Se não é James Fraser...

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Acordei assustada devido à um pesadelo insuportável. Sonhei que Blake me perseguia pelas ruas. Eu corria, corria, mas não saia do lugar, até que ele me alcançou, me prensou contra a parede e balançou incessantemente meus ombros enquanto gritava por respostas. O despertador me salvou de tudo isso. Nunca pensei que fosse ficar tão feliz por ouví-lo tocar.
Era quarta-feira, fiz um checklist mentalmente das tarefas que precisava realizar durante o dia: Reunião com o tal cônsul, ir ao mercado, revisar a papelada necessária para quando meu chefe retornar... Acho que só. Bom, não será um dia tão agitado.
À fim de tirar a mau impressão que provavelmente causei em Lilly, decidi me vestir formalmente, como manda o cargo (afinal, mesmo não sendo uma chefe mandona, preciso deixar claro quem dá as ordens lá). Coloquei uma bela saia lápis de couro, que realçava minhas curvas, uma camisa preta de cetim por dentro da saia, nos pés uma ankle boot preta com uns detalhes dourados e para finalizar um blazer branco charmoso, que ia até a minha cintura. Olhei-me no espelho e até me assustei com tanta elegância – já que não é algo que, por algum motivo, acontece com frequência.
Entrei na embaixada sem tirar meus óculos escuros, dei uma breve olhada na sala de espera (fato inevitável, já que era necessário passar por ela para chegar na minha sala). A sala estava admiravelmente vazia, com duas ou três pessoas – no máximo – esperando por atendimento. Diminui a velocidade com que andava ao passar pelo balcão onde Lilly estava.
— Bom dia, senhorita Melo. – Disse com um sorriso no rosto.
— Bom dia, Lilly. Estarei na minha sala caso precise de mim – Disse retomando a velocidade com que andava antes. – E ah, pelo visto o cônsul está atrasado, não?
– Na verdade ele está a esperando há aproximadamente vinte minutos. – Ajeitou o rabo de cavalo. Olhei-a com certo espanto, mas assenti para que mandasse-o entrar logo depois que eu.
Deixei minha bolsa em seu lugar habitual, no sofá ao lado da porta da minha sala, e sentei-me soltando um longo suspiro. Virei-me para a janela, o céu estava cinza, como de costume, mas algumas nuvens escondiam raios de sol, fato que me dizia que o tempo mudaria em breve.
— Cônsul-geral, bom dia, é um prazer finalmente conhecê-lo. Ouvi coisas muito boas a seu respeito e tenho uma enorme admiração pelo trabalho do senhor. – Isso só podia ser brincadeira. Virei rapidamente minha cadeira e pude notar o espanto nos olhos dele ao ver que eu não era como ele esperava.
— Bom, acho que temos um mal entendido aqui. Você deve estar se referindo ao embaixador, porque nessa embaixada a única cônsul-geral sou eu. E como pode ver, não sou um senhor. – Podia sentir a vermelhidão crescendo em seu rosto. Ele ainda estava sem fala. — Caso deseje falar com o embaixador, precisará agendar com a secretária dele, senhor... – Dei-lhe a deixa para se apresentar, e após uma tosse em seco finalmente me deu o prazer em saber quem era.
— Jacob Wright. – Levantou-se para me cumprimentar – Peço-lhe perdão pela confusão que fiz, desculpe-me por qualquer infortúnio que possa ter lhe causado. – Assenti com a cabeça para dizer-lhe que estava tudo bem, e parei para notar o quão parecida sua aparência era com a de James Fraser, o maravilhoso herói de uma série em que eu estava viciada.
— Desculpe, mas porque você está me olhando assim? – perguntou um pouco constrangido.
— Não é por nada, apenas também não esperava que você fosse do jeito que é. Touché.
Me perdoe se for ousadia demais da minha parte, mas fiquei curioso para saber como a senhora esperava que eu fosse, já que já sabe como eu a imaginava.
Muito ousado para um novato, mas não me incomodaria em responder, pensei alto.
— Bom, esperava um homem baixinho, velho e gordo que provavelmente me faria sentir em posições inferiores à dele simplesmente pelo fato de eu ser uma mulher e ocupar uma função grande como a minha. – Ele engoliu em seco.
Comecei a perguntar-lhe porque gostaria que trabalhar ali e coisas do tipo até que meu telefone começou a tocar incessantemente. Era Kyle. Era quarta-feira. Era a apresentação do Ethan. Não precisei nem atender para me lembrar que havia esquecido mais uma vez de ir assistir meu afilhado.
Dei uma piscada pesada e soltei um belo "Puta que pariu". Agradeci mentalmente por Jacob não ter o português como uma das inúmeras línguas que falava.
— Pegue suas coisas. – Disse enquanto jogava tudo necessário na minha bolsa. Ele me olhou confuso, como esperado.
— Mas... Hm... Nossa reunião acabou? – Disse apreensivo, como se soubesse que não tinha ido bem.
Eu, já em pé ao lado da porta, apenas apressei-o para levantar-se logo e em um tom mais baixo do que o habitual, disse:
— Não, querido, ela nem começou ainda.
Lilly não entendeu porque eu estava deixando o escritório junto com ele, mas apenas assentiu quando lhe disse para desmarcar os outros compromissos que tinha para o dia.
Assenti para Jacob se sentar no banco do carona do meu carro, e saí rapidamente de lá. Ele ainda me olhava espantado, sem entender nada do que estava acontecendo.
— Olha, não sei como as outras reuniões com cônsules que você já foi foram, mas sei que essa será diferente de todas elas. – Olhei-o pelo espelho. Paletó branco combinando com o lenço também branco que aquecia seu pescoço. Com certeza seria um dia mais agitado do que eu imaginara ao acordar.

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⏰ Última atualização: Mar 28, 2016 ⏰

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