Ele deixou seus dedos escorregarem sob as cordas do instrumento, e com a habilidade que possuía, trocou rapidamente a posição em que estavam, fazendo com que seus ouvidos captassem a vibração melódica no ar.
Resmungou algo ininteligível, tocando o instrumento novamente para ter certeza do que ouvira. Praguejou algo obsceno, logo puxando o braço do violão para mais perto de si, para então alcançar sua extremidade. Girou uma das tarraxas, esticando a corda mais fina. Testou o som. Ainda não estava como desejado. Esticou então a segunda corda, atingindo outra nota mais grave.
De repente, um pensamento lhe trouxe ás risadas, logo um sorriso largo se formando em seu rosto. Lembrou-se de quando dedilhava cada fio de nylon daquele objeto de madeira, enquanto o outro imitava com uma voz engraçada cada nota musical emitida por ele. Aquilo lhe fez pensar na forma em que gostava daquele cara.
Não se deu conta quando percebeu que estava girando demais a tarraxa em seus dedos, logo o fio se esticando por completo e arrebentando-se na palma de sua mão.
— Merda! — gritou, odiando-se por ter se permitido ficar tão distraído. A dor lancinante, causada pelo sangue esvaindo-se de dentro da fenda aberta em sua mão, quase o fez arremessar o violão longe, mas logo lembrou-se do velho "inspire, respire", acalmando-se.
Foi até o banheiro, e estranhou-se por não ver ele em nenhum lugar próximo. Normalmente o outro estaria o espiando por trás de alguma porta com pretensões maliciosas, mas dessa vez, ele parecia estar sozinho.
Abriu a torneira. O jato de água se despejando sobre sua ferida causava-lhe gemidos irritados de dor. O líquido ardia na pele, aos poucos limpando o sangue. Examinou o corte, uma pequena curva que se estendia da extremidade da palma de sua mão direita até próximo de seu pulso, por pouco não atingindo uma das veias do mesmo.
Enxergou o diminuto espelho da pia à sua frente, sua extremidade esquerda trincada por uma recente briga dos dois. O rapaz se culpava demais pela forma que tratava o outro, mas também não se negava em concordar que aquele não era um relacionamento tão romântico assim. Subitamente assustou-se, vendo justamente a imagem dele, encostado diante da porta, através do vidro.
—Porra, que susto! — ele riu, nervosamente.
O outro riu também.
—Newt, você é um idiota — disparou o moreno, e por um segundo, ele temeu levar um soco após dizer isso.— O tempo que você desperdiça esses dedos rápidos tocando e se machucando, poderia estar enfiando eles na minha...
—Cale essa boca. — disse Newt, ríspido. Passou pela porta, esbarrando nos ombros de seu namorado. Por vezes, achava ridícula a forma em que considerava aquele adolescente magrelo um cara atraente.
—Não pode fugir de mim para sempre. — e Newt realmente desviava o olhar do companheiro enquanto Thomas dizia essas palavras. O rapaz estava sempre carregado de uma voz risonha que para Newt era a melodia mais irritante para seus tímpanos, porém era a que ele mais amava e apreciava. Mais do que sua música favorita. Mais do que a primeira música que aprendeu a tocar em seu violão aos doze anos. Mais do que a discografia inteira do Nirvana, a qual fora criada por, como dizia ele, um anjo suicida chamado Kurt Cobain.
—Você é doente, Tommy. Está louco, e completamente viciado em sexo. — falou o loiro, olhando naqueles olhos escuros que ele adorava se perder enquanto estavam na cama. Newt negava, teimava, e jamais concordaria se lhe afirmassem que ele também era um viciado em sexo. Mas ao contrário de Thomas, ele sabia se controlar e resistir, por mais que a tentação fosse forte. Ou pelo menos tentava.
—É assim que você vê o amor que eu sinto por você? —Thomas entonou a voz mais dramática possível, para Newt soando como um deboche. Quem sabe se estaria sendo sincero?
—Me poupe. —o outro comentou com um olhar cético flamejando Thomas, torturando-se ao ver o dono dos cabelos castanhos ficar cabisbaixo e entristecido.
—Eu te amo.— Thomas falou repentinamente, sua voz quase saindo muda, de tão esganiçada. O outro não ouviu. Ele apertou os lábios, logo em seguida os fazendo tremer, como um tique de um psicopata. Observou o dono dos cabelos loiros arruivados abrir a porta dianteira da casa, logo em seguida desaparecendo sob a chuva intensa lá fora.
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Nirvana // Newtmas
Fanfiction(nir.va.na) s.m. (substantivo masculino) 1. No budismo, estado de felicidade plena, obtido pela meditação. E se aquilo era verdade, Newt não queria aceitar. Numa relação turbulenta e cheia de altos e baixos, onde estará a paz? Thomas era s...