Capítulo 4 - Janisse Donn

104 22 28
                                    

Tudo ali cheirava a sangue, sexo e cigarro.

Estava amanhecendo. As marcas nas costas da garota a lembravam que ela não deveria desafiar seu mestre. Mas ela teria feito tudo denovo, apenas pra ver o amargor no rosto dele.

Não se batia no rosto do homem que pode foder com você. Literalmente. Os cabelos totalmente pretos estavam cinza de poeira, e ela dava graças a Deus que era só poeira. Suas costas ardiam. Ela fez esforço pra se levantar.

Sacudindo o corpo pra tirar a sujeira, pensou em quantos dias tinha ficado sem tomar banho. Provavelmente três. Ele não poderia a proibir disso, porque precisava que estivesse limpa pra que ganhasse dinheiro com o corpo dela, mas ele fazia. E ele acrescentava esses dias á dívida que ela tinha com ele, por ter cuidado dela quando criança.

Cuidado não era bem a palavra, já que ela estava em quartos com desconhecidos muito antes de saber porque o fazia. Ela não ficaria naquele inferno nem mesmo um dia mais. Sairia dali hoje. Nem que fosse morta.

O inferno parecia bem mais convidativo. Janisse foi encontrada, no meio do deserto, e criada por um dono de prostibulo, e quando parava pra pensar em sua vida, sentia dor. Além da dor física que lhe inflingiam também sentia a dor de ter sido poupada de um vida. Aquilo ali não era viver.

Os olhos verdes faiscavam de raiva enquanto ela tentava ver as próprias costas no espelho. Doía como o inferno, pelo esforço que estava fazendo pra se virar.

Ele iria pagar aquilo tudo.
Ela o faria pagar.
Só precisava sair dali, e pagar pra que o trouxessem até ela depois. Ela já imaginava como o mataria.
Depois de arrancar as costas dele com chibatadas, é claro.

Entrou pelo dormitório onde as outras como ela ficavam. Ele as enganava, prometendo mundos, e depois as trazia pra cá. Pra transar por dinheiro, e darem o lucro pra ele.

Porco nojento.

- Janisse! - Gritou Mércia, em pânico.

Janisse continuou alheia aos gritos. Ignorou a dor matadora em suas costas, andando de cabeça erguida.Ela não sentia nada além de dor mais.
Não era a primeira vez.

A primeira vez foi há 12 anos, quando ela tinha 7. Suas costas estavam abarrotadas de cicatrizes, mas desde que Mércia chegou, á 2 meses, ela não tinha apanhado.

Alguns tapas na cara e ordens dele pra que os capangas dele dessem um "jeito" nela, mas ele não tinha posta a mão no chicote. Ela mataria também os capangas dele. Tudo que ela tinha era sua raiva, e se ela não a tivesse, não sabia que se se sustentaria.

O primeiro "jeito" aconteceu um pouco depois da primeira surra com o chicote. E ela lembrava até hoje de como gritou pra que parassem.

Agora ela não dizia nenhuma palavra. Não os daria essa satisfação. Eles também iriam gritar quando ela os arrastasse, amarrados á um garanhão.

- Janisse, não finja que não está me escutando. - Grita Mércia. - Não deveria desafia-lo. Sabe que não pode vencer.

- Não vou deixar que ele pense que pode me controlar.

- Ele pode, Janisse.

- Vamos ver. - E ela entrou no cubículo sujo onde dorme.

- O que você vai fazer? - Perguntou a garota, em pânico.

- Vai vir comigo? Ou prefere ficar nesse prostíbulo de merda pro restante da vida?

- Eu... - Ao contrário de Janisse, que tinha a pele morena e os cabelos pretos, Mércia tinha apenas os cabelos pretos. Sua pele era branquíssima, o que deixava mais evidente as marcas de dentes e tapas. A garota parecia confusa.

Aquilo ali era uma grande área funda, na verdade um buraco enorme, de areia compacta e laranja, onde tinha, de um lado os dormitórios, e do outro o salão enorme. Em cima do salão ficavam os quartos.

Era bem afastado da cidade, o que a fazia pensar que Makael tinha bons contatos, já que aquela merda enchia.

- Deveria ficar, já que não consegue se decidir. - Disse Janisse, conseguindo o que queria.

As facas de madeira que tinha feito secretamente, quando era uma criança, tinha sido quebradas. Tentou arco e flecha, mas não era muito boa, e era muito grande. Chamava muita atenção. Mas ela nunca deixou de praticar com as facas. Essas agora eram novas. Sua lâmina era de um metal negro que ela desconhecia, mas cortava qualquer coisa. As últimas eram de um outro metal que encontrou. Não serviam muito, mas podiam atrasar. Infelizmente não tinham servido muito na sua última tentativa de fuga, 4 meses atrás.

Escondeu as facas no vestido rasgado. Dessa vez ela não iria falhar.

Ela teria que se esconder em algum lugar na floresta. Assim que fugisse dali, eles estariam na sua cola. Saiu dali, deixando Mércia boquiaberta.

E chegando a porta, olhou para cima. Para os 2 portões, que a fariam sair dali.

Já tinha tentado os dois. O mais fácil era o que estava á sua esquerda.

Qualquer um poderia dizer que era tolisse tentar fugir dali. E que era realmente suicídio tentar sair com as costas machucadas, mas ela sabia que só conseguiria naquele momento. O ódio queimava em suas veias. E ele a tiraria dali. Depois desse tempo, ela passou a perceber que quando ficava com raiva, coisas estranhas aconteciam.

Andou tranquilamente até o portão esquerdo, como se fosse apenas ir direto ao salão. Chegando perto, ao invés de virar na trilha de areia pisada que dava para o salão, ela correu na direção contrária. Em direção ao portão.

Á liberdade.

Os guardas levantaram suas espadas.
Dois deles estavam ali. Janisse atirou uma das facas, mirando a garganta do homem da esquerda. Sabia que não ia errar. Ela já tinha treinado isso nas ultimas... Quantas vezes mesmo? Seria provavelmente a vigésima terceira ou quarta. Ou talvez a vigésima sexta... Ela já tinha perdido a conta.

O homem da direita virou assustado pra ela enquanto o outro homem caia com a faca em seu pescoço. Jogou a segunda faca. Errou seu pescoço. Mas não era nisso que ela estava mirando. O homem soltou um grito de angústia quando a faca o acertou no olho esquerdo. Janisse correu. Como nunca. Os outros já estavam chegando.

Assoviou. Cruzou os dedos mentalmente. E lá estava ela. A coruja que sempre aparecia quando ela começava a assobiar, ou gritar.

Ela sobrevoava, imponente. Esperando uma ordem, parecia. Ela parecia uma louca. Achando que uma coruja a salvaria. Achando que poderia controlar uma coruja.

Mas ela realmente deveria estar louca, depois de tanto tempo ali.

Que ficasse louca de vez. Sua sanidade era a ultima coisa que ela tinha medo de perder. Olhou pra coruja esperançosa. E acenou com a cabeça. Os seus olhos verdes ficaram dourados por um momento.

Parece que o animal entendeu, porque a coisa mais surreal de sua vida aconteceu. Ali, naquele momento, os outros dois guardas que viam chegando mais perto foram atingidos por garras afiadas e mortíferas.

Janisse continuou sua corrida. Sem olhar pra trás. Nem uma vez. Abrindo o portão sem se preocupar em ser discreta. Todos já a observavam mesmo...

E continuou correndo muito tempo depois de ter passado pelo portão.

Oii gente, e aí o que acharam?
Bem baddasssss, né?
Sabe, eu estou misturando idéias. Então, meus personagens vão ser muito diferentes uns dos outros. Vou adorar ler e responder todos os comentários de vocês!

Votem também!!
Seu voto faz meu dia maravilhoso.

Beijos, queijinhos. 😘😘

Personagem nova no próximo capítulo também!!

This Is WarOnde histórias criam vida. Descubra agora