O Grande Dia

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Há muitos anos pensava em começar uma história que marcasse a vida de muitas pessoas, pensava que minha vida poderia marcar muitas pessoas até mesmo mudar para melhor de alguma forma. Afinal é o que todos desejamos, todos querem ser marcados e marcar a vida de alguém. Quer saber qual é a ironia disso tudo?... Nem sempre as marcas são positivas, as coisas não saem exatamente como planejamos.

Hoje eu já não sei mais o que realmente pode marcar tanto a vida de uma pessoa a não ser suas próprias dores.Quer dizer, lembra de todas as coisas boas que você já viveu? Quantas realmente mudaram o seu jeito de pensar? Agora lembra de todas as dores que já sofreu... Acho que não preciso pergunta né.

Bem eu posso dizer que a vida conseguiu deixar marcas profundas através de minhas próprias dores e foi assim, que mais ou menos, a minha maior dor começou... Lá estava eu animada para meu primeiro show, quero dizer era o show da minha banda preferida e sim eu estava com todos os nervos à flor da pele desde que comprei meu ingresso ( já faziam seis meses) e sentia aquelas borboletas no estômago, sabe, como se fosse o primeiro beijo. Ou o primeiro dia no colégio, ai minhas mãos não paravam de suar e estavam geladas, e pior, eu não conseguia parar de rir. Só quem é fã vai me entender...

Na minha casa à dias não se falava em outro assunto afinal eu não deixava, tudo era em torno dos "New Boys". Nem sei dizer o quanto meu irmão me odiou por isso durante aquele ano.
- Chegou a hora de sair. Tchau pai, falou cabeção a gente se vê mais tarde (meu jeito carinhoso de chamar meu irmão)


- Não precisa voltar, se não quiser - disse o Teilor com aquela cara de deboche que só ele sabe fazer, enquanto abria o portão da garagem para minha mãe.

- Pegou o casaco? - Perguntou minha mãe já sempre preparada.

-Não, mas já to voltando pra buscar - desci do carro fui até aquele quarto onde só se via roupa em tudo quanto é canto, (nossa como isso estressava minha mãe).
-Vamos Tamy ta na hora, se não vier logo vou desistir de te levar em - era minha mãe gritando enquanto buzinava, parecia que estava mais ansiosa do que eu. Ela não estava falando sério, mas nem imaginava o Quanto me irritava quando ela brincava assim.
-Já to indo, para de show
Entrei no carro e lá fomos as duas, para nosso primeiro programa especial entre mãe e filha. Eu não estava atenta a essa parte, mas ela fazia questão de enfatizar o quanto estava animada para um passeio só nosso, "As mulheres da casa", como ela costuma dizer. Meu pai não ia, porque não gostava de show, e sempre disse que achava meu amor pelos New Boys uma veneração exagerada e não mereciam toda minha dedicação assim. ( Aff nossos pais inventam cada uma) Mais tudo bem não me importo com nada do que me falam a meses. Então ele ficou em casa com meu irmão mais novo o Teilor, (o qual já perceberam ser muito legal, estou revirando meus olhos enquanto faço esse comentário) para um programa especial de pai e filho.
-Ai meu Deus eu estou indo para o show, não posso acreditar, não posso, não posso. Era só o que eu sabia dizer, minha mãe ria e tentava me irritar de vez em quando com algumas alfinetadas do tipo:


- Será que eles vão estar lá? E se eles desistirem de entrar no palco na última hora? A filha deve ser horrível. (Nossa não acredito que tinha que ouvir isso da minha própria mãe) ela parou quando eu comecei a ameaçar um choro descontrolado dentro do carro.

- Nossa Tamy não posso nem brincar mais? Parece até que tem 15 anos eu em.
- Então, mãe, na verdade eu tenho quinze anos.
- Ou minha nossa é mesmo.
- Mãe como a senhora consegue ser tão chata?
- Eu chata? Está falando isso pra pessoa que ta te levando pro show dos seus sonhos?(Incrível, minha mãe sempre tem resposta pronta e perfeita pra tudo, como ela consegue?)
- Verdade, desculpa sabe que eu te amo né.
- Disse isso quando te entreguei os ingressos, não é só por isso né?
- Claro que não... Começamos a rir juntas.
Eram duas horas de viagem até o local do show, passamos o tempo revisando as músicas no som do carro, acreditem ou não minha mãe não queria chegar no show sem saber pelo menos algumas músicas. Ela achava que poderiam ter repórteres na rua que param os pais para entrevistar e queria dar um show se isso acontecesse. (Aiii meu Deus) ....

- Mãe; vou tentar dormir (mas só tentar mesmo porque conseguir era impossível), estou um pouco enjoada.
- iii você não está gravida né?
- Mãe por favor.
- Ei calma estou só brincando com você, sei que ainda é virgem! (Nossa la vem ela com as indiretas, tentando descobrir alguma coisa sobre minha vida amorosa). Fiquei calada e acho que isso assustou ela um pouco e antes que eu pudesse pensar na possibilidade de responder ela disparou.
- Quer dizer, Dérick e você só tem dois meses de namoro, você só tem quinze anos, não acha que está muito cedo? (Fico impressionada com a facilidade que a minha mãe tem pra falar sobre esses assuntos, será que ela não está percebendo a minha cara que neste momento deve estar vermelha como um pimentão, não consigo pensar em nada pra desviar o assunto.)
- Mãe, é serio eu não to bem preciso tentar dormir. sei que isso não iria ser o suficiente pra fazer ela parar então aumentei o volume do som do carro, fechei meus olhos e fingi estar pegando no sono com mais rapidez do que o normal. Sinceramente; não tenho nada pra esconder dela, afinal tudo o que ela disse é verdade, mas a ultima experiencia que tivemos nesse departamento não foi la das melhores, não mesmo, na verdade foi bem traumatizante.

Eu tinha 11 anos; acordei numa manhã com muita dor nas costas e uma vontade enorme de fazer xixi (nem acredito que eu estou contando isso pra vocês) devia ser umas sete horas, sei porque escutei o barulho do carro do meu pai saindo da garagem. levantei da cama e caminhei até o banheiro encurvada com uma mão nas costas e a outra na parede do corredor. (parecia a minha vó quando estava com os reumatismos dela) entrei, sem nem ao menos me preocupar em fechar a porta, sentei no vaso para tirar o pijama, tirei o shorts, olhei para minha calcinha e vi aquele aglomerado de sangue, nesse momento esqueci tudo o que eu tinha ido fazer naquele banheiro, vesti minha roupa e comecei a chorar e gritar pela casa que eu estava morrendo, (pode parecer insano agora, mas vão me entender uma hora) saí na direção do quarto dos meus pais, subi na cama e enquanto batia no braços da minha mãe eu gritava:
- Mae, por favor acorda, eu estou morrendo por favor levanta me leva pro hospital - Calma, Tamyná, calma - ( Bem se minha intenção era assusta-la, tinha conseguido, nunca vi olhos tão grandes na minha vida apontados para minha direção como aqueles agora).
- Pode se acalmar por favor, e me diz o que está acontecendo. seu tom era muito mais calmo que o meu, mas tinha uma firmeza na fala que me parou o desespero, quando estava me concentrando para falar, olhei para o lado e lá estava Teilor de pé na porta do quarto, com toda certeza tentando entender a cena que estava assistindo, então o silencio foi quebrado com a pergunta dele.
- Mãe, posso jogar? (Aff o que eu tinha na cabeça, claro que ele não tava nem aí pra mim.)
- Não, Teilor você já tomou seu café? - (Espera aí eu aqui morrendo e ninguém se importa, era o que passava na minha cabeça no momento) - que horas são? Volta pro seu quarto que eu já vou levantar.
O tempo que fiquei alí parada esperando alguém lembrar do meu sofrimento, me fez lembrar das dores que estava tendo antes e comecei a senti-las novamente, então me encolhi no lado que é do meu pai e segurei meus joelhos com os meu braços em volta, acreditando que seria aquela a melhor posição no momento. Meu irmão voltou pro quarto e minha mãe olhou pra mim..
- Agora me conta o que está acontecendo? Então eu repeti pra ela tudo o que havia acontecido, ela me olhava com um semblante alegre, o que me deixava confusa porque não sabia se estava levando a serio tudo o que eu tinha dito, e percebi que se segurou muito para não soltar algumas gargalhadas.
- Mãe, você ta entendendo o que está acontecendo?
- Sim, e a culpa é minha de você estar parecendo uma abestalhada agora, me desculpa filha, deveria ter tido essa conversa com você antes.
- Não sei do que a senhora está falando, mas estou com muita dor.
- A sim vamos dar um jeito nessa situação agora. ela levantou me medicou e eu entendi tudo quando ela puxou da gaveta do armário no banheiro do quarto dela um pacote de absorventes. ( nem posso descrever em palavras o quanto me senti retardada naquele momento)
- Tá, não precisa falar nada, eu sou uma besta mesmo eu sei
- Ei, calma claro que não, vai la tomar um banho, troca essa roupa e depois volta aqui pro meu quarto pra nós conversarmos.
- Preciso mesmo?
- Sim, se não quiser passar mais vexame como esse! revirei meus olhos e saí fazendo ameaças caso ela contasse para alguém sobre.... Não conseguia parar de pensar, o quanto tinha sido tonta, como não pensei nisso, não sou tão burra assim, dava graças a Deus por ter sido naquela hora em que eu estava em casa ainda. Tudo estava muito dramático ainda e não suportava a ideia de encarar minha mãe de novo, então demorei o quanto pude naquele banho.

ATÉ QUE ELE ME ENCONTROU!Onde histórias criam vida. Descubra agora