Eram 6:57 de uma manhã de segunda-feira quando despertei. Os raios de sol haviam atravessado o vidro da minha janela e estavam posicionados exatamente sobre meu rosto. Foi desse modo que levantei da cama e comecei a me arrumar para a escola. Meu pai teve que ir morar na Inglaterra e acabou me deixando sozinha aqui no Japão, uma garota de 14 anos vivendo em um apartamento pequeno no centro de Tokyo. Então eu sempre tomava café da manhã sozinha e saía de casa às 7:40. Naquele dia não foi diferente.
Apesar de ser o primeiro de dia de aula, nada havia mudado. Logo que entrei na sala, fui recepcionada com um forte abraço de Hiroshi.
- Ayane!! Que saudades suas! Como foi o verão?
- Ohayo Hiroshi-kun! Ah, foi a mesma merda de sempre. Só fiquei em casa vendo animes e engordando... Mas ainda bem que passou rápido. Estava louca pra voltar pra escola! - disse eu.
- Pois é... Nem parece que se passaram dois meses desde que terminamos o oitavo ano.
- Né...Hiroshi é meu único amigo aqui na escola. Mesmo estudando nela desde pequena eu não consegui me enturmar. Eu sou uma menina extremamente tímida e não sei confiar nas pessoas, já que não posso contar nem com o meu pai. Estou sempre seguindo apenas a minha cabeça, e às vezes me fodo por isso, mas não sei fazer de outro jeito. No momento eu só tenho meu amigo.
- Hey Ayane - indagou Hiroshi, com um tom de surpresa - Seu cabelo cresceu tanto! Nem lembra mais aquela ruivinha de cabelo curto que eu conhecia.
- E isso é bom ou ruim??? - perguntei preocupada.
- É bom, muito bom. Você está lin..."PÉÉÉÉÉÉÉÉ"
O sinal tocou e a professora entrou na sala. Eu e Hiroshi procuramos nos sentar depressa, mas os únicos lugares restantes eram os três mais próximos à janela, no fundo da sala. Tínhamos nos sentado nos mesmos lugares no ano anterior, então isso não foi um problema. Apenas me sentei e fiquei fazendo coisas aleatórias, já que Hiroshi estava conversando com seus amigos. Eu sou excluída demais para ter outros amigos. Ninguém fala comigo a não ser ele. Mas tenho certeza que ele só faz isso por pena.
Quando entrei na escola, no quinto ano, duas garotas muito chatas implicavam comigo sempre. Elas roubavam meu lanche, derrubavam meus livros, ficavam me zoando pelas costas, inventando boatos sobre eu ser um alienígena por eu ser muito magra. Eu era muito tímida para revidar, e acho que ainda sou, mas um dia eu tomei coragem e disse:
- Vocês não podem continuar a fazer isso comigo!!! Senão vou denunciá-las à diretora!!!
- Ahn, então você tá com medinho, é? Vai contar pra sua mamãe? Coitadinha. - disse uma delas em tom de deboche - O que você acha que devemos fazer com ela, hein amiga?
- O que eu não sei, mas ela não vai mais nem pensar em contar.Aí, elas me empurraram e eu caí no chão. Eu tentei fugir mas elas me encurralaram contra a parede, me deixando sem opção. Elas foram chegando perto, e mais perto, e começaram a me bater muito forte. Eu me desesperei, não sabia o que fazer!! Foi quando o Hiroshi apareceu. Ele puxou as duas meninas para trás e correu ao chão para me socorrer. As duas ficaram perplexas e muito envergonhadas.
- Não quero vê-las maltratando essa menina nunca mais! Ou vão ter que se ver comigo!! - ele disse me abraçando fortemente contra seu peito.
Desde aquele dia, nós nos tornamos melhores amigos, e ele diz que eu posso contar com ele pra qualquer coisa que eu precisar, que ele vai estar lá pra mim sempre, assim como ele estava naquele dia.
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Caminhos Interligados
RomanceA esperança no amor poderá superar a força de uma amizade?