II

17 2 1
                                    

Quando eu tinha dez anos eu era a pessoa mais ingênua que podia existir. Minha mãe ficou grávida, esse irmão era tudo que eu queria, mas com o tempo passando e a barriga dela crescendo, eu comecei a odiar a ideia.
"Todos sabem o que você fez." Eu dizia para ela.
Pequena criança estúpida. Meus pais tiveram que me explicar que aquilo era perfeitamente natural, uma coisa linda, eu também fui feita assim. E um dia eu também vou fazer, todos fazem. Minha barriga irá crescer, as pessoas irão olhar e achar lindo, vão querer tocar e fazer a pergunta de sempre: "É menino ou menina?"

***
--O resultado dos seus exames já saíram, e pelo que eu vejo está tudo perfeitamente bem.-Diz o doutor Brunning sempre com o seu belo sorriso.

--Graças a Deus!

--David, não meta Deus na minha vida.-As palavras saem se arrastando da minha boca, ainda me sinto fraca.

--Tudo bem, Melanie.

--Como você ainda está fraca, acho melhor passar o dia aqui talvez a noite.

Ótimo, agora o médico bonito quer me trancar no hospital, á noite me levar para seu esconderijo secreto e fazer de mim sua escrava sexual.

--Nem morta!-Dei um pulo para fora da cama, e em um milésimo de segundo meu corpo quase se quebra ao chão. As mãos dele me seguram, os olhos... Ah, os olhos.

--Tem certeza? Você está fraca, Melanie. É para o seu bem, hoje é minha noite de plantão estarei aqui se precisar.-Ele lentamente me ajuda a subir na cama.

Finalmente! Estava começando a molhar a calcinha.

--Também acho melhor, filha. Você vai ficar.

--Okay, batalha perdida.

Quando a noite chega e a temperatura se vai, minha tia Marrie chega. Maldita mulher com a cara da minha mãe. Tenho apenas uma tia por parte de mãe, a solteirona sem filhos que adora viajar. Por parte de pai, Joseph, mais um pai do que um tio, ele tem um filho de dezenove anos, Bernardo e eu fomos criados praticamente juntos, o considero um irmão. E uma filha de cinco, Pietra é um anjo.
Joseph e sua mulher são separados, ela nunca foi uma boa mulher, mas ele a amava.

Depois de tia Marrie já ter ido embora, Joseph chegou com meu irmão, Edward, e Pietra.

--Mana, você 'tá bem?-Diz Ed enquanto pega minha mão.

--Vou ficar.-Sorrio.

Joseph está com os olhos vermelhos e rosto cansado. Ele me dá um beijo na testa e coloca Pietra ao meu lado na cama.

--E Bernardo?-Pergunto enquanto brinco com minha prima.

--Estava na faculdade, pegou um vôo de Londres para cá hoje cedo.-Concordei.

Conversamos mais um pouco mas logo avisaram que o horário de visitas já ia acabar. Só vou poder ver Bernardo amanhã. Sinto saudades.

***

Já era tarde da noite quando ouvi passos no quarto. Estava com as costas viradas para a porta, então não podia ver quem era. Mas logo ouvi sua voz.

--Melanie? Está acordada?-Olho para trás e vejo Bernardo. Pulo da cama e o abraço.-Caramba, Mel! O que você 'tava tentando fazer? Quase me matou.-Fala ele me apertando mais entre seus braços.

--Desculpa, Bê. Eu não 'tava mais aguentando. Você sabe, você sabe!-Lágrimas começaram a sair dos meus olhos e molhar a camisa dele.

--Eu sei, mas podia ter me ligado.

--Pra quê? Você está do outro lado do mundo, e você sabe que a sua ajuda é temporária. Tudo volta sempre volta, eu fico pior e sozinha.-Falo me soltando dos braços dele e elevando um pouco a voz.

--Me desculpa. Eu não...

--O que é isso? Melanie você está bem?-Era o Doutor Ricardo.

--Está tudo bem, doutor.

--Quem é você, você não devia estar aqui.-Ele falou se virando para Bernardo.

--Sou primo da Mel.

--Melanie, onde está seu pai?

--Saiu para fumar.

--Okay, eu já volto. Venha, você não pode ficar aqui, garoto.

--Tudo bem. Tchau, Mel.-Me deu um beijo na testa e seguiu o Ricardo.

Me deitei novamente na cama, e ouvindo o som dos aparelhos e meu estômago roncando, dormi.

FeelingsOnde histórias criam vida. Descubra agora