Ao amanhecer, fui acordada por meu pai dizendo que o médico já tinha me liberado. Coloquei a roupa que ele tinha me entregado e esperei o médico sentada na cama.
--Como se sente, Melanie?-Doutor Brunning coloca uma lanterninha na minha frente.
Cansada, faminta, com dor em meus ossos e músculos.
--Eu me sinto bem, obrigada.
--Tudo bem. Então... Você já está liberada. Sentirá minha falta tanto quanto sentirei a sua?-Ele dá um sorriso travesso.
--Com toda certeza.
--Ótimo. Você terá acompanhamento psicológico aqui no hospital, então nos veremos novamente.
Ele abre os braços, eu me levanto e o abraço. Minhas costelas sendo espremidas entre seus braços. Tão frágil.
--Quero manter o contato com você.-Fala baixo em meu ouvido.
--Eu estarei aqui.-Fico na ponta dos pés para poder falar em seu ouvido, beijo sua bochecha e me solto dele.-Vamos, pai?
--Vamos. Até mais doutor.-Apertam as mãos.
--Até.
Ao chegar em casa, me deparo com a mesma cheia. Tia Marrie, tio Joseph, Pietra, Bernardo, Edward, pessoas da escola -que no caso, eu nunca conversei-, amigos do meu pai, e outras várias pessoas que não conheço. Além das pessoas, havia muita comida, doces, salgados, refrigerantes e bebidas que com certeza continham álcool. Quando foi que eles tiveram tempo para tudo isso?
Garanto que foi coisa da tapada da Marrie, pela cara de bobo do meu pai.--Desculpa, a Marrie estava descontrolada.-Joseph diz me abraçando.
--Eu já suspeitava.
Depois de vários sorrisos forçados e abraços apertados. Fui até a cozinha e peguei um copo de água, enquanto bebia, ouvi passos lentos atrás de mim, mas que logo pararam.
Me virei lentamente e vi Bernardo encostado na bancada me observando.--Você está mais magra que da última vez, quanto está pesando?
--Muito.
--Quanto?
--46kg, nojenta como da última vez.-Larguei o copo já vazio sobre a pia.
--Como o seu pai ainda não percebeu? E nem Joseph?
--Meu pai é um idiota tapado e Joseph já me fez fazer exames.
--E...?
--Eu tenho os meus truques, não se preocupa eles não vão descobrir.
--É esse meu medo, Melanie. Quem vai te parar?
--Eu não quero que me parem, não quero que parem isso. Eu só quero ser perfeita, eu estou bem.
--Eu te conheço, sei que não está. O seu corpo está implorando por comida.
--Para! Você não entende.-Tentei sair da cozinha mas ele me impediu.
--Ele voltou, não é? Hein, Melanie? Aquele desgraçado está atrás de ti de novo.-Ele segurava meus ombros.
--Isso não é da sua conta.-Me soltei dele e subi as escadas em direção ao meu quarto.
Christopher é motivo de todos os meus problemas -é o que todos dizem-, mas, para mim, Christopher é o motivo da minha vida.
Nos conhecemos quando ele me atropelou, com sua bicicleta, na saída de sua casa, quando eu tinha 15 anos quase 16.
Ele me levou para dentro de sua casa, me colocou sobre a bancada da cozinha.--Tira a blusa.-Ele falou enquanto pegava algo dentro do armário. Eu obedeci.
Tinha algo nele que só de olhar me dava vontade de fazer o que ele pedisse. Talvez fosse seus olhos castanhos profundos, ou seu corpo malhado, ou as tatuagens que cobriam quase todo seu braço esquerdo.
Ele olhou para o meu corpo e começou a limpar os machucados.--O que fazia desse lado da cidade?
--Estava conhecendo, me mudei para cá a pouco tempo.
--Morava onde?
--Los Angeles.
--Tem algumas partes em Chicago que não são para garotas como você. Não venha mais para esses lados, a não ser que esteja acompanhada por alguém que conheça o lugar.-Ele falava de uma forma autoritária.
--Você podia me acompanhar.
--E quem te disse que eu sou o cara certo para isso?
--Bom, você mora aqui, e me deve uma depois de ter me atropelado.
Ele soltou uma gargalhada debochada.
Garoto petulante.--Se é assim, você terá que aguentar as consequências. Quantos anos você tem?
--Faço dezesseis mês que vem.
--Ótimo, vamos começar. És virgem?-Arregalei os olhos.-Vamos ter que mudar isso.
Nunca devia ter aceitado fazer as várias coisas que ele me mandou fazer, desde sexo, a roubar, fugir de casa, cheguei a todos os meus limites, e fiquei doente. Nunca fui a garota do corpo perfeito, e Christopher sempre fez questão de deixar isso claro.
Anorexia, Ana para os íntimos, minha nova amiga.
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Feelings
Teen FictionO que fazer quando não há mais nada a fazer? Como controlar esses sentimentos loucos que a cada dia crescem mais? E esses pensamentos? Será que mais alguém pensa assim? O que será que eles pensam? Queria poder virar uma pequena e nojenta mosca, ras...