Lithium

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 As luzes. As luzes urbanas incendeiavam os olhos dele, absortos ao movimento urbano. Suas pupilas, perdidas com o reflexo dos faróis e postes, não sabiam o que encontrar. Ele sempre pensou que havia encontrado alguém para preencher seu vazio emocional. Newt pensava ser feliz apenas se satisfazendo com um e outro garoto, até que ele, o ele que alteraria o significado do que seria a vida para Newt, chegou.


  — Seu cadarço está desamarrado.  — disse o moreno, ao constatar os fios soltos do tênis na grama verde, situada no pátio do colégio. 

E daí? Eu não quero saber!  — gritou Newt, furioso porque, segundo ele, seus pais não o compreendiam nunca.  — Será que ninguém consegue me deixar em paz?! 

— Idiota.  — e Thomas se afastou, magoado.

  No mesmo dia, Newt encontrou o tal rapaz encolhido no chão do banheiro. Os joelhos de encontro a face, os ombros retraídos, e um soluço baixinho. Ele pensou em ignorar, mas seu coração não era tão insensível como parecia ser: ele ainda tinha sentimentos, mesmo que os mesmos se resumissem em repugnância certas vezes. Então ele se agachou, e tocando os ombros do mesmo, disse:
Ei, o que houve?
 Os olhos de Thomas, avermelhados e encharcados de lágrimas o fitaram, e ambos sentiram suas peles se arrepiarem minimamente após o olhar. Newt assustou-se. Thomas entristeceu-se ainda mais.
— O que você quer? — resmungou o moreno, em voz baixa.  — Não basta ter sido um grosso lá fora?

 Me desculpe, eu...

Sai daqui. 

— Desculpa. Eu fui um idiota mesmo, como você disse.

—  Então ouviu o que eu disse?  — Thomas engoliu em seco.

— Sim, mas...

—  Ai meu Deus - ele agachou seu rosto novamente, o rosto queimando de vergonha. - Eu que lhe peço desculpas, é que...

 — Não, tudo bem. — Newt sorriu, e as covinhas em sua face fizeram Thomas sorrir timidamente. — Me diga, por que estava chorando?

— Ah, é que... Nada, deixa para lá.

— Não, me fale. - insistiu o loiro.

— Não é nada importante, eu só...

— Fale, por favor! — Newt sacudiu os braços de Thomas e percebeu que eles estavam pegajosos. E os examinou. Sangue. Olhou a região dos pulsos dele, e notou as marcas horizontais que se estendiam até perto do antebraço. Algumas formavam cicatrizes.

Ele encarou Thomas, e mesmo estando um tanto assustado, disse:

—  Vamos até a enfermaria.

 E foram. Não havia ninguém lá dentro, e mesmo assim, Newt encheu os braços do garoto com band-aids e gaze, de uma forma meio que desajeitada. E o fez prometer que não mais se cortaria, pois agora estaria de olho nele.
Passaram o resto do dia juntos, entoando canções antigas de rock no violão de Newt, e comendo salgadinhos gordurosos.
E foi assim que começou. 

 Newt caminhava atordoado por entre as ruas escuras de seu bairro, faltavam poucos metros para que o homem chegasse ao mediano bar para o qual costumava fugir sempre que se deparava com algum tipo de conflito emocional em sua vida. Cerca de vinte passos foram o necessário para que o rapaz estivesse adentrando o estabelecimento escuro, o bar estava cheio, algumas pessoas dançavam em volta de um pequeno palco instalado precariamente ao centro do ambiente, a atração principal de hoje era uma banda que tocava orgulhosamente seu rock clássico, provavelmente no início de sua carreira, Newt acreditava que nenhuma banda que se prezasse aceitaria se apresentar ali. O primeiro instinto do homem foi encaminhar-se até o balcão que separava o bar do restante do estabelecimento, estabelecendo um limite para o barman circular e preparar suas bebidas rapidamente, este mesmo balcão batia na metade do torço do rapaz e Newt aproveitou sua altura para apoiar-se sobre ele antes de chamar pelo barman, pedindo um copo de whisky puro com um pouco de gelo.

Nirvana // NewtmasOnde histórias criam vida. Descubra agora