01. Um bom dia para morrer

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Parafraseando Theodore Finch de Por Lugares Incríveis: Será que hoje é um bom dia para viver?

A pergunta original é o oposto, eu sei, mas desde que acabei a leitura da obra, sinto a esperança correr por minhas veias, acelerando meu coração que, com dificuldade, bombeia sangue para todas as partes do meu corpo.

No livro, Finch e Violet Markey partem para uma jornada incrível, visitando os lugares mais altos do estado onde moram. Os dois protagonistas são traumatizados e sofridos. E incrivelmente indescritíveis. A jornada de ambos começa no alto de uma torre, a um ponto de dar fim a vida, e termina de uma forma surpreendente.

Pude me deleitar com obra de Jennifer Niven durante minha conexão São Paulo-Madrid. As dez horas de viagem foram suficientes para que eu a finalizasse e, durante meu segundo voo, Madrid-Paris, ainda estava anestesiada.

Instintivamente passei o restante da viagem observando as densas nuvens pela pequena janela, tentando decifrar quantos x metros de altura eu estava da terra firme.

Aquele momento foi o ápice da minha vida.

Sobrevoar a Europa foi o auge de toda a minha existência.

E talvez seja por total influência da história, que me encontro aqui, parada no meio da Champs Elysées, enquanto pessoas imersas na correria do dia a dia passam por mim e me acertam os ombros.

Desembarquei em Paris há poucas horas. Antes de chegar nessa avenida movimentada, fiz apenas uma parada para que pudesse largar todas as minhas malas e tralhas no hostel que estou hospedada.

Gastei alguns minutos a mais, pois fiquei perdida. Não falo francês e meu inglês anda meio enferrujado, talvez por isso o taxista encontrou tanta dificuldade em me compreender.

Estou aqui porque, desse ângulo, consigo apreciar a beleza de dois grandes monumentos. Dois grandes e altos monumentos que, sem dúvida, me proporcionariam vistas excecionais. Além, é claro, de batimentos cardíacos acelerados e muita ventania.

Não sei qual escolher. À minha frente está ele, o monumento mais fantástico de todos, completamente iluminado por uma linda luz amarelada.

Com seus gloriosos cinquenta metros de altura, o Arc de Triomphe me convida para uma experiência incrível: observar, bem do alto, a beleza das doze avenidas em torno do local.

À minha direita, algumas ruas de distância, está ela. Procuro um adjetivo à altura, mas é completamente impossível. Está aí! Alta!

Talvez essa seja realmente a melhor forma de caracterizar a Torre Eiffel. Em pensar que, antes de ser construído, as pessoas achavam que o monumento seria como uma sujeira na linda paisagem plana de Paris.

Olhando-o agora, em seus majestosos trezentos e vinte e quatro metros de altura, tenho vontade de gargalhar. Como uma das coisas mais belas que já vi na vida, poderia ser um "borrão" para aquela cidade?

É uma luta injusta.

Duzentos e setenta e quatro metros serão desperdiçados caso eu escolha a primeira opção. Não sei bem se a conta está correta. Estou parada no coração da cidade e pessoas apressadas passam por mim a cada segundo.

Fora isso, ainda há o barulho das buzinadas daquele transito caótico que somente o cruzamento de doze avenidas pode ter. E tem os ruídos das conversas das madames nos bistrôs localizados bem no meio da calçada. E a música ambiente das lojas que estão ao meu redor, lojas podres de chiques que nunca terei coragem de entrar.

Não estou em um ambiente favorável para fazer contas.

Por cima da música que escuto pelos fones de ouvido, ouço alguém xingar um palavrão por eu estar parada, há minutos, no meio do caminho.

Étoile [conto]Onde histórias criam vida. Descubra agora