuras... Enfim, ofereço a variedade!
Marujos naufragados, maremotos, crepúsculos! Ofereço segredos! Ofereço riquezas
que a Terra simplesmente desconhece! Poderes infinitamente mais sutis e fluidos do
que os que ali se encontram! Venha comigo e você será a rainha dos mares!
Posídon bateu o tridente no chão. Subitamente, uma onda gigantesca se formou no
mar, subiu às alturas como se quisesse engolir o Olimpo e depois parou, trêmula,
segundos antes de se quebrar. Terminado o espetáculo, Posídon bateu novamente o
tridente, e a onda se desfez em uma inocente marola. Afrodite sorriu, porém não
disse nada.
Em seguida, cada um dos outros deuses apresentou sua proposta e sua lista de
maravilhosos presentes. Apolo ofereceu um trono e uma coroa confeccionados com
o mais puro ouro solar, uma biga de ouro puxada por cisnes brancos e as Musas
como damas de companhia. Hermes prometeu torná-la a rainha das encruzilhadas
por onde todos são obrigados a passar; ali ela ouviria todas as histórias, conheceria
todos os viajantes, saberia de todas as novidades, assistiria a um riquíssimo desfile
de aventuras e fofocas que jamais a deixaria entediada.
Afrodite sorriu para Apolo e para Hermes, mas também não respondeu.
Hera não estava nada satisfeita com o andamento das coisas. Hefesto, o feioso e manco deus ferreiro, escondia-se atrás da multidão, com vergonha de se apresentar.
Hera foi até ele, puxou-o pelo braço e sussurrou: — Vá até lá e se apresente,
bobalhão! Diga exatamente o que eu mandei você dizer!
Hefesto se arrastou acanhadamente até a magnífica deusa. Sem sequer olhar para
ela, disse: — Eu seria o marido ideal para alguém como você. Sempre trabalho até
tarde.
Afrodite sorriu. Não disse nada; apenas levantou o queixo do ferreiro cabisbaixo e
beijou seus lábios docemente.
Naquela mesma noite os dois se casaram. Na festa do casamento, por fim,
Afrodite resolveu falar: aproximou-se de cada um de seus pretendentes dizendo
quando poderiam visitá-la e levar todos os presentes prometidos.

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